Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

22 de fevereiro de 2017

A Pintura Metafísica de Giorgio De Chirico


"Piazza d'Itália" - 1913 - óleo sobre tela - 35cm x 25cm - Art Gallery of Ontario, Canada.


Principal representante da "pintura metafísica", Giorgio De Chirico constitui um caso singular. Poucas vezes um artista alcançou tão rapidamente a fama para, em seguida, renegar o estilo que o celebrizara e cair em um esquecimento quase absoluto.

Giorgio De Chirico, (1888) nasceu em Vólos, na região grega da Tessália, onde seu pai trabalhou até falecer. Após a morte de seu pai, o artista viajou com a família pela Itália e pela Alemanha e ficou fascinado com a pintura do simbolista suíço Arnold Böcklin.




"Die Toteninsel" (A Ilha dos Mortos) - 1886 - Arnold Böcklin - óleo sobre tela - 150cm X 80cm - Museu Metropolitano de Arte de Nova York - MET.

A pintura metafísica de Giorgio de Chirico antecipa elementos que depois apareceram na pintura surrealista: padrões arquitetônicos, grandes espaços nus, manequins anónimos e ambientes oníricos.

O que o artista qualificava como "pintura metafísica" correspondia à necessidade de sonho, de mistério e de erotismo próprio do surrealismo. E assim, a obra de De Chirico alcançou um êxito considerável.




"The Soothsayer's Recompense" (A recompensa do Adepto) - 1913 - óleo sobre tela - Philadelphia Museum of Art, Philadelphia.

Por volta de 1909 começou a pintar seus famosos cenários arquitetônicos, solitários, irreais e enigmáticos, onde colocava objetos diversos para revelar um mundo onírico e subconsciente, perpassado de inquietações metafísicas.

Para isso, valeu-se da perspectiva tradicional do Renascimento florentino - que proporcionava ao conjunto uma sensação de infinitude - de um desenho marcado e de uma luz uniforme, com arcadas, torres, praças e fachadas.




"The Enigma of a Day" (O Enigma de um dia) - 1914 - óleo sobre tela - 135cm X 139cm - Museu de Arte Moderna de Nova York - MoMA.

Em 1911 mudou-se para Paris onde, no ano seguinte, fez sua primeira exposição muito admirada por Picasso e Appolinaire.

Durante a primeira guerra mundial conheceu, num hospital italiano, o pintor futurista Carlos Carrà, com quem fundou a Scuola Metafisica.

Durante esses anos, introduziu em seus quadros maior diversidade de objetos, neles apareciam manequins, nus ou vestidos à moda clássica, enigmáticos e sem rosto ("Heitor e Andrômaca"), que pareciam simbolizar a estranheza do ser humano diante de sua ambiência.




"Heitor e Andrômaca" - 1946 - óleo sobre tela - 82cm X 60cm - Coleção particular, Roma.

Na década de 1920, inesperadamente, De Chirico mudou para um estilo classicista, distanciado do metafísico, e, ainda que tenha participado da exposição surrealista de Paris em 1925, afastou-se cada vez mais desse movimento.

Em 1940 regressou à Itália e adotou um estilo já decididamente acadêmico, baseado em temas mitológicos e clássicos.





"Gladiadores" - 1935 - óleo sobre tela - 74,7cm X 59,8cm.

Giorgio De Chirico faleceu em 20 de novembro de 1978 em Roma, de uma parada cardíaca.

Com sua pintura, Giorgio De Chirico antecipou o triunfo da estética surrealista de certo modo, o enigma de sua radical transformação pictórica acrescenta mais uma interrogação ao estranho mundo de suas visões.


Algumas de suas obras




"Canto d'amore" (Canto de Amor) - 1914 - óleo sobre tela - 73cm X 59cm - Museu de Arte Moderna de Nova Iork - MoMA.




"The Uncertainty of the Poet" (A incerteza do poeta) - 1913 - óleo sobre tela - 106cm X 94cm - Tate Modern, Londres.



"The Disquieting Muses" (As musas inquietantes) - 1916/17 - óleo sobre tela - 97cm x 66cm - Coleção privada.



Sobre a Pintura Metafísica


Características:
Os elementos arquitetônicos mobilizados nas composições – colunas, torres, praças, monumentos neoclássicos, chaminés de fábricas etc. – constroem, paradoxalmente, espaços vazios e misteriosos. As figuras humanas, quando presentes, carregam consigo forte sentimento de solidão e silêncio. São meio-homens, meio-estátuas, vistos de costas ou de muito longe. Quase não é possível ver rostos, apenas silhuetas e sombras, projetadas pelos corpos e construções.

Na pintura metafísica o mistério, o sonho, os espaços vazios, as sombras, as perspectivas inesperadas, as justaposições que são encontradas na obra de Giorgio De Chirico influenciaram os artistas surrealistas. Nos seus quadros, os objectos parecem não ter sentido.

"Para se tornar verdadeiramente imortal uma obra de arte deve escapar de todos os limites humanos. A lógica e o bom senso só irão interferir. Mas quando essas barreiras são quebradas, entra na região de visão da infância e do sonho." Em “Mistério e Criação”, Giorgio de Chirico, Paris 1913.







15 de fevereiro de 2017

O Surrealismo de Marc Chagall



"America Windows" - Marc Chagall - Art Institute of Chicago

Marc Chagall (1887-1985), foi um pintor, gravador e vitralista. O artista francês, de origem russa, era judeu e como tal lutou para sobreviver à revolução bolchevique na Rússia e ao nazismo. Teve sua arte ignorada por muito tempo pela sociedade e pela própria família, que desaprovava sua escolha. Isso lhe dificultou conseguir os recursos necessários para desenvolvê-la. Os seus quadros remetem muito à sua vida de menino em Vitebsk, denotando saudosismo numa linguagem lírica e moderna. Era um romântico: pintava quase essencialmente suas memórias e fez de sua obra uma verdadeira poesia fantástica, no mais amplo sentido da palavra.

No âmbito da arte contemporânea, marcada pelo formalismo e a abstração, a pintura de Chