Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

31 de agosto de 2016

Instituto Inhotim - o maior museu de arte a céu aberto do mundo






Instituto Inhotim.


Algumas semanas atrás tive o prazer de visitar o maior museu de arte a céu aberto do mundo. Posso dizer que se trata de algo grandioso, maravilhoso e surpreendente. Muitos de nós já vimos um jardim de esculturas, um museu dentro de um parque, ou algo parecido, mas a dimensão do local e a relação das obras com o espaço, fazem da visita a Inhotim uma experiência singular.

No caminho entre uma galeria e outra, você descansa a vista, a mente e vai admirando o paisagismo e sentindo o aroma da vegetação natural que o local oferece. O visitante tem tempo para refletir, assimilar o que viu, ouviu e seguir para a próxima galeria na expectativa de explorar novas ideias, novos conceitos.



As jardineiras elétricas (carrinhos) levam os visitantes até as obras mais distantes, caso queiram, e o passe para utilizar o serviço deve ser comprado na recepção.




Foi no Vale do Paraopeba, a cerca de 60 km de Belo Horizonte, Minas Gerais, no ano de 1980, que o empresário Bernardo Paz idealizou um projeto que visava unir a natureza e a arte num só espaço. Assim surgiu o Instituto Inhotim.




O projeto, que une arte contemporânea, jardim botânico, políticas de inclusão e cidadania, atraiu a atenção de artistas renomados de todo o mundo e conquistou ninguém menos que Roberto Burle Marx, o artista plástico e arquiteto paisagista brasileiro renomado internacionalmente. Burle Marx sugeriu e inspirou ideias para a elaboração de algumas áreas do Instituto entre os anos de 1990 a 1994. Hoje, Inhotim é destino de turistas do Brasil e do exterior.




O complexo reúne um jardim botânico, obras de arte contemporânea e alta gastronomia, aliados a iniciativas educacionais. O Instituto é ideal para um passeio em família, casais ou grupo de amigos, para relaxar, ver obras de arte de artistas do cenário mundial ou simplesmente almoçar em um lugar incomum. Inhotim é ideal para qualquer programação. Sua infraestrutura agrada até mesmo quem não é amante da arte.





Jardim Botânico

São 97 hectares ocupados por uma das maiores coleções de palmeiras do mundo, com mais de 1.400 espécies. Outras variedades botânicas se desenvolvem pelo parque onde se destacam as Aráceas, uma coleção de orquídeas da espécie Vanda. Innhotim é  excelente ambiente para passeios ao ar livre, meditação e relaxamento em um local onde se pode apreciar a beleza de sua natureza harmônica e preservada.




A natureza exuberante abraça um acervo com mais de 500 obras de artistas reconhecidos mundialmente como Adriana Varejão, Helio Oiticica, Cildo Meireles, Chris Burden, Matthew Barney, Doug Aitken, Janet Cardiff, entre outros.




Galeria Adriana Varejão - 


A obra "Charques" (acima, à direita), é uma escultura onde a arquitetura se associa ao corpo e a matéria de construção se torna a carne. Na obra "Saunas" (abaixo, à esquerda), a artista faz uso de uma palheta quase monocromática para criar um labirinto interior idealizado com jogos de luz e sombras. A obra "Celacanto Provoca Maremoto" (abaixo, à direita), é uma articulação entre a pintura, escultura e arquitetura, revisitando elementos e referências históricos e culturais. Vale-se do barroco e da azulejaria portuguesa como principais referências.



“Beam Drop” (Queda de Viga) - Chris Burden


É uma escultura de grandes dimensões que ocupa o alto de uma montanha e que se relaciona de maneira marcante com seu entorno, criando uma visão épica em meio à paisagem. Foi feita com a ajuda de um guindaste que "despejou" vigas de ferro em uma piscina de cimento fresco.

O diferencial do Inhotim não está apenas em conjugar arte e lazer ao ar livre. Além de fomentar a cultura, o Instituto tornou-se um dos únicos espaços para a instalação de algumas categorias de obras de arte.


Entre instalações permanentes e exposições temporárias, espaços abertos e galerias, o espaço museológico de Inhotim propõe aos visitantes uma experiência única devido a ausência de um roteiro linear. Cada grupo decide seu percurso e espaços de visitação por meio de trilhas que passam por todo o local.



"Abre a Porta" - John Ahearn e Rigoberto Torres

O mural "Abre a Porta" mostra uma procissão religiosa, solene e fervorosa, que acontece anualmente junto à igreja situada em Inhotim, no mesmo local, em frente ao mural.

Inhotim também é o cenário onde se desenvolvem pesquisas, projetos paisagísticos e outros estudos em parceria com órgãos governamentais e privados. Responsável também por grande parte do desenvolvimento socioeconômico do município, o Instituto promove iniciativas como aulas de iniciação musical e artística para crianças e jovens da região, além de outros projetos sazonais. Já quando o assunto é educação, Inhotim oferece visitas orientadas e programas como o Museu em Atividade, em que são desenvolvidas pesquisas referentes aos processos de mediação e elaboração de projetos para oportunidades educacionais com o apoio de arte-educadores.



Algumas das obras expostas




Galeria Cildo Meireles - "Desvio para o vermelho - Impregnação".

"Desvio para o Vermelho - Impregnação" é um dos trabalhos mais complexos e ambiciosos do artista – concebido em 1967, montado em diferentes versões desde 1984 e exibido em Inhotim em caráter permanente desde 2006. Formado por três ambientes articulados entre si, no primeiro deles (Impregnação), nos deparamos com uma exaustiva coleção monocromática de móveis, objetos e obras de arte em diferentes tons, reunidos “de maneira plausível mas improvável”.




Galeria Lygia Pape - "T-teia"

A instalação, é o resultado das experiências que Pape iniciou em 1977 com seus alunos da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, com fios dourados, finos e esticados. A iluminação especial cria um efeito diferente a cada ângulo de observação da obra em meio à natureza.




Galeria Tunga - "Lézart"

Em "Lézart" (lagarto, em francês), tranças e pentes são os principais elementos da obra. Não há solda entre as chapas de ferro e o arame. Suas partes são conectadas pela atração dos ímãs e são estruturas que se sustentam por si mesmas, negociando entre as forças da gravidade e magnética.




Esculturas em bronze - Edgard de Souza

As esculturas são parte de uma série em bronze fundido. A obra foi desenvolvida pelo artista ao longo da década de 2000. Elas representam uma figura masculina nua baseada no corpo do próprio artista e poderiam ser consideradas autorretratos, não fosse a ausência do principal elemento de identificação de um retrato: o rosto. 



"Narcissus Garden Inhotim" - Yoyoi Kusamo

No total são 500 esferas de aço inoxidável que flutuam sobre o espelho d'água do Centro Educativo Burle Marx, criando formas que se diluem e se condensam de acordo com o vento e outros fatores externos, refletindo a paisagem de céu, água e vegetação, além do próprio espectador, criando, nas palavras da artista, "um tapete cinético", refletindo toda a natureza ao seu redor.

O Instituto Inhotim é um ótimo lugar para passear com a família. O local agrada a todos, sejam crianças, adultos ou idosos. A estrutura para receber os turistas é excelente, o estacionamento é ótimo, mapas são disponibilizados gratuitamente, banheiros são facilmente encontrados, o espaço conta com diversos restaurantes. Os funcionários são  treinados e estão espalhados pelo parque ajudando os visitantes a se localizarem e a encontrarem as obras e galerias.

De tudo o que vi, o que mais me impressionou foi a galeria da fotógrafa brasileira Claudia Anduja. Em breve apresentarei uma matéria sobre a artista e sua obra.


Serviço

Instituto Inhotim

Onde: R. B, 20 - Centro, Brumadinho - MG

Quando: Fechado às segundas. De terça a sexta das 9:30h às 16:30h - sábados, domingos e feriados das 9:30h às 17:30h

Quanto: às terças e quintas-feiras, R$ 25,00. Às quartas-feiras (exceto feriado) a entrada é gratuita. Às sextas, sábados, domingos e feriados, R$ 40,00. Meia entrada para crianças de 6 a 12 anos e idosos acima de 60 anos. Entrada gratuita para Amigos do Inhotim e crianças de até 5 anos.

www.inhotim.org.br

Assista ao vídeo.





24 de agosto de 2016

"Renoir e intimidade" no Museo Thyssen-Bornemisza em Madri.



"Auto-Retrato" - 1875 - óleo sobre linho - Pierre Auguste Renoir -
Sterling and Francine Clarck Art Institute - Williamstown, Massachusetts - EUA

Pierre Auguste Renoir
foi um personagem central no desenvolvimento do movimento impressionista. Artista francês, tornou-se um pintor de porcelana na oficina dos irmãos Levy e seu interesse pela pintura o estimulou a fazer visitas regulares ao Museu do Louvre, onde começou a copiar as obras dos mestres clássicos dos meados dos anos 1860. Em 1861, participou de aulas de desenho ministradas por Charles Gleyre e em 1862, foi admitido na École des Beaux-Arts, embora continuasse a frequentar o estúdio de Gleyre, onde teve contato com Claude
Monet, Alfred Sisley e Frédéric Bazille. Juntos fizeram passeios para a floresta de Fontainebleau e logo o artista foi atraído pela pintura plein air.


"Girl in Blue" - 1862 - Pierre Auguste Renoir

Sua primeira obra, exposta foi "Esmeralda" em 1864. No entanto, nos anos anteriores, o artista teve várias de suas obras rejeitas em salões, o que o levou a expor no Salon des Refusés (Salão dos Recusados). Após um intervalo em que foi chamado para lutar na guerra Franco-Prussiana, Renoir mostrou seu trabalho na primeira exposição impressionista de 1874. Durante os anos seguintes, até o fim da guerra, o artista passou alguns períodos com Monet em Argenteuil, onde os artistas criaram paisagens no estilo impressionista.


"Portrait de William Sisley"
- 1864 - Pierre Auguste Renoir

Nos anos de 1877 e 1878, suas obras foram admitidas no Salon oficial. Foi uma grande mudança em sua vida e coincidiu com uma crise criativa do artista que cortou ligações com o impressionismo. As suas composições tornaram-se mais equilibrada e Renoir atribuía maior importância ao desenho. Em uma viagem pela Itália, o artista se sentiu especialmente atraído por Raphael, o que tornou-se evidente em suas novas obras, nas quais banhistas eram um dos temas mais recorrentes. Renoir viajou muito dentro e fora da França, em busca de novas fontes de inspiração, visitou museus de muitas cidades europeias, como Dresden, Londres e Madrid. Por volta de 1900 a fama de Renoir tinha se espalhado e sua reputação foi estabelecida como a de um grande artista.


Estudo para "Nú à luz do sol" - 1875/6 - Museu D'Orsay, Paris.

Com o passar do tempo, sua saúde ficou comprometida com problemas reumáticos. Renoir mudou-se para uma pequena cidade no sul da França, Cagnes-sur-Mer, onde comprou uma casa, que mais tarde se transformou no Museu Renoir. Com o passar do tempo, viu-se obrigado a parar de pintar.


Sobre a exposição "Renoir e intimidade" no Museo Thyssen-Bornemisza - Madri, Espanha


Museu Thyssen-Bornemisza - Madri, Espanha

O cineasta Jean Renoir escreveu que seu pai "olhou para as flores, as mulheres, as nuvens do céu, e através de sua obra, proporcionou ao outro a sensação de tocar e acariciar". Confrontado com a concepção usual que reduz o impressionismo a "visualidade pura", a exposição que será apresentada no Museu, no outono de 2016, destaca as sensações centrais, lugares táteis nas pinturas de Pierre-Auguste Renoir, que podem ser vistos na diferentes fases de sua carreira e em grande variedade de gêneros, tanto em cenas de grupos, retratos, nus, naturezas-mortas ou paisagens.

São mais de 70 obras do artista francês, vindas de museus e coleções em todo o mundo. Os materiais e texturas usados nas obras, servem para captar a intimidade em suas várias formas: sociais, amigáveis, de família ou eróticas, criando ligações imaginárias entre a obra e o espectador com a sensualidade da pincelada e a superfície pictórica.

Algumas das obras que serão apresentadas.



"Mulher com um para-sol em um jardim" - 1875 - óleo sobre tela - 54,5 x 65 cm - Museu Thyssen-Bornemisza, Madrid .

Em "Mulher com um para-sol em um jardim", a linguagem de Renoir é totalmente impressionista. Em um ambiente sem o horizonte visível, as flores e arbustos foram criados com pequenas pinceladas de cor, proporcionando um entrelaçamento constante de texturas em torno das duas figuras pequenas. A mulher, com o para-sol, está perto de um homem inclinado para baixo, talvez para pegar uma flor, insinuando um relacionamento íntimo. Ao contrário do que se possa pensar, esta tela não foi pintada no campo, e sim no jardim do novo estúdio do artista, em Montmartre. Seu amigo George Rivière recordou: "Assim que Renoir entrou na casa, ficou encantado com a vista do jardim, que parecia um parque bonito e abandonado". 



"Campo de trigo" - 1879 - óleo sobre tela - 50,5 x 61 cm - Coleção Thyssen-Bornemisza

Esta paisagem mostra um campo de trigo perto de Wargemont, na Normandia, onde Renoir passou vários verões na propriedade de seu amigo e patrono, o banqueiro Paul Bérard.

Como paisagens anteriores de Renoir, esta obra foi pintada ao ar livre, em uma ou mais sessões. O campo de trigo, as árvores à esquerda, o monte ao fundo e o céu foram criados com grandes massas claras e escuras, usando cores diluídas. Os destaques foram obtidos com pinceladas adicionais de cores diferentes. "Wheatfield" (Campo de trigo) foi pintada num momento em que o sucesso inicial da Renoir lhe rendia inúmeras encomendas de retratos.

"Campo de Trigo" se destaca por sua simplicidade e pela rejeição contundente dos detalhes pictóricos.



"La Promenade"  (A Caminhada) - 1870 - óleo sobre tela - 81,3 x 64,8 cm - J. Paul Getty Museum - Malibu, Califórnia, EUA

Pintada em 1870, a obra "A Caminhada" representa um casal de classe média de Paris, retratado em um ambiente natural ao invés de um estúdio. O uso da luz filtrada pela folhagem se converteu em uma das características principais da obra de Renoir.

A exposição "Renoir e intimidade", no Museo Thyssen-Bornemisza, em Madri, estará aberta ao público de 18 de outubro de 2016 a 22 de Janeiro 2017.












17 de agosto de 2016

MNAA - Museu Nacional de Arte Antiga - Lisboa - Portugal



Fachada do MNAA - Museu Nacional de Arte Antiga - Lisboa, Portugal



O MNAA - Museu Nacional de Arte Antiga, criado em 1884, é o mais importante museu de arte dos séculos XII a XIX de Portugal. Tem como acervo, a mais relevante coleção pública de arte antiga do país, entre pinturas, esculturas, ourivesarias e artes decorativas, da Europa, África e Oriente.

Com mais de 40.000 itens, o acervo do MNAA compreende o maior número de obras classificadas como “tesouros nacionais”, além de obras de referência do património artístico mundial.



Sala de exposições do Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.

Herança da História (com realce para as incorporações dos bens eclesiásticos e dos provenientes dos palácios reais), a coleção do Museu Nacional de Arte Antiga foi sendo engrandecida por generosas doações e importantes compras, ilustrando, em patamar de objetiva excelência, o que de melhor se produziu ou acumulou em Portugal, nos domínios acima enunciados, entre a Idade Média e os alvores da Contemporaneidade.

O museu, instalado desde a sua fundação em um palácio construído nos finais do século XVII pelo 1º conde de Alvor, após o seu regresso da Índia, onde fora vice-rei, foi mantido na família até meados do século XVIII, vindo depois a pertencer a um irmão do Marquês de Pombal, Paulo de Carvalho, antes de passar a posse a um rico negociante de diamantes e cônsul da Holanda, Daniel Gildemeester, que patrocinou vultuosas obras de qualificação nos interiores.


ACERVO DO MNAA
 


"Painéis de São Vicente" - 1470 - óleo e têmpera sobre madeira de carvalho - Nuno Gonçalves.

Obra de enorme importância simbólica na cultura portuguesa e singular “retrato coletivo” na história da pintura europeia.

As seis pinturas atribuídas a Nuno Gonçalves apresentam um agrupamento de 58 personagens em torno da dupla figuração de São Vicente



"Tentações de Santo Antão" - 1506 - óleo e têmpera sobre madeira de carvalho - 131,5 X 119 cm (painel central) - 131,5 X 53 cm (painel lateral) - Hieronymus Bosch

Neste tríptico assinado por Bosch, encontra-se a mais recorrente e central temática do artista: a tentação e a solidão do homem justo perante o mal e o diabólico que, de forma expressa no monstruoso e no híbrido ou sob uma falsa e provocadora beleza, domina o mundo terreno. A obra integra os quatro elementos do Universo (céu, terra, água e fogo) tornando-os cenário de personagens horrendas.


"O Inferno" - 1510/20 - óleo e têmpera sobre madeira de carvalho - 119 x 217,5 cm - mestre português desconhecido.

A pintura propõe uma imagem medieval do "Inferno", inventariando os suplícios eternos em relação aos pecados capitais. A figuração da Vaidade através de três mulheres nuas, penduradas invertidas com os cabelos a arder, remete para as três graças do séquito de Apolo. Os amantes unidos por um laço, simbolizando a Luxúria, no extremo oposto, parecem decorrer diretamente de Dante, mostrando a pluralidade de fontes iconográficas.

Esta diversidade surge ainda na ligação do demoníaco ao universo extraeuropeu: Lúcifer veste-se com um toucado de penas ameríndias, senta-se numa cadeira africana e segura uma trompa de marfim de aparência africana. Outro demónio veste-se também com plumagem.



"Salomé com a cabeça de São João Batista" - 1510 - óleo e têmpera sobre madeira de carvalho - 61 x 49,5 cm - Lucas Cranach, o Velho.

Extraordinário exemplo do peculiar e vasto universo feminino da obra de Cranach, onde a graça e a voluptuosidade podem ser emblemas de virtude ou de sedutora perversão.

Representando Salomé com a cabeça de São João Batista, este quadro inicia uma série de obras do pintor à volta do tema do poder feminino e dos ardis das mulheres. Salomé, Judite, Dalila, Lucrécia e outras figuras ou cenas, realçadas pela beleza dos modelos e pelos fundos negros ou escuros, transbordam de erotismo, uma característica do universo do pintor e motivo forte da sua fama e triunfo.


EXPOSIÇÕES ATUAIS

ALBRECHT DÜRER:  Autorretrato Museo Nacional del Prado




Esta obra emblemática, parte das coleções reais desde 1654, do Museo Nacional del Prado, pintada em 1498, três anos após o regresso de Dürer da sua primeira viagem a Veneza, mostra o seu interesse pela natureza e o orgulho com que contempla a sua própria figura enquanto artista, na ocasião com 26 anos.

De18 de maio a 18 de setembro de 2016 - piso 1 sala 61


OBRAS EM RESERVA - O Museu que não se vê




As reservas de um museu são, por natureza, um território mítico, um lugar protegido, inacessível aos olhos profanos, onde se acumula e são preservadas obras de arte. Nelas ocultam-se peças isoladas ou formando séries, mais ou menos extensas e de diversas índoles, acondicionadas por vários critérios, de natureza técnica ou mesmo pragmática. É esse espaço, velado e misterioso, que esta exposição pretende evocar, trazendo à luz e ao olhar curioso dos visitantes um vasto número de obras que, apenas pelos constrangimentos físicos do edifício em que se aloja o MNAA, não fazem parte da sua exposição permanente.

De 18 maio a 25 de setembro de 2016 - piso 0 - Galeria de Exposições Temporárias


JACOB JORDAENS - “Vertumno e Pomona”.




Obra convidada - Museu do Caramulo - Fundação Abel e João de Lacerda - Caramulo, Portugal

Em 1636, o Cardeal Infante Dom Fernando, irmão de Filipe IV da Espanha, encomendou a Rubens um conjunto de cerca de 60 pinturas de temas mitológicos. Destinava-se ao pavilhão de caça de Torre de La Parada, nos arredores de Madrid. Rubens acabou por fazer apenas os esboços das pinturas, deixando a execução de grande parte delas “aos maiores pintores de Antuérpia”. Jacob Jordaens era um deles e realizou diversas destas pinturas, entre as quais "Vertumno e Pomona". Comparada com o esboço de Rubens, a tela de Jordaens é menos movimentada, parecendo fixar sobretudo o momento em que os deuses romanos se enlaçam com ternura. A pintura pertenceu à coleção dos Condes de Santar e foi comprada pela Sacor e oferecida ao Museu do Caramulo.

De 22 junho a 09 de outubro de 2016 - Sala 60 - Galeria de Pintura Europeia.




Assista ao vídeo da última grande exposição apresentada pelo MNAA - Colección Masaveu Grandes Mestres da Pintura Espanhola - GRECO, ZURBARÁN, GOYA, SOROLLA. 




MNAA - Museu Nacional de Arte Antiga - Rua das Janelas Verdes, Lisboa, Portugal








10 de agosto de 2016

As aquarelas originais de 'O Pequeno Príncipe'



Aquarela ilustrativa do livro "O Pequeno Príncipe"


O único livro infantil de Antoine de Saint-Exupéryse se tornou uma das obras mais amadas de todos os tempos. O escritor deu vida à história em Nova York, em 1940, onde se instalou após a invasão nazista na França.

Em abril de 1943, logo após o livro ser publicado, Saint-Exupéry colocou os manuscritos e os desenhos de "O Pequeno Príncipe" em um saco de papel marrom e os entregou a sua amiga Silvia Hamilton. "Eu gostaria de lhe dar algo esplêndido", disse a ela, "mas isso é tudo o que tenho". Ele estava com 44 anos na época.



"O Pequeno Príncipe" foi publicado na França, terra natal do autor, dois anos após a sua morte. Nos Estados Unidos, onde foi publicado primeiro, o sucesso inicialmente foi apenas moderado. Em 1968, a "The Morgan Library", em Nova York, adquiriu os manuscritos. Agora, uma nova exposição explora o processo criativo de Saint-Exupéry por meio dos escritos que foram excluídos na primeira versão, o original tem quase o dobro do tamanho livro inicialmnente publicado.




A primeira ilustração original da famosa obra, foi leiloada em Paris, pela casa de leilão Artcurial. O desenho utilizado para ilustrar a edição original foi estimado entre 400 mil e 500 mil euros. Feito em aquarela, medindo 21,2 X 23,9 cm, leva a assinatura de Saint-Exupéry e está reproduzido na página 17 da publicação original em 1943.

A aquarela representa o personagem do astrônomo turco que descobre o asteroide "B 612", o planeta do Pequeno Príncipe, apontando com o dedo para uma série de fórmulas matemáticas.




No texto correspondente a aquarela o narrador diz ao Pequeno Príncipe:

“Durante a noite, não o vi sair andando. Fugira em silêncio. Quando consegui alcançá-lo, ele andava com decisão, com passadas rápidas. Disse-me apenas:


- Ah! Está aí…

E me deu a mão. Mas ainda estava preocupado:

- Fez mal. Você vai sofrer. Vou parecer morto e não será verdade…

Eu me calava".



“Esta aquarela mostra uma imagem icônica do jovem herói. Ele escapa para a noite em silêncio e caminha sozinho nas dunas com seu lenço soprando ao vento. Ele irá desaparecer em breve e a atmosfera é tensa.” disse Guillaume Romaneix, que dirige o departamento de livros e manuscritos da Artcurial.




O livro foi publicado em 1943 na cidade de Nova York, onde o manuscrito e outros desenhos originais da obra ainda são conservados, na biblioteca Morgan. O escritor e piloto faleceu em 1944 sob circunstâncias que até hoje não foram esclarecidas.

Alguns desenhos que serviram para produzir a primeira edição foram levados à França por sua viúva Consuelo, nascida em El Salvador.


Assista o trailer do filme "O Pequeno Príncipe"












3 de agosto de 2016

"O Terraço do Café na Place du Fórum, Arles à Noite" - Vincent van Gogh



"O Terraço do Café na Place du Fórum, Arles à Noite" - 1888 - óleo sobre tela - 81 X 65,5 cm - Vincent van Gogh - Kröller-Müller Museum.


"Terraço do Café à Noite", cujo nome completo é "O Terraço do Café na Place du Forum, Arles, à Noite", é uma das mais famosas obras do pintor holandês Vincent van Gogh. A tela foi finalizada em setembro de 1888, sete meses após a chegada do artista à cidade de Arles, no sul da França, vindo de Paris.

A obra que retrata a Praça do Fórum, em Arles, é uma cena noturna, pintada no local. Como o próprio pintor observou em uma carta dirigida à sua irmã Wilhemina, "embora se trate de uma paisagem noturna, caracteriza-se pelo uso de cores mais vivas". O artista tinha fascinação pelas noites provençais, cheias de estrelas, como podemos ver nesta e em outras obras por ele pintadas.



Detalhe do céu na obra "Terraço do Café à Noite".

Podem ser encontradas semelhanças, principalmente em relação à perspectiva e ao uso das cores, com a obra do artista francês Louis Anquetin, "Avenida, Clichy: Cinco Horas da Tarde", datada de 1887. Os dois artistas conviveram durante algum tempo em Paris, onde travaram amizade e influenciaram-se mutuamente no desenvolvimento de diferentes técnicas de pintura.



"Avenida, Clichy: Cinco Horas da Tarde" - 1887 - óleo sobre tela - 60 X 53 cm - Louis Anquetin.

"O Terraço do Café", costuma ser comparada com outras obras de Van Gogh que também retratam um céu bastante estrelado: "Noite Estrelada Sobre o Ródano", de1888 e "A Noite Estrelada", de 1889. O mesmo vale, também, para a obra "Retrato de Eugene Boch", de 1888.



"Noite Estrelada Sobre o Ródano"
- 1888 - óleo sobre tela - 72 X 92 cm - Vincent van Gogh - Museu D'Orsay.


"A Noite Estrelada"
- 1889 - óleo sobre tela - 74 X 92 cm - Vincent van Gogh - Museu de Arte Moderna de N Y - MoMA


"Retrato de Eugene Boch" - 1888 - óleo sobre tela - 60 X 45 cm - Vincent van Gogh - Museu D'Orsay.

Ainda hoje, o café representado na pintura de Van Gogh, pode ser encontrado no mesmo local, em Arles, sob o nome de “Café Van Gogh”. No início dos anos 90, sua fachada foi pintada em tons de verde e amarelo, aproximando-a da forma com que é vista no quadro.


"Café van Gogh" - 11 Place du Forum, 13200 - Arles, França

Depois de concluir a obra "O Terraço do Café na Place du Fórum, Arles à Noite", o artista escreveu ao seu irmão Theo: "Aqui está, um quadro noturno sem ter usado tinta preta, somente maravilhosos azuis, violetas e verdes".

Apaixonado pelas cores, Van Gogh aprendeu esta técnica com os impressionistas, mas, pintou as suas obras com cores mais vivas e superfícies vagarosamente trabalhadas.

"Com frequência penso que a noite é mais rica e viva em cores do que durante o dia". (Vincent Van Gogh)