Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

27 de julho de 2016

Max Ernst - "Duas crianças ameaçadas por um rouxinol"



"Deux enfants menacés par un rossignol" (Duas crianças ameaçadas por um rouxinol) - óleo s madeira - Max Ernst - Acervo MoMA

Este trabalho, representa o manifesto do surrealismo, com a técnica de colagem, evocando objetos surrealistas. Transcendendo as categorias artísticas, apresenta-se como uma quimera (peixe). Este animal imaginário, um símbolo do movimento de sua natureza híbrida, é o tema de uma das obras-primas de Max Ernst.

O artista muitas vezes mistura a pintura com a literatura. Escrevendo em sua obra, registra questionamentos, trechos de sonhos e do seu diário. O pássaro voando é realmente uma ameaça? Por quê? Para quem?


O sonho, em contraste com a pintura, com elementos agregados e colados, formam uma ponte entre sonho e realidade: o portão aberto sugere uma fuga.

Nesta obra Ernst elabora um confronto de perspectivas. A presença de objetos sólidos presos ao quadro (a maçaneta e o portão) refletem uma sutil interpretação de mundos diferentes.

O rouxinol, estranhamente, não aparenta ameaçar ninguém.



Em 1998 o "Centro Georges Pompidou" em Paris, apresentou uma exposição e lançou o livro "Max Ernst: Beyond Painting" (Max Ernst: além da pintura), uma compilação de escritos do artista.

“Duas Crianças Ameaçadas por um Rouxinol”, foi uma das obras mais desafiantes da exibição de Pompidou. No período entre 1921 e 1924, Ernst desenvolveu sua técnica de colagem. Foi o período de maior realização da obra de Ernst. Ele pensava nesta técnica como a grande contribuição dada ao surrealismo. Seu objetivo era transformar a pintura em algo mais do que uma experiência visual. Ele queria revelar as tensões físicas, os dramas psicológicos, os distúrbios de percepção, as memórias da complexa jornada da infância à maturidade e a forma com que a vida delimita e transforma esses processos.



O rouxinol foi a forma como a morte se manifestou pela primeira vez em sua vida. Na obra, o rouxinol vem até a cena. Ele aparenta ser pequeno e insignificante, mas, ao mesmo tempo, parece levar a crise às figuras da obra. Uma criança está ao chão sem movimentos, uma mulher perturbada parece correr da criança com uma faca sem sangue na mão. Ela olha desesperada para o rouxinol que se aproxima. Uma figura de terno e gravata, um homem que carrega uma criança. Perturbadoramente ele não possui traços faciais. Está escapando da cena no topo de uma pequena casa. A criança não oferece resistência. Seria resgate ou sequestro? Ele se estende para alcançar um puxador preso à moldura do quadro. É uma simples maçaneta de porta. Isto poderia levá-lo para fora da pintura, mas não está na pintura, nem no quadro. Está fixado em ambos. Não poderia abrir logicamente para nenhum dos dois lados. Seria a transformação de uma maçaneta de porta em um indefinível desejo?



Em uma de suas anotações Ernst  escreveu. "Trabalhando mais e mais para conter minha ativa interferência no desenvolvimento do quadro, e, dessa forma, ampliando a interferência das faculdades alucinantes da mente, eu passo a existir como espectador no nascimento de todas as minhas obras”.


Sobre o surrealismo

O Surrealismo foi um movimento iniciado nos anos de 1920 na literatura e artes plásticas. Reunia artistas anteriormente ligados ao Dadaísmo, que, por sua vez, foi a pintura de critica social, onde os artistas aplicavam o principio do ilogismo, da irracionalidade e da casualidade na criação artística. Já o surrealismo foi fortemente influenciado pelos descobrimentos da psicanálise, criada por Sigmund Freud. Os artistas tinham deixado de acreditar na realidade visível e procuravam uma realidade universal, uma surrealidade, uma sobre realidade.


Conversa informal


No mês de junho passado, em um passeio ao MoMa NY, estive visitando a "Collection Galleries 1880s–1950s" (Coleção da Galeria ou Acervo da década de 1880 a 1950) localizada no quinto andar do prédio do museu. Em meio a muitas obras maravilhosas de artistas renomados, de repente me vi à frente dessa impressionante e grandiosa obra de Max Ernst "Deux enfants menacés par un rossignol". Fiquei por alguns segundos imobolizada pelo impacto que a obra causa em quem a vê. A composição, as cores, as imagens e colagens, o título escrito na madeira na parte inferior do quadro, tudo salta aos olhos!  Uma obra pequena, 46cm X 33cm, mas muito intensa. Não podia imaginar que um dia eu fosse vê-la de perto. Indescritível!


A um ano atrás, para um estudo, fiz a representação dessa obra em aquarela, em formato de um cartão postal.



O texto no verso do cartão diz.

"Queridos.

O local é incrível, a paisagem vibrante e ilusória. Paira mistério no ar . Como único registro, um rouxinol em busca de histórias aqui vividas, que vão muito além do que se pode imaginar". 

Saudações

Aline Hannun



Assista ao vídeo. Conheça outras obras do artista.








20 de julho de 2016

A história dos museus


Algumas curiosidades sobre a história dos museus

Museu é o lugar em que sensações, ideias e imagens, de pronto irradiadas por objetos e referenciais ali reunidos, iluminam valores essenciais para o ser humano. É o espaço fascinante onde se descobre e se aprende. É onde se amplia o conhecimento e se aprofunda a consciência da identidade, da solidariedade e da partilha.

Por meio dos museus, a vida social recupera a dimensão humana que se esvai na pressa das horas. As cidades encontram o espelho que lhes revela a face apagada no turbilhão do cotidiano. E cada pessoa acolhida por um museu acaba por saber mais de si mesma. 


Instituto Brasileiro de Museus


A palavra “museu” vem do grego “templo das musas” e começou a ser usada em Alexandria, já se referindo a locais onde se estudavam as artes e ciências.

Os primeiros museus modernos surgiram no século XVII e começaram sendo formados por coleções particulares doadas pelos próprios artistas ou por familiares. Assim surgiu o primeiro museu com a formato que conhecemos hoje. Elias Ashmole doou à Universidade de Oxford, na Inglaterra, uma coleção de John Tradescant. Doou também sua biblioteca e sua inestimável coleção de manuscritos para a universidade.



Museum Tradescantianum - 1656

Ficou conhecido como Ashmolean Museum, em homenagem ao doador.




Ashmolean Museum - Oxford, Inglaterra - 1683

Por muito tempo, as coleções dos museus ficaram restritas às elites. Até que foi criado o primeiro museu público, na França Revolucionária de 1793. Foi o Museu do Louvre, que pela primeira vez abriu ao público em geral o acesso a um rico acervo de arte.




Museu do Louvre - Paris, França - 1793

Na Inglaterra, o parlamento inglês permitiu a criação do segundo museu público da história. A partir da doação do acervo de Hans Sloane, surgiu o Museu Britânico.




Museu Britânico - Londres., Inglaterra - 1753

Com uma grande onda de doações de coleções particulares, os museus foram ficando mais numerosos durante o século XIX. Nesse período foram criados importantes museus, como o Museu do Prado, na Espanha, e o Museu Mauritshuits, na Holanda.



Museu do Prado - Madri. Espanha - 1819




Museu Mauritshuits - Haia, Holanda - 1822

O primeiro museu brasileiro surgiu em 1862. O Museu do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano, em Pernambuco. Somente no século XX é que foram construídos outros museus no Brasil.




Museu do Instituto Arqueológico Histórico e Geográfico Pernambucano, Brasil - 1862

No ano de 1870 surgiu o Museu Metropolitano de Arte, MET, em Nova York, um dos mais importantes do mundo. Hoje abriga uma importante coleção de pintura europeia dos séculos XII a XX e obras da arte antiga e oriental.



Museu Metropolitano de Arte - MET, Nova York, Estados Unidos - 1870

Em 1947, foi criado o Museu de Arte de São Paulo, o MASP, que atualmente é considerado o mais importante museu brasileiro, pela qualidade de suas coleções. É uma Instituição particular sem fins lucrativos, fundada por iniciativa do paraibano Assis Chateaubriand. Ao longo de sua história, notabilizou-se por uma série de iniciativas importantes no campo das artes.

São destaques da Coleção do MASP as obras de Rafael, Bellini, Andrea Mantegna e Ticiano, na Escola Italiana. Os retratos das filhas de Luiz XV, pintados por Nattier, as Alegorias das Quatro Estações, de Delacroix e as pinturas de Renoir, Monet, Manet, Cézanne, Toulouse-Lautrec e também as de Van Gogh, Gauguin e Modigliani registram a importância da arte produzida na França, presentes na Coleção. 


"The Winter" (O Inverno) - 1856/63 - óleo s. tela - Eugene Delacroix - MASP

O MASP também possui a coleção completa de 73 esculturas de Edgar Degas, além de 3 pinturas do artista.


Esculturas de Degas que estão no acervo do MASP desde os anos de 1950

No MASP, a Arte Espanhola está representada por El Greco, Goya, Velázquez. A Arte Inglesa por Gainsborough, Reynolds, Constable e Turner, entre outros. Dentre os flamengos, encontram-se Rembrandt, Frans Hals, Cranach e Memling e o tríptico de autoria de Jan Van Dornicke. Na Arte das Américas marcam presença Calder, Torres Garcia, Diego Rivera e Siqueiros e dentre os muitos artistas brasileiros, Almeida Junior, Candido Portinari, Anita Malfatti, Victor Brecheret e Flávio de Carvalho.


Triptico "Crucificação de Jesus" - 1470/1527 - Jan Van Dornicke

Fazem parte do acervo também núcleos de: Arqueologia, Esculturas, Desenhos, Gravuras, Fotografias, Maiólicas (cerâmicas italianas dos séculos XIV ao XI), além de tapeçarias, vestuário e design.

A convite do “Musèe d’Orsay” o MASP integra, desde 2008, o “Clube dos 19”, que congrega os 19 museus cujos acervos são considerados os mais representativos da arte europeia do século XIX, como o Musèe d´Orsay, do The Art Institute de Chicago, do Metropolitan de Nova York, entre outros.

Tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, o acervo do museu vem sendo enriquecido e ampliado através de doações de pessoas físicas e de parcerias com empresas e instituições.


Museu de Arte de São Paulo, MASP, Brasil, 1947

Em 18 de maio 1977, foi instituído o Dia Internacional dos Museus, comemorado nos mundo todo.

International Concil of Museums é o nome da instituição que hoje cuida das coleções de objetos de arte ou ciências de todo o mundo, para apresentação pública ou apenas preservação das mesmas.


Assista ao vídeo do 10 museus mais visitados no mundo.









13 de julho de 2016

Sobre Aquarelas


Ilustração em aquarela do livro "O Pequeno Príncipe" de  Antoine de Saint-Exupéry

A aquarela é uma das técnicas de pintura na qual os pigmentos se encontram suspensos ou dissolvidos em água. Os suportes utilizados na aquarela são muito variados, embora o mais comum seja o papel com elevada gramatura. São também utilizados como suporte o papiro, casca de árvore, plástico, couro, tecido, madeira e tela.



Sem título - 1910/13 - primeira aquarela abstrata - Wassily Kandinsky

A aquarela é uma técnica muito antiga cujo aparecimento se supõe esteja relacionado com a invenção do papel e dos pincéis de pelo de coelho, ambos surgidos na China há mais de 2000 anos.


"Life of the Virgin" - Cappella Baroncelli-Giugni - Florence - Santa Croce - Taddeo Gaddi.

No ocidente, há vários exemplos do emprego desta técnica desde a Idade Média, como Tadeo Gaddi, discípulo de Giotto. Ele viveu até 1366, e teria produzido uma série de desenhos aquarelados, feitos sobre papel tipo pergaminho. O método também foi utilizado por artistas flamengos, e amplamente empregado em Florença e Veneza. Foi com Albert Dürer que a aquarela pode resistir ao tempo, já que ele deixou pelo menos 120 das suas obras.



"Auto retrato com luvas" - 1498 - Albert Dürer 

Foi somente no século XVIII que a técnica da aquarela passou a ser considerada como um método autônomo e independente, difundida em toda a Europa e reconhecida como a “Arte Inglesa”. Neste momento surgem nomes como Alexander Cozens, o poeta pintor William Blake, John S. Cotman, Peter de Wint e John Constable, mas foi sem duvida William Turner quem melhor soube explorar suas possibilidades.



"Incident at the London Parliament" - 1834 - William Turner

Turner produziu 19.000 aquarelas, o que lhe garante o título de maior aquarelista de todos os tempos. Já foi mencionado que o artista teria influenciado os pintores impressionistas, mas há quem ouse afirmar que a aquarela exerceu tamanha influência sobre Turner, a ponto de este experimentar na pintura a óleo as mesmas possibilidades cromáticas, através da aplicação de camadas bastante delgadas e sobrepostas, com muita luminosidade.



"Navio negreiro" - 1840 - William Turner

A aquarela há muito tempo se tornara um hábito nas cortes europeias, o que lhe dava certo “ar” de futilidade, de feminilidade espontânea e, embora surgissem novos pintores aquarelistas, esta técnica começa a ser vista com preconceito. Com o passar dos anos, surge uma grande contradição em torno deste método, o certo é que a aquarela deve ser defendida pelas suas qualidades intrínsecas, como uma técnica em si mesma.



"Ouro Preto" - Alberto da Veiga Guignard


Aquarelas Abstratas Contemporâneas - Aline Hannun


"Série Manchas"

A mancha é um dos melhores instrumentos disponíveis para expressar a visão. São vestígios de ações e apagamentos.

Neste caso, são formadas por linhas que constituem áreas demarcadas que vão sendo sobrepostas uma às outras num fazer transparente e simultâneo.








"Série Labirintos"

Libertação

... até que um dia, por astúcia ou acaso,
depois de quase todos os enganos, ele
descobriu a porta do Labirinto.
... Nada de ir tateando os muros como  um
cego.
Nada de muros.
Seus passos tinham - enfim! - a liberdade de
traçar seus próprios labirintos.

                                               Mario Quintana