Um bate papo com Paulinho da Viola
Causos de um passado glorioso.
Os 70 anos de Paulinho da Viola começaram a ser comemorados no carnaval e seguem até novembro, mês em que ele nasceu (dia 12) e no qual cantará no Carnegie Hall (dia 28), em Nova York.
Nesta última sexta-feira, sua vida familiar, a carreira, dos momentos iniciais em que fazer música "era só festa" à profissionalização, as influências, pontos altos e baixos de sua trajetória foram abordados no depoimento rememorado pelo próprio, com o auxílio de amigos, à posteridade no Museu da Imagem e do Som - instituição que recolhe relatos de grandes artistas brasileiros desde 1966.
A procura por senhas para o pequeno auditório, onde couberam cerca de 70 pessoas, foi muito grande .
O público - fãs felizes por estarem tão perto dele - se surpreendeu com o lado contador de histórias de Paulinho.
A timidez e a modéstia estavam lá, mas ele se soltou ao recordar peripécias da infância ("fui o único menino da rua a ser pego pela radiopatrulha, o maior vexame da minha vida"), e também o motivo que o fez, em 1977, romper com a Portela, o que sempre preferiu não comentar: tudo se deveu a uma escolha de samba-enredo no esquema "cartas marcadas", seguida de declarações grosseiras por parte da escola, na linha "não precisamos dele".
Paulinho falou da relação com o violão, desde os 12 anos; do papel da batida de João Gilberto, à qual, como toda a sua geração, não ficou imune; dos festivais dos anos 60; do perfeccionismo extremo ("já deixei de cantar uma música por causa de um acorde"), e da dificuldade, até hoje, para escrever letra para melodia já pronta.
"Dá nervoso uma plateia pequena. Com plateia grande parece que não tem ninguém", confessou de cara. Sobre o ofício, disse que hoje não sente falta se fica sem tocar, cantar, ou compor. "Houve períodos em que pegava no violão todos os dias. Não faço mais isso."
A noção de que viveria daquilo viria só com o sucesso incrível de Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida, em 1970. "Não era tão conhecido e estava na Cinelândia num dia de carnaval quando veio um bloco de milhares de pessoas cantando a música. E eu doido para alguém dizer: 'Olha ali o compositor!'"
"Gosto de recordar, é uma maneira de sentir", disse, ao fim.
Paulinho e Ruy Fabiano negociam com a Cosac Naify uma biografia que conte isso tudo em mais detalhes.
Maiores sucessos: Dança da solidão, Foi um Rio que Passou em Minha Vida, Argumento, Guardei minha viola e Nada de novo, entre outros.
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