Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

16 de dezembro de 2015

Joan Miró: vida e obra




Joan Miró nasceu em 1893, na cidade Barcelona, e foi criado por uma família de artesãos. Apesar de demonstrar seu gosto pela pintura desde cedo, foi pressionado a entrar para uma carreira burocrática, o que lhe trouxe grandes problemas e em pouco tempo de trabalho, ao se ver preso a uma atividade monótona enquanto o país efervescia em correntes artísticas, Miró entrou em profunda depressão agravada por um ataque de febre tifoide.

O artista precisou de ajuda médica para voltar à atividade, mas foi o impulso necessário para largar tudo aquilo que lhe retirava o prazer de viver e entrar de vez para as artes.
 
Cursou a Escola de Belas Artes de Barcelona e a Academia de Gali. Joan Miró teve aulas com Francisco Gali, que lhe ensinou tudo sobre as escolas de arte moderna de Paris, lhe introduziu ao mundo da leveza bizantina nas igrejas da Catalunha e à arquitetura de Antônio Gaudí.


"O Carnaval de Arlequim" - 1924 - óleo s. tela

Apesar de ser reconhecido como pintor, Miró também se dedicou à obras em cerâmica e teve influência do dadaísmo, fauvismo e cubismo durante sua vida artística.


"Mulher" - Joan Miró

De 1915 até 1919, trabalhou em Montroig, cidade próxima a Barcelona, pintando paisagens, retratos e nus, mas foi em 1919 que sua vida mudou, quando se transferiu para Paris e dividiu sua vida entre Espanha e França.


"Retrato de V. Nubiola" - 1917

Joan Miró: vida do artista

Joan Miró, na França, foi amigo de Picasso, que o ajudou em suas pinturas, mas na época Miró não conseguia vender suas obras e estava sempre com suas economias no limite. Seus pais enviavam poucos recursos, para reafirmar a pouca vontade de incentivar sua vida artística. Miró passou fome por muitos dias e tentava aproveitar as alucinações que a falta de comida lhe dava pintando novos quadros e sentindo o mundo de um jeito diferente.
 
É possível ver estas experiências em "The Farmer’s Wife", um dos primeiros quadros do artista a mostrar grandes variações de escala ao longo do desenho, em que os grandes pés da esposa representam sua força no chão catalão.
 

"The Farmer's Wife" - 1922-23 - óleo s. tela

surrealismo de Miró não era parecido com os traços perfeitos de Dalí e Magritte, mas sim focado no simbolismo e no minimalismo que conseguia aplicar em seus desenhos de formas inusitadas. Segundo o pintor, quando foi apresentado por André Masson ao círculo surrealista, ninguém reparou em suas obras – provavelmente ninguém as tinha entendido.

Mesmo assim, o movimento surrealista lhe foi muito importante. Miró relata. “Pintar com todas essas regras (do cubismo) me estressava um pouco. Eu queria ir além disso. O cubismo abriu muitas portas, mas depois dele a pintura se tornou algo muito estático, estava somente preocupada com o plasticismo e eu queria dar um salto sobre isso, que me parecia muito limitado. Então, com os surrealistas eu encontrei o que estava procurando. Eu pude deixar o plasticismo estrito para trás e ir além”.
 

"Nord - Sud" - 1917 - óleo s. tela

A Guerra Civil Espanhola e a Segunda Guerra Mundial deixaram marcas no artista. Nesta época, ele estava vivendo na Espanha e lá produziu suas “pinturas selvagens”. Apesar disso, antes da eclosão da Segunda Guerra, Miró estava na França realizando novos trabalhos em tapeçaria e produzindo cenários de balés.
 

"Tapis de la Fundació" - tapeçaria criada como estudo do modernismo, na entrada da Fundação Miró, em Barcelona.
 
Após a Guerra Civil Espanhola, Miró já era conhecido no mundo todo e pintou murais de hotéis e universidades quando foi para Nova York. Ao retornar a Paris, em 1948, era um artista cultuado. Miró recebeu um prêmio de gravura na Bienal de Veneza, em 1954, e o mural que realizou para um prédio da UNESCO em Paris ganhou, quatro anos mais tarde, o Prêmio Internacional da Fundação Guggenheim. Em 1980, já perto de sua morte, Miró recebeu uma Medalha de Ouro de Belas Artes do rei Juan Carlos I.
 

UNESCO - dezembro 1957

Reza a lenda que enquanto estudava na Escola de Belas Artes de Barcelona, Miró
vendava os olhos e tentava pintar objetos sem nenhuma experiência visual. Utilizava o tato para se livrar das formas reais dos objetos escolhidos e dava liberdade para sua imaginação, se abstendo de regras para suas pinturas. Sua simbologia também é bem pessoal, com diversos personagens sendo representados por objetos característicos, como a representação do camponês catalão por um cachimbo, uma arma ou um boné.


"Interior holandês" - 1928
 
"Mais importante do que a obra de arte propriamente dita é o que ela vai gerar. A arte pode morrer; um quadro desaparecer. O que conta é a semente". Joan Miró
 
 
 
 





 

9 de dezembro de 2015

Biblioteca Pública de Birmingham



Biblioteca Pública de Birmingham é a maior biblioteca pública da Europa, tem 10 andares, jardim suspenso e wi-fi.


Localizada a cerca de 2 horas de Londres, a nova biblioteca de Birmingham deve atrair 3,5 milhões de frequentadores por ano, de acordo com as expectativas da organização. Com wi-fi gratuito em seus 10 andares e jardins suspensos, o prédio faz parte do plano de renovação da segunda maior cidade inglesa, mas já serve como referência a outras grandes bibliotecas no velho continente.
 
Inaugurado no dia 3 de setembro pela jovem paquistanesa Malala Yousafzai. A ativista, que foi levada para Birmingham para receber tratamento após ser baleada pelo Talibã por defender a educação de meninas em seu país, mora atualmente na cidade.

Em um momento em que o governo britânico tem fechado bibliotecas públicas pelo país, abatidas pela recessão, os números estimados para o espaço surpreendem.



A nova Biblioteca de Birmingham impressiona pela fachada, que contrasta com os edifícios históricos da região, e também pelos números. São 31 mil m2 de área e 400 mil títulos à disposição dos visitantes. É um centro de aprendizado, cultura e informação que convida o público a participar de cursos e assistir a peças de teatro, palestras e concertos. Projetado pela arquiteta Francine Houben, do escritório holandês Mecanoo, o edifício tem jardins suspensos e fachada de vidro envolvida por círculos de metal, que remetem à tradição artesanal desse município, berço da Revolução Industrial.
 


O interior é repleto de atrativos visuais, como volumes circulares, claraboias e escadas escultóricas. Admiradores de William Shakespeare encontram o Memorial Room, onde fica a extensa coleção de trabalhos do gênio inglês. O dramaturgo – nascido em Stratford-Upon-Avon, cidade na mesma região inglesa – é homenageado em um espaço histórico, remontado no topo do moderno edifício.

O ambiente intimista tem estilo vitoriano, com móveis e objetos de uma biblioteca de 1882 que foi realocada ali. É uma bela surpresa no topo do edifício.
 

 
Esta biblioteca tem um número significativo de coleções nacionais e internacionais como os arquivos Boulton e Watt. Destaca-se também o arquivo Bournville Village Trust, a coleção de livros infantis Parker, a coleção de bilhetes de transporte Wingate Bett, a recolha fotográfica Warwickshire e o arquivo do "British Institute of Organ Studies".

A sala fazia parte originalmente da segunda biblioteca da cidade, inaugurada em 1882 (após um incêndio ter destruído o primeiro prédio),  foi removida inteiramente e restaurada.
 


Apesar de a coleção shakespeariana ter se tornado maior do que a capacidade da sala já no início do século 20, ela ainda está abrigada no prédio. São 43 mil livros, incluindo as quatro primeiras coleções publicadas das peças teatrais do autor (conhecidos como "Folios") e edições raras de obras individuais impressas antes de 1709.

As prateleiras do espaço também dispõem de outros importantes acervos, que passam por digitalização para serem colocados à disposição do público. Alguns podem ser conferidos em mesas com touch screen, desenvolvidas especialmente para a biblioteca.

Uma das preciosidades é o arquivo da empresa Boulton & Watt, o mais importante da Revolução Industrial, com cerca de 29 mil desenhos industriais da época. No catálogo online, há menção da venda de uma máquina a vapor para a cunhagem de moedas para o Brasil, em 1811.

 

 
Boulton, Watt and Murdoch Statue

Entre as mais de 8,2 mil publicações datadas antes de 1701, estão três livros impressos em 1479 pelo primeiro gráfico inglês, William Caxton, em perfeito estado. A edição do "Birds of America" ("Aves da América"), publicado pelo naturalista John James Audubon na primeira metade do século 19, figura entre os mais caros do mundo devido sua raridade e é um dos destaques.

A biblioteca pública de Birmingham é a única no Reino Unido a ter uma das coleções nacionais de fotografias, com mais de 3,5 milhões de imagens.

Em outubro, o espaço deverá receber escritores renomados como Lionel Shriver (autora de "Precisamos Falar sobre Kevin" e "O Mundo Pós-Aniversário") e Carol Ann Duffy (escritora e poetisa escocesa, primeira mulher a ser indicada como "Poeta Laureado" do Reino Unido) durante o festival de literatura de Birmingham.

A expectativa é que a biblioteca se torne um novo destino turístico na região central da Inglaterra.

Conforme o diretor, Brian Gambles, o projeto totalizou £ 188,8 milhões (cerca de R$ 680,95 milhões) – £ 4,2 milhões (R$ 15,15 milhões) a menos do que o orçado. "É sobretudo um local de transformação: sobre como temos transformado a vida das pessoas, com educação, e sobre como tornar uma biblioteca para a era digital", ressalta.

Assista ao vídeo





2 de dezembro de 2015

Fotos de Thomas Roma no Parque de Cruising Gay no Brooklyn



Parque de Cruising Gay no Brooklyn por Thomas Roma

Apesar de já ter exposto no Museu de Arte Moderna e no Centro Internacional de Fotografia, e de ser o fundador e diretor do programa de fotografia da Universidade Columbia, Thomas Roma ainda não havia participado de uma exposição solo em Nova York. Com a abertura da Steven Kasher Gallery, suas obras já podem ser apreciadas na exposição "In the Vale of Cashmere".

Fotos em preto e branco tiradas entre 2008 e 2011 na área do Prospect Park, um lugar conhecido como Vale of Cashmere. Essa área do parque é fechada, acessível apenas por buracos na cerca, e é conhecida no Brooklyn como um local de "cruising" para homens gays.
 
Construído como um playground para crianças da região no final do século XIX, o parque hoje abandonado está coberto de mato mutante que só cresce no solo urbano. Foi criado um grupo para arrecadar recursos para reativar o local que sobreviveu ileso ao constante ciclo de renovações de Nova York, tanto que andar por ele dá uma sensação cinematográfica de estar de volta ao passado. Essa qualidade naturalmente anacrônica, amplificada pela fotografia em preto e branco e a luz filtrada pelas folhas, estão evidentes nas fotos de Roma.
 


"Essas imagens são sobre uma espécie de fugacidade", disse Roma em sua casa localizada no Brooklyn, entre o parque e o Cemitério Greenwood, onde ele e a esposa criaram o filho Giancarlo. "Conhecemos essa luz. Você sabe que essa luz direcional vai desaparecer. Você sabe disso porque está vivo, está no mundo, não porque é um fotógrafo."

Em entrevista Roma falou sobre luz, fotografia, a realização de coisas que não são boas para o crescimento como artista e ser humano. Falou sobre como foi visitar o parque três ou quatro vezes por semana, fazer essas fotos no curso de três anos e se tornar vulnerável às outras pessoas como um ato de amor. Em certo ponto, ele contou sobre fotografar um homem no parque enquanto a noite caía. ("Sei de um lugar onde ainda há alguma luz", o homem falou. "Venha comigo.")

 


Roma falou sobre a natureza extremamente política do tema e o que significa para um artista heterossexual branco fazer esse tipo de trabalho em 2015. Como resultado os retratos de "In the Vale of Cashmere" são belíssimos e suas paisagens líricas.

Thomas Roma: "Achei que levaria alguns meses, mas foram três anos e meio. Só fotografei umas seis ou sete pessoas nos primeiros meses. Eu fazia principalmente paisagens. Eu estava lá o tempo todo. Eu era alguém que era visto".

"A exposição de todos os retratos está (com o tempo usado para tirar as fotos) entre um e seis segundos. Foi a segunda vez que usei um tripé em todos esses anos, mas eu queria o tripé, pois isso era parte da minha fantasia. Eu não queria ser visto como alguém espreitando, que poderia aparecer do nada e tirar uma foto, e sim como alguém em pé atrás da câmera".



"Esse parece um lugar onde seria difícil fazer as pessoas concordarem em posar para uma foto. Parece que o isolamento é a principal razão para frequentar o lugar".

"Muitas das pessoas que acabei fotografando me viram de longe, deram algumas voltas e finalmente decidiram andar até onde eu estava caso eu estivesse tirando fotos de uma árvore ou algo assim. E eu converso com as pessoas".
 


Foto de Carl Spinella no apartamento de Dean Street, em 1974, retirada do livro de Thomas Roma The Waters of Our Time.

"Estou tentando ser invisível. Você vê uma foto, lê um romance, você pensa sobre o autor – até o autor te dar permissão para esquecer dele, pois ele escreveu tão bem que o romancista desaparece. Quero desaparecer nesses termos".
In the Vale of Cashmere está em exposição na Steven Kasher Gallery de Nova York até 19 de dezembro.


Sobre o artista


Thomas Roma (1950), mericano, fotógrafo trabalha desde 1974 explorando os bairros e instituições da sua terra natal, Brooklyn, fotografando cenas de igrejas, metrôs e vida cotidiana, usando uma câmera caseira.
 
Atualmente é professor de Artes, titular da Universidade de Columbia School 's, e Diretor do Departamento de Fotografia, fundado por ele. Ensinou fotografia na Universidade de Yale, Universidade de Fordham, A União Cooper, e na Escola de Artes Visuais.
 
Foi premiado com dois Guggenheim Fellowships e lançou dois livros, um no Museu de Arte Moderna e outro no  Centro Internacional de Fotografia, em Nova York.

Seu trabalho é destaque em inúmeras coleções, incluindo o Museu de Arte Moderna, o Museu San Francisco de Arte Moderna, do Instituto de Arte de Chicago, o County Museum of Art de Los Angeles e o Canadian Centre for Architecture em Montreal.

Para uma de suas coleções de fotografias, intitulada "Venha domingo", Roma participou com mais de 150 trabalhos religiosos em 52 igrejas no Brooklyn durante um período de três anos.
 


Thomas Roma na Sicília - 1986