Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

30 de novembro de 2016

Galeria Nacional da Escócia, Edimburgo



Galeria Nacional da Escócia – National Gallery of Scotland

A Galeria Nacional da Escócia ou National Gallery of Scotland, é uma continuação da Galeria Nacional de Londres.  Possui a maior coleção de arte da Escócia e está entre as melhores do mundo. As duas galerias possuem o mesmo estilo tanto em seu  interior como em seu acervo, com obras de pintores conhecidos mundialmente, entre eles, Botticelli, Rembrandt, Raphael, Gauguin, Van Gogh, Velázquez. Obras dos pintores como Robert Burns e Henry Raeburn, os mais famosos da Escócia, também se encontram na Galeria. Na exposição, é possível apreciar ainda alguns desenhos originais de Leonardo da Vinci.


"Portrait of Walter Scott" - 1822 - óleo sobre tela - 76,2 cm X 63,5 cm - Henry Raeburn - Galeria Nacional da Escócia, Edimburgo

A Galeria possui dois andares, sendo que o primeiro é formado por quatro alas maiores, duas menores e um espaço para exibições, como o das obras do artista escocês George Bain,
chamada de Master of Celtic Art.


"Que teus passos retornem de todos os cantos do globo sob a orientação da estrela que aponta para casa".

Nas escadas que dão acesso ao segundo piso,é possível apreciar várias esculturas de rostos, em mármore, pendurados na parede.



Interior da Galeria Nacional da Escócia

O segundo andar possui apenas duas pequenas alas onde se encontram as obras dos pintores Espanhóis e os desenhos de Leonardo da Vinci.



"A velha cozinheira" - 1618 - óleo sobre tela - 99 cm X 128 cm - Diego Velazquez - Galeria Nacional da Escócia, Edimburgo.


"Studies of a dog´s paw" -  1490/95 - Leonardo da Vinci

As obras expostas na Galeria Nacional da Escócia, vão do Renascimento até o Pós-impressionismo. Entre elas estão esculturas, peças de mobiliários e alguns desenhos.



"A Sagrada Família da Palmeira" -  1506 - óleo sobre madeira transferido para tela - 101,5 cm de diâmetro - Rafael Sânzio - Galeria Nacional da Escócia - Edimburgo.

Os principais destaques da Galeria são os quadros de Rembrandt, sendo o mais famoso do museu, o seu "Auto Retrato", além de obras de Botticelli, Raphael, Gauguin, alguns quadros de Monet, Cézanne, Van Gogh e obras de pintores Espanhóis como El Greco, Goya e Velázquez.



“Autorretrato” - 1659 - óleo sobre lienzo - 52,7 cm X 42,7 cm - Rembrandt Van Rijn - Galeria Nacional da Escócia, Edimburgo.


Quanto às obras dos escoceses, a Galeria possui a coleção mais abrangente do mundo. O grande destaque é o quadro "Diana e suas nifas" de Robert Burns.



"Diana e suas nifas" - Robert Burns.


Obras do Acervo



"Visão do Sermão" (Jacob Wrestling com o Anjo) - 1888 - Paul Gauguin


"The Nativity" - 
1872 - William Bell Scott


"A adoração dos Reis" - 1540 - Jacopo Bassano (Jacopo da Ponte)


"Olive Trees" - 1889 - Vincent van Gogh


Exposição atual



"O Pintassilgo" - 1654 - Carel Fabritius

Uma das pinturas mais icônicas do mundo, nunca antes vista na Escócia, apenas no Reino Unido, é apresentada neste outono, na Galeria Nacional da Escócia, em Edimburgo. A obra, "O Pintassilgo", foi gentilmente cedida pela galeria fotográfica Real Mauritshuis, em Haia - cidade localizada na costa ocidental da Holanda, capital da província de Holanda do Sul - Quando apresentada em Nova York, em 2014, foram registradas 200.000 visitas, apreciadores enfrentaram longas filas em baixas temperaturas. 


Sobre a obra "O Pintassilgo"

"O Pintassilgo" ou "O Goldfinch", pintado por Carel Fabritius em 1654, é uma das pinturas mais bonitas e a mais misteriosa da idade dourada holandesa.

Na ocasião em que a obra foi pintada, esses passarinhos eram animais de estimação populares. Eles eram conhecidos por sua plumagem colorida, sua deliciosa canção e sua habilidade de aprender truques, como tirar água de uma tigela com um balde pequeno (daí o título holandês "Het Puttertje" - "a pequena gaveta de água"). Nas pinturas holandesas do período, esses pássaros eram o símbolo da desenvoltura e da destreza, ou mesmo do amor cativo. A descrição isolada que Fabritius fez do pássaro não pertence a tais tradições, e seu significado é mais alusivo. Há apenas um pássaro, pintado com extraordinário realismo, com a cabeça virada para o espectador e a perna presa por uma esbelta corrente de metal.




Sobre Carel Fabritius

Carel Fabritius (1622-1654) é visto frequentemente como a ligação entre dois gigantes da pintura holandesa: Rembrandt van Rijn (1609-69) e Johannes Vermeer (1632-75), em cujo trabalho teve uma influência considerável. Artista de extraordinária habilidade, Fabritius teve uma morte trágica e prematura, aos 32 anos, quando uma loja de pólvora explodiu, destruindo grandes partes da cidade de Delft, na Holanda, matando centenas de moradores. Presume-se que grande parte do trabalho de Fabritius foi perdida na explosão e somente cerca de uma dúzia de suas pinturas sobreviveram. Entre elas, "O Pintassilgo", pintado no ano em que o artista faleceu, é considerado por muitos como sua obra-prima.


"Eliezer e Rebecca no poço" - 1641 - Carel Fabritius - Galeria Nacional da Escócia


Galeria Nacional da Escócia - The Mound, Edinburgh EH2 2EL, Reino Unido.





23 de novembro de 2016

Lydia Delectorskaya a musa de Matisse



Henri Matisse com sua musa Lydia Delectorskaya

Henri Matisse gravurista, ilustrador, escultor, pintor e um dos principais nomes da arte moderna. Conhecido como o expoente máximo do movimento artístico chamado Fauvismo, que floresceu inicialmente na França entre 1901 e 1908.

Em suas obras Matisse buscava sempre manter o equilíbrio entre a tranquilidade e a vivacidade, em pinturas e esculturas simples e sem detalhes rebuscados.

Seus desenhos estão repletos de traços arabescos e formas planas nas quais as cores buscam a máxima expressão pela qual se impõem, seja nas formas geométricas ou nas figuras alegres e femininas.

A fixação do artista pelo corpo feminino, por cores vibrantes, tecidos, roupas e acessórios está presente em vários momentos de suas obras.



"Odalisca, harmonia no vermelho"
- 1926/27


Sobre Lydia Delectorskaya

Lydia Delectorskaya foi a bela loira de olhos azuis, da Sibéria, que se tornou modelo, musa e gerente do estúdio de Matisse nas últimas duas décadas de sua vida.

Lydia era muito jovem quando se casou, no sul da França, mas seu casamento durou apenas um ano. Devido a sua bela aparência logo conseguiu trabalho de dançarina em um filme e depois como modelo.


Lydia Delectorskaya

Delectorskaya foi contratada para cuidar de Amelie, esposa do artista, que estava doente. Três anos depois, Matisse convidou-a para posar para ele em seu estúdio. Lydia era diferente de todas as modelos que ele havia pintado antes, loira como uma princesa de gelo.

Após seis meses ajudando o artista no fabuloso mural "A dança", Lydia recebeu 500 francos de Matisse para recomeçar sua vida, mas seu parceiro perdeu tudo em uma noite no Casino, foi então que a dançarina começou a participar de maratonas de dança para pagar dívidas. Quando Matisse soube, ficou horrorizado. Foi o início de uma das parcerias mais frutíferas na arte.



"A dança" - 1910

Durante quatro anos, o artista não pintou mais ninguém. Lydia tornou-se indispensável, não só como modelo, mas também como sua assistente, assumindo o controle do estúdio e cuidando de todos os seus assuntos. Amelie, sua esposa inválida, sentindo-se traída, levantou-se da cama e exigiu que Matisse escolhesse "ou ela ou eu". O artista escolheu a esposa, mas Amelie nunca conseguiu perdoá-lo  e o deixou no início de 1939.

Após a separação do casal, Lydia voltou rapidamente para o estúdio de Matisse, em Paris, retornando ao trabalho e permanecendo ao seu lado durante o resto de sua vida.


Porta retrato Lydia - 1947

O relacionamento de Henri Matisse e Lydia Delectorskaya foi extremamente produtivo. O artista era 40 anos mais velho que sua assistente. Não há provas de que eles tenham tido um relacionamento sexual. Quando questionada, Delectorskaya sempre negou.

Dizem que Matisse e sua modelo Lydia, fizeram amor "apenas na tela" e que Matisse era muito comprometido com a pintura para perder tempo e energia fazendo sexo com suas modelos.


"Mulher jovem em uma blusa azul"
(Lydia Delectorskaya) 

Enquanto Matisse esteve doente, Lydia lhe trouxe calma, apoio e companheirismo, o que permitiu ao artista continuar no topo de seu poder criativo. Acredita-se que sem a sua assistente, Matisse não teria conseguido fazer as colagens que se  tornaram tão famosas. Delectorskaya também coordenou os quatro anos de preparação e instalação da obra, inundada de luz azul e amarela, na capela de Vence, nos arredores de Nice.



Capela do Rosário - Vence, Nice.

Quando Matisse morreu, em 1954, um dia após fazer o último retrato de Lydia, ela saiu imediatamente do estúdio, deixando os preparativos do funeral para a família do artista. 

"Antes, o cotidiano me aborrecia. Ao pintar, passei a sentir-me gloriosamente livre e tranquilo", disse Matisse.

Embora tendo sofrido essa grande perda em sua vida. Lydia ainda viveu por muito tempo, morrendo aos 88 anos de idade, em Paris, em 1998. Os quadros que Matisse lhe dera foram doados para o Hermitage em São Petersburgo e foram publicados dois livros sobre os anos mais produtivos da carreira de Matisse .



"Rosa nude" - (modelo Lydia Delectorskaya) - 1935


Lydia Delectorskaya


Lydia Delectorskaya


Lydia Delectorskaya

"Comigo, ele sabia como ser gentil e sedutor. Ele era charmoso, e tão tocante. Ele sabia como me domar". Lydia Delectorskaya


Para conhecer mais obras do artista, assista ao vídeo.







16 de novembro de 2016

Giambattista Tiepolo e a pintura barroca



Auto-retrato - 1750/53 - afresco - Giovanni Battista Tiepolo - Würzburg Residence, Germany

Giambattista Tiepolo, ou Giovanni Battista Tiepolo, foi um grande mestre da pintura italiana, um dos mais brilhantes autores da pintura barroca. Nasceu em Veneza, em 1696, e faleceu em Madri, em 1770.

Com estilo grandioso, caracteriza-se pela sofisticação e elevado senso que marcou os artistas do século XVIII. Os cenários por ele criados evocam uma dimensão terrena voltada para o infinito e a ficção, cromaticamente marcado por uma paleta de cores frias e irreais, dando às suas figuras e objetos um reflexo de tom prateado, perdendo toda a consistência plástica.

Seu aprendizado em arte começou em 1710, no ateliê de Gregorio Lazzarini, pintor de estilo eclético, capas de unir os diferentes estilos da tradição veneziana. Tiepolo aprendeu com Lazzarini os primeiros rudimentos da pintura e o gosto pela grandiosidade teatral das composições.



"Abraham Sacrifices Isaac" - 1705 - Gregorio Lazzarini

No começo de sua carreira, o artista sofreu a influência da pintura "tenebrosa" de Federico Bencovich e de Piazzeta, mas também recebeu dos mestres da Renascença Veneziana, como Tintoretto e Paolo Veronese.



"The Penitent Saint Jerome" - Federico Bencovich.

Em 1715, Tiepolo inicia uma pintura na igreja veneziana de Nossa Senhora dos Órfãos, representando figuras de apóstolos, criando o efeito claro-escuro e tons escuros.

Nesta mesma época o artista trabalhou para o doge que governava a cidade (Giovanni II Cornaro), em seu palácio, pintando quadros e retratos, dentre os quais o retrato do doge Marco Cornaro (1716), com tons pastel (mornos e claros), lembrando o trabalho de Sebastião Ricci. Ainda neste ano executou o afresco "Assunta" na igreja paroquial de Biadene. Em 11 de agosto expõe, na festa de S. Rocco, o seu esboço para o "Mergulho do Faraó".



"Assunta" - 1716 - Giovanni Battista Tiepolo

Em 1717, teve seu nome citado pela primeira vez dentre os grandes pintores venezianos, tendo sido incluído no livro "Grande apresentação da pintura e perspectiva de Veneza".

Tiepolo fez pinturas em diversos palácios e em 1727 teve o seu filho Giandomenico, como seu grande colaborador.


Em 1730 o artista criou "O triunfo das Artes", em Milão, uma obra-prima que foi destruída pelos bombardeios de 1943. Também realizou trabalhos sob encomenda para várias cortes europeias.



"O triunfo das Artes" - óleo sobre tela - 55.5 × 72 cm - 1729/30 - Giovanni Battista Tiepolo

Em 1761, o rei Carlo III de Espanha contratou Tiepolo para ornar com afrescos os quartos do novo Palácio Real, em Madri. Trabalhou vários anos na Espanha. Faleceu em 1769, em Madri, sendo enterrado na já destruída igreja de São Martin.

Tiepolo deixou com seus monumentais afrescos uma forte influência na maioria dos decoradores do século XIX.

Obras do artista, mais bem cotadas no mercado das artes:

"Retrato de mulher como Flora". É uma
pintura a óleo sobre tela, representando a ninfa Flora. A pintura foi encomendada ao artista pela imperatriz Isabel da Rússia, em 1760. Acredita-se que o quadro teve como modelo "Orsetta", a filha mais nova de Tiepolo.

A obra estava escondida em um recanto de um castelo francês desde o século XIX. Foi considerada pouco apropriada pelos avós dos atuais proprietários do castelo onde foi encontrada, por mostrar uma mulher com o peito nu.

O quadro foi leiloado na Christie's de Londres, em 2008, foi adquirido por um particular por 2,8 milhões de libras (3,3 milhões de euros), o preço mais alto alcançado para uma obra de Tiepolo.



"Retrato de mulher como Flora" - óleo sobre tela - 88.3 x 69.9 cm - 1760 - Giovanni Battista Tiepolo

"A Deposição de Cristo no Túmulo". Pintura a óleo sobre tela realizada na Espanha entre 1769 e 1770. O quadro também é conhecido como "O Enterro do Senhor".

A obra fazia parte da coleção particular portuguesa da família Pinto Basto. Foi leiloada em
2007, pela leiloeira Leiria e Nascimento, tendo o Estado Português exercido o direito a opção de compra, e adquirido a obra por 1,5 milhões de euros.

Em
2008 foi publicado, sobre a obra, no Diário da República do Estado Português. "Trata-se de um valor patrimonial e cultural de significado para a Nação", justificada pela "genialidade artística, a excelência e relevância patrimonial da obra, expressa no valor estético, técnico e material intrínseco" da pintura de Giambattista Tiepolo adquirida pelo Estado Português.


"A Deposição de Cristo no Túmulo" - óleo sobre tela - 1769/70 - Giovanni Battista Tiepolo

O quadro está exposto no
Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa desde 2008, onde já se encontram outras obras do pintor, como "Fuga para o Egipto", proveniente, de doação em 1946, da mesma coleção particular e "O Triunfo das Artes", incorporado a partir das coleções reais.


Algumas de suas obras


"Inmaculada Concepción" - óleo sobre tela -  279 X 152 cm - 1767/69 - Museo del Prado, Madrid.


"Rinaldo abandonando Armida" - óleo sobre tela - 187,5 X 216,8 cm - 1742/45 - The Art Institute of Chicago.


"Joven con loro" - óleo sobre tela - 70 X 52 cm - 1758/60 - Ashmolean Museum - Oxford






1 de novembro de 2016

MASP apresenta "A mão do Povo Brasileiro"


Exposição "A Mão do Povo Brasileiro" ganha nova montagem no MASP

O Museu de Arte de São Paulo (Masp) recriou a exposição "A Mão do Povo Brasileiro", aberta ao público em 1969, data da inauguração do museu. A mostra recupera as principais ideias da organizadora Lina Bo Bardi, com objetos da cultura material do Brasil. Lina defendia a desmitificação dos objetos de arte. Para ela, tanto essas obras, quanto os objetos utilitários, eram frutos do trabalho do homem, igualmente dignos de atenção e valor. Por isso, a organizadora contrapôs pinturas e esculturas pertencentes à cultura popular.



Exposição "A Mão do Povo Brasileiro", apresentada em 1969 no MASP

Com quase mil objetos produzidos por artistas do povo, a remontagem da exposição, que reproduz o quanto possível a original, de 1969, teve colaboração do cineasta Glauber Rocha e do diretor de teatro Martim Gonçalves. Aberta até janeiro, a mostra oferece ao público um panorama da arte de várias regiões do Brasil e cobre um amplo período histórico – desde uma roda de carro de boi, de 1876, até a produção do século 20, incluindo aí telas de Agostinho Batista de Freitas e José Antonio da Silva, entre outros artistas designados como primitivos.



Exposição "A Mão do Povo Brasileiro", apresentada em 2016 no MASP

Também, estão expostas carrancas, santos, tecidos, peças de vestuário, mobiliário, ferramentas, utensílios de cozinha, instrumentos musicais, adornos, brinquedos, figuras religiosas, pinturas e esculturas.



“Decidimos por adotar a exposição como um estudo de caso, e tentar dissecar e entender quais foram as razões da Lina e do museu para realizar essa exposição, tentar entender as relações dessa mostra, sobretudo com objetos utilitários, cultura material brasileira, cultura popular, a relação desse material com o acervo do museu, majoritariamente europeu, ou modernista brasileiro”, destacou Tomás Toledo, um dos três curadores da exposição.

Dentre as peças pertencentes à mostra atual, 55 fizeram parte da exposição apresentada 1969, entre elas São Jorge Articulado, Bom Jesus de Iguape, Senhor Morto (Cristo Articulado) e Nossa Senhora das Dores, de vestir.


"São Jorge"

“Nossa proposta foi tomar essa exposição como um passo inicial, uma mirada para a produção tanto de arte popular brasileira, quanto de cultura material brasileira, e também uma oportunidade para repensar essas nomenclaturas tão problemáticas que já estão superadas, como cultura popular e arte popular. Tentar dissolver as distinções entre arte, artefato, e artesanato, nos pareceu que essa retomada seria uma oportunidade para pensar tudo isso junto”, disse Tomás.

Entre os objetos inéditos, destacam-se recipientes de cerâmica, moendas, cestos de palha, joias de escrava, adereços indígenas, ferramentas de orixás, colheres de pau, bonecas de pano, prensas, cadeiras, arcas, boi de bumba-meu-boi, alambique, máscaras de carnaval, matrizes de xilogravura, colchas de retalho e santas de vestir.




“Nós refizemos a exposição exatamente na mesma sala em que foi apresentada em 1969, respeitamos a tipografia original da Lina, com alguns ajustes, totalmente baseada em madeira crua, em chapas de pinos nas paredes, com nichos, estantes, objetos pendurados na parede, e no chão com tablados, ilhas, de madeira, de pinos, aparentes, onde ficam os objetos maiores, os maquinários, esculturas, mobiliários”, ressaltou o curador.

A exposição apresenta esculturas e pinturas de artistas autodidatas, que trabalhavam à margem do circuito tradicional das artes. Integram a mostra nomes como Agnaldo dos Santos, Agostinho Batista de Freitas, Aurelino dos Santos, Cardosinho, Emídio de Souza, José Antônio da Silva, Madalena dos Santos Reinbolt, Manezinho Araújo, Mestre Vitalino, Mudinho, Rafael Borges de Oliveira e Zé Caboclo.



Agnaldo dos Santos


Sobre a artista Lina Bo Bardi

Sobre a artista carioca, a curadora Julieta González lembra que será exibido na mostra um curta-metragem que trata dessa relação, "A Mão do Povo" (1975), documentário de Pape sobre o crepúsculo das tradições artesanais, tema que preocupava especialmente Lina Bo Bardi, empenhada em repensar o design a partir da invenção e improvisação do povo brasileiro.

Durante a mostra serão exibidos filmes sobre questões sociais relacionadas às culturas marginalizadas, como a sertaneja e a de origem africana. No ciclo organizado pela curadora estão os filmes "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha e "Ganga Zumba", de Cacá Dieges. Antes de "A Mão do Povo Brasileiro", Lina organizou a mostra "Nordeste", em 1963, que inaugurou o Museu de Arte Popular no Solar do Unhão, construção do século XVI que ficou tomada por objetos construídos por restos da civilização (lâmpadas queimadas que viravam lamparinas, colchas feitas de retalhos de tecidos). A mostra foi depois cancelada pela embaixada brasileira em Roma, quando os militares tomaram o poder. O crítico e arquiteto italiano Bruno Zevi teria dito: “A arte dos pobres dá medo aos generais”.



Serviço


Exposição "A mão do Povo Brasileiro"

Onde: Masp - Av. Paulista, 1578.

Quando: De terça a domingo, das 10h às 18h, às quinta das 10h às 20h.

Quanto: Entrada inteira R$ 25,00, meia-entrada R$ 12,00. Às terças a entrada é gratuita.