Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

24 de fevereiro de 2016

Ensaio fotográfico de Britt M "Retratos sobre o esquecimento"




Neta registra o cotidiano de esquecimentos da avó com Alzheimer em ensaio fotográfico.

Ser uma doença sem cura e sem explicação exata, torna o Alzheimer ainda mais difícil de ser compreendido. E é justamente neste cenário que o trabalho da jovem fotógrafa norueguesa Britt M. chama a atenção.

Com amor e sensibilidade, Britt M, registrou em um ensaio tocante os dias de luta e os momentos difíceis da vida de sua avó com a doença de Alzheimer. A fotógrafa eternizou o cotidiano para mostrar a transformação na vida da avó, que era uma pessoa ativa e forte, até que começou a perder a memória e veio o triste diagnóstico.




Com delicadeza, imagens mostram processo solitário de desconstrução da personalidade, causada pela doença.

Houve uma reviravolta na vida da avó. Ela iniciou um processo de esquecimento. No ensaio podemos ver através da fotografia como a neta consegue mostrar a escuridão, estranheza e solidão em torno de uma pessoa que deixou de ser quem era.



Com a doença, ela se esqueceu das atividades mais básicas, como se alimentar. Também não se lembrava do nome da neta. As fotografias mostram esse processo de desconstrução de quem ela era.




Em seu projeto, Britt M explicou: “Eu tinha uma avó que era sempre tão forte. Sempre tão assertiva e sempre tão contente. Eu tinha uma avó que viveu por mais de 20 anos após o falecimento de seu marido, que manteve suas rotinas normais, todos os dias. A avó, que tinha orgulho em se vestir bem, convidando pessoas para uma xícara de café e que regava seus vasos de plantas duas vezes por semana".


"Minha avó vestia malha em sua cadeira perto da janela, sempre usava chinelos dentro de casa e disse que fazia suas orações todas as noites, antes de ir para a cama sozinha. Então, um dia, eu tinha uma avó que não era forte, nem assertiva. Eu tinha uma avó que esqueceu de comer. Esqueceu-se de alimentar os pássaros. A avó ocasionalmente teve um tempo difícil para lembrar quem eu era".




"Mas, apesar do fato de que sua compreensão sobre o mundo estava indo embora, mesmo que sua memória estivesse desmoronando e os seus dias fossem mais cinza do que coloridos, ela ainda manteve as suas rotina".




Minha avó faleceu pacificamente, não muito tempo depois. Eu estava lá quando aconteceu. Esta é a minha representação artística do que parecia ver alguém tão perto de mim lutar com a escuridão, estranheza e a solidão de perder sua memória. Um retrato de como eles tentam desesperadamente segurar as poucas coisas familiares que deixaram, só para sentir como eram uma vez, mais uma vez”.

A representação artística da visão de Britt M. sobre a doença traz uma dosagem equilibrada de delicadeza e melancolia construída a partir da interação de personagem, objetos e cenários, características que podem ser vistas também em outros trabalhos da fotógrafa, divulgados no Instagram ou em sua página do Facebook.









17 de fevereiro de 2016

Coleção do Whitney Museum of American Art e Willem de Kooning




O Whitney Museum of American Art conta com mais de duas centenas de obras em exposição no sexto e sétimo andar representando parte do seu acervo.

Organizados em sequência cronológica, a apresentação é dividida em onze temáticas ou "capítulos". Cada capítulo leva o nome de uma obra, a qual incentiva o olhar do espectador e não de um movimento ou o estilo. A exposição elabora alguns dos temas, ideias, crenças e paixões que vem impulsionando artistas americanos em sua luta para trabalhar dentro e contra as convenções estabelecidas, muitas vezes envolvendo diretamente os seus contextos políticos e sociais. Obras de arte em todas as mídias são exibidas juntas, reconhecendo as maneiras em que os artistas desenvolveram vários modos de produção e dissolvidos os limites entre eles.


As obras em exibição refletem necessariamente recorde de aquisições e exposições do Whitney, que constitui uma espécie de memória e um coletivo que representa uma série de atitudes individuais, às vezes conflitantes, para o que a arte americana pode ser, dizer ou fazer em qualquer momento. Obras que raramente, ou nunca, foram mostrados aparecem ao lado de ícones amados como um desafio que está no cerne do compromisso do Museu em constante evolução e compreensão da arte americana.


No Whitney Museum, visitando o seu acervo, pude apreciar ao vivo obras de um dos meus artistas favoritos, o expressionista Willem de Kooning. Compartilho com vocês um pouco da sua vida e obras.



"Mulher de bicicleta" - 1952/53 - óleo, esmalte, e carvão sobre linho - 195 × 125 cm - Willem de Kooning


Sobre o artista - Willem de Kooning

Pintor norte-americano de origem holandesa. Um dos expoentes do expressionismo abstrato, particularmente chamado de pintura de ação. Nasceu em 24 de abril de 1904 em Rotterdam. Criado por sua mãe e padrasto, estudou na Rotterdan Academy of Finr Arts and Techniques, emigrou para os Estados Unidos em 1926, onde viveu como clandestino passando por um período de muita pobreza.

Em 1920 Willem trabalhou como assistente do diretor de arte de um departamento da Rotterdam Store. Foi um dos trinta e oito artistas escolhidos para desenhar e pintar 105 murais públicos na Feira Mundial de 1939 em Nova York.


Elaine and Willem de Kooning in studio, Parrish Art Museum

Aos 21 anos, em 1926, embarcou clandestinamente para os Estados Unidos. Instalou-se em Nova Iorque e viveu de pequenos expediente. Descobriu Greenwich Village, o bairro dos artistas, e ligou-se aos primeiros pintores abstratos americanos, decidindo, em 1935, dedicar-se inteiramente à pintura. Suas telas abstratas e figurativas sofreram influência do cubismo e do surrealismo de Picasso.


"Mulher sentada" - 1940 - óleo s canvas -  137 x 91 cm - Philadelphia Museum of Art

Na década de 30 adota diversos estilos simultaneamente, entregando-se à experimentação com grande vigor. Com pinceladas violentas, produz composições geométricas. Em 1937, juntou a partícula "de" ao seu nome para o tornar mais acolhedor e em 1938 começa a pintar formas masculinas e quadros abstratos coloridos. Em 1942 tornou-se amigo de Pollock em Nova Iorque.


"Pink Angels" - 1945 - óleo s. canvas -  Frderick R. Weisman Foundation - Los Angeles - CA.

Em 1947 conheceu Arshile Gorky, com quem partilhou um atelier e, tal como ele, se interessava pela pintura abstrata mais que pela figurativa. Ambos foram inspirados por Joan Miró e Pablo Picasso. Em abril de 1948 expôs pela primeira vez sozinho, na Charles Egan Gallery e passou a ser considerado, ao lado de Jackson Pollock, o líder da nova corrente, o expressionismo abstrato.



Sem título - 1949 - esmalte preto s. papel - 55.6 x 75.9 cm - Museum of Fine Arts - Boston

Em 1950 criou a pintura de grande formato "Escavação", alguns críticos consideraram a mais importante obra do artista. A tinta jogada sobre a tela, a justaposição de várias cores que destoavam entre si, a manipulação dos tons e a herança expressionista foram o que De Kooning usou para desintegrar a realidade – que nunca se apagou totalmente. Suas obras primavam pela emoção e movimento.


"Escavação" - óleo s. canvas - Isola di Rifiuti

Nessa mesma época lançou uma série sobre as mulheres intitulada "Women", que mostra formas femininas em pinceladas frenéticas, onde representou a atriz Marilyn Monroe, entre outras. 

Sua obra, "Mulher 1", a mais conhecida, é um mosaico de cores fortes, densa, que estuda a mulher. O rosto anguloso, os olhos repuxados, dentes ferozes, curvas destituídas de sensualidade, são de uma mulher que se posta entre o abstrato e o figurativo. Parecem representar tanto a reverência quanto o medo que o poder feminino infundia no inconsciente do artista. A telas dessa séria foram meticulosamente planejadas. O público estranhou o aspecto grotesco das representações femininas e a crítica reprovou a inclusão de elementos figurativos na arte abstrata. De Kooning trabalhou formas angulosas e bruscas, oferecendo um berrante contraste com a representação sensual e deificada, na arte tradicional, da figura feminina.


"Mulher 1" - óleo s. canvas - 1,47 x 1,92 cm - Museum of Modern Art - New York 

O artista causou polêmica com a série "Mulheres", e justificou-se: "Alguns artistas atacaram-me por pintar mulheres, mas eu acho que isso era problema deles, não meu. Não me sinto como um pintor não-objetivo".

A série seguinte foi sobre os negros dos Estados Unidos e novamente suas obras chocaram o público. Começou-se a falar também do "rosa de Kooning".


Sem título - 1948 - esmalte e óleo s. linho

Em 1961 instalou-se em um grande atelier, em East Hampton. Recusou categoricamente pertencer ou ser afiliado a movimentos artísticos, porém, é catalogado como artista do expressionismo expressionismo abstrato.

Em 1963 De Kooning mudou-se para Long Island onde houve seu declínio criativo. O artista não abandonou a pintura, mas começou a trabalhar com esculturas em Roma, no ano de 1969, época em que executou suas primeiras figuras trabalhadas com argila e fundidas em bronze.




Sem título - 1972 -  bronze com patina marrom - 376 x 641 x 203 cm - Matthew Marks Gallery - NY

Willem de Kooning morreu em 1997, em East Hampton, Nova York, sendo diagnosticado com o mal de Alzheimer. Em 2012 teve uma retrospectiva no MOMA, em Nova York.