Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

20 de agosto de 2012




Obras de Bispo do Rosário que dialogam com esportes são exibidas em Londres




 Curador Wilson Lázaro escolheu 80 obras que mostram a faceta esportista do artista




Um artista em constante movimento. Atento às marés que movem as paixões humanas mesmo internado em um manicômio (a Colônia Juliano Moreira, no Rio).

Em uma época em que TV era artigo de luxo, Arthur Bispo do Rosário teceu faixas de misses, simbolizando a representação dos países diante da competição entre as mais belas do mundo. Criou também barcos a vela, tacos de golfe, mesas alvo, raquetes de tênis, argolas de ginástica olímpica, entre outros "artigos esportivos".

Não é por acaso que a grande exposição dedicada a um artista brasileiro pelo Victoria & Albert Museum, para celebrar os Jogos Olímpicos de 2012, escolheu Bispo do Rosário para representar o Brasil. 




Bispo também será  homenageado na Bienal de São Paulo, a partir de 7 de setembro. "A Bienal conta com 340 obras dele. Destas, sete foram restauradas. Cinco são inéditas. E uma das inéditas, um carro, com revistas, foi a grande surpresa", conta o curador. "Junto com suas obras foram encontradas revistas pornôs. Isso muda tudo. As pessoas sempre o colocaram como uma pessoa assexuada, que só teve um amor platônico. Mas a revista estava dobrada em determinadas páginas. Sinal de que foi lida sim."

Na maior exposição que ele já ganhou no exterior, parte da programação do London 2012 Festival, que levou à capital inglesa a obra de artistas de todo o mundo para celebrar os Jogos Olímpicos, o que o público do mundo todo está vendo é exatamente esta faceta esportista de Bispo do Rosário.

Foi este recorte de 80 obras que o curador Wilson Lázaro, do Museu Bispo do Rosário, escolheu para levar a um dos mais importantes museus da Europa.

"A obra do Bispo se renova por ela mesma. Não tem uma data, nenhum nome. Ele sempre esteve em movimento. Mais que isso, foi um esportista na vida, campeão de boxe, praticante de exercícios físicos quando integrou a Marinha. O esporte e o movimento sempre fizeram parte de seu imaginário e de suas obras", conta Lázaro, que desde o dia 4 de agosto, trabalha diretamente no V&A para cuidar da exposição, que teve sua abertura para o público no dia 13 do mesmo mês.

Depois de 28 de outubro, a mostra segue para Lisboa.



Obras de Arthur Bispo do Rosário




Detalhe de obra de Bispo do Rosário que vai à Bienal




Máquina de fazer cabelo (Detalhe) – bordado sobre tecido


Inédito também é o fato de a exposição no V&A não ter um catálogo. Em vez disso, o livro Arthur Bispo do Rosário - Século XX, com organização de Lázaro, vai ser relançado, com 26 obras novas, e texto de Luis Pérez-Oramas, curador da Bienal.



Curiosidades

Bispo era assexuado, mas suas anotações obsessivas dos nomes das estagiárias da enfermaria e sua coleção de revistas pornográficas provam o contrário.

Bispo também nunca tomou remédios e tinha total consciência de sua condição de paciente mental, chegando a ironizar a psiquiatria.

Cadernos do artista encontrados no acervo mostram anotações detalhadas de sua rotina no manicômio. Ele narra conversas com enfermeiros, dá detalhes de uma ferida no dedo, cataloga notícias de jornal --em especial sobre crimes-- e mantém um extenso inventário dos materiais que conseguia traficar para o hospital ao criar suas peças.

Uma das obras mais enigmáticas do artista, um estandarte em que ele borda um texto religioso, foi descoberta agora.




"Todos achavam que isso fosse um delírio, mas é uma propaganda", diz Lázaro. "Ele tinha um pensamento para fazer a obra, olhava para a imprensa como fonte de realidade para tudo."

Essas descobertas recentes reforçam a reabilitação de Bispo do Rosário, que aos poucos perde a aura de louco e ganha o reconhecimento de um artista contemporâneo singular de sua época.

Sua caixa de música, um estojo de madeira cheio de papel picado, em que a canção seria o som do papel soprado no ar, lembra a arte conceitual. Seus papéis de bala são precursores de Beatriz Milhazes. Seus estandartes feitos de fórmica colorida lembram o construtivismo.

"Nossa sociedade precisa da loucura para se excluir dela", diz Pérez-Oramas. "Mas nesse ato de exclusão, acaba exibindo a sua própria imagem".


Frases do Bispo.

"Ainda sinto muita loucura... mas sobre todos os pontos de vista vou cada dia, cada vez melhor!"

"Eu não quero me libertar totalmente da loucura porque eu quero ter o direito de dizer o que penso!"

Arthur Bispo do Rosário viveu recluso por meio século devido ao diagnóstico de esquizofrenia-paranóide e morreu a 20 anos, mas sua obra atravessou os muros da instituição psiquiátrica e obteve reconhecimento.













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