Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

11 de novembro de 2015

Museu de Arte Contemporânea de Bolzano, Itália



"Onde estamos indo dançar esta noite?" (obra reinstalada) - Goldschmied & Chiari - Museu de Arte Contemporânea de Bolzano.

Faxineira confunde obra de arte com sujeira pós-festa e 'faz limpeza' no Museion Bozen-Bolzano - Museu de Arte Contemporânea de Bolzano, Itália.


Uma obra de arte foi restaurada após ser confundida com sujeira e removida por uma faxineira em Bolzano, no extremo norte da Itália.

A funcionária do Museu achou que o trabalho chamado "Onde vamos dançar esta noite?", se tratava de uma bagunça deixada por uma festa realizada no local na noite anterior. A faxineira "limpou" o local e jogou todo o material fora.

A obra, exibida no Museu de Arte Contemporânea de Bolzano, é composta por bitucas de cigarro, garrafas vazias, confetes e um globo de espelhos.



Também conhecido como Museion Bozen-Bolzano, o espaço refez a instalação após obter o aval do duo Goldschmied and Chiari, artistas de Milão responsáveis pela obra. Segundo as artistas, os faxineiros do museu tinham separado os materiais para a reciclagem, o que possibilitou a remontagem.
 
A diretora do museu Letizia Regaglia, em declaração, disse que a equipe de limpeza foi avisada sobre o conteúdo da obra. "Dissemos a eles para apenas limpar o foyer, local que abrigou a abertura da exposição. Evidentemente, eles se confundiram".

Segundo seus idealizadores, a obra tem o objetivo de representar o hedonismo e a corrupção política vividos na década de 1980.


O espaço limpo após a "faxina".

De forma bem humorada, o museu disse que "teve má sorte com a nova faxineira" e pediu desculpas aos visitantes pelo incidente. A exibição foi reaberta logo em seguida ao acontecimento.

Um acidente similar ocorreu em Bari, no sul da Itália, em fevereiro do ano passado. Uma faxineira jogou fora trabalhos que faziam parte de uma instalação da galeria Sala Murat.



Detalhe da obra jogada fora na Sala Murat em Bari - Itália.

Segundo a empresa responsável pelo serviço de limpeza do local, a faxineira confundiu as peças, feitas de jornais e cartões, com lixo. Ela disse à época que estava "apenas fazendo seu trabalho".

O Museu de Arte Contemporânea de Bolzano já tem o tema do próximo evento da série. "Arte ou Lixo?".

Sobre "Onde vamos dançar esta noite?"


O trabalho de Goldschmied & Chiari descreve os restos que sobraram de uma festa acabada, uma metáfora, vista como a época de especulação financeira, do consumismo, televisão e partidos de massa - em suma, da abundância italiana. O título é inspirado pelo guia escrito pelos clubes políticos da península e pelo ministro das Relações Exteriores - na ocasião, Gianni De Michelis - com prefácio de Gerry Scotti. 


"Arte nutrientes" é o título da exposição, que envolve vários museus e instituições italianas, com o apoio da EXPO 2015.

Para a intervenção em Bolzano, Goldschmied & Chiari concentraram-se na época de abundância na Itália nos anos oitenta. Assim, nasceu a obra, uma metáfora da década, representada através da realização de um final de festa. "Os anos oitenta são para nós o estágio da infância, foi a era do consumismo, o hedonismo, a especulação financeira, a TV de massa, a política e os partidos socialistas". A instalação foi criada na casa estúdio do Museion.

"Onde vamos dançar esta noite?". É visível apenas no fechamento do museu, nas horas escuras, do crepúsculo ao amanhecer. O visor mostra o termino de uma festa abandonada como os restos de um banquete rico:. Escombros da abundância.


A nova instalação é a continuação do trabalho  "Genealogia da Damnatio Memoriae", de 2009, já presente na Museion.


A obra é composta por magnólias plantadas no jardim em frente ao Museu (lado Talvera). A casca é esculpida com as datas e locais de eventos históricos e violentos que ocorreram entre 1969 e 1980, na Itália, como o massacre de Piazza Fontana em Milão. Genealogias esculpidas na casca termina em 1980, assim como a era da abundância italiana começa nos anos oitenta. Condensada em uma visão amarga retratada pelas artistas. 



Sobre as artistas Goldschmied & Chiari

Sara Goldschmied (1975) e Eleonora Chiari (1971) formaram uma parceria em 2001, em Milão.

Goldschmied e Chiari trabalham com diferentes meios de comunicação, tais como fotografia, vídeo e instalação. Eles alcançaram reconhecimento internacional através de inúmeras exposições, colaborando com instituições de prestígio e museus na Itália e no exterior.

Participaram da Bienal de Veneza em 2009, Dublin Contemporânea, Bienal de Berlim, Vídeo Bienal de Tel Aviv, entre outras. Em 2012 ganharam o prêmio de melhores jovens artistas italianas do Museu de Arte Contemporânea de Castelo de Rivoli para a Fundação Rockefeller Bellagio Centro de Artes Criativas e muitos outros.


 






 

4 de novembro de 2015

"As Meninas" de Velázquez



"La Familia de Felipe IV" ou "Las Meninas" - Óleo sobre tela - 3,18 x 2,76 mts. - Pintura Espanhola - Séc. XVII - Diego Velázquez

"As Meninas", (1656) pintada por Diego Velázquez, o principal artista do Século de Ouro Espanhol. Atualmente no Museu do Prado em Madrid.
 
A composição enigmática e complexa da obra levanta questões sobre realidade e ilusão, criando uma relação incerta entre o observador e as figuras representadas. Por essas complexidades, "As Meninas" é uma das obras mais analisadas da pintura ocidental.

Pintado por Velázquez durante sua fase chamada "La Familia", onde o artista representava cenas do cotidiano. Na cena, a jovem Margarita, da Áustria, encontra-se cercada por sua pequena corte de damas e empregados. Não é um quadro estático, mas uma cena em movimento, onde os reis encontram-se refletidos no espelho, fazendo pose, exigindo mais um retrato de Velázquez que, empertigado frente ao grande cavalete (à esquerda) simula copiar o casal de soberanos. É o último e mais belo de todos os seus auto-retratos.
 
 
Infanta Margarita, da Áustria

A cena transcorre dentro de uma estância do Alcázar de Madri, decorada com uma série de quadros. Os personagens se agrupam em um primeiro plano juntamente com a figura principal, a infanta Margarita, que ocupa a parte central do grupo; a seu lado, Isabel Velasco e Agustina Sarmiento - "As meninas" - junto a esta última os irmãos María Bárbola e Nicolás Pertusato perto de um mastím que descansa com os olhos cerrados.

Atrás deles, na penumbra, aparecem Marcela de Ulloa e, segundo algumas fontes, Don Diego Ruiz de Azcona. À esquerda encontra-se a figura de Velázquez com seus instrumentos de trabalho diante de um grande cavalete que ocupa o ângulo do quadro.



No fundo da habitação, junto a uma porta aberta, encontra-se Don José Nieto de Velázquez, camareiro da rainha, que é o centro perspectivo da obra. Ressalta na parede de fundo um espelho onde aparecem refletidas as figuras dos reis Felipe IV e Mariana da Áustria.

Esta pintura, ficou nas dependências do Alcázar de Madri até o incêndio de 1734.
Veio para o Real Museu de Pintura e Escultura (atual Museu do Prado) no começo do século XIX, com obras procedentes da coleção real.

A pintura teve vários nomes, mas no Museu do Prado, no catálogo redigido por Pedro de Madrazo, em 1834, a obra foi chamada pela primeira vez "Las Meninas" - expressão de origem portuguesa com que se designava as acompanhantes de crianças reais no século XVII.

A harmonia e a disposição das figuras é perfeita, a luz que banha a sala parece difusa, refletida, como deveria ser a luz para a execução de uma boa pintura. O clima é tranqüilo e a menina, a princesa, ainda muito jovem, com cinco anos aproximadamente, está muito concentrada em algo externo ao quadro, a ponto de negligenciar o gesto da dama de honra que lhe oferece algo para beber.

A pintura foi terminada em 1656, data que encaixa com a idade que aparenta a infanta Margarida (aproximadamente cinco anos). Filipe IV e Dona Mariana costumavam entrar com frequência na oficina do pintor, conversavam com ele e às vezes ficavam bastante tempo vendo-o trabalhar, sem protocolo algum. Isto era algo muito repetido na vida normal do palácio e Velázquez estava acostumado a estas visitas.

O lugar onde trabalhava Velázquez era uma sala ampla do piso térreo do antigo Alcázar de Madrid que fora o aposento do príncipe Baltasar Carlos, falecido em 1646, dez anos antes da data de execução de "As Meninas". É precisamente este aposento que aparece retratado no quadro.

Conversa informal

Recentemente estive em Madri e visitei o Museu do Prado onde pude apreciar de perto essa enorme e impactante obra. Única, ocupa uma sala repleta de intenções, desejos e mistérios. Caravaggio! Sim, ele  está ali, um auto retrato em meio a sua mais fantástica obra. Podemos ficar horas apreciando, tentando entender, deleitando. Maravilhosamente indescritível!

Assista ao vídeo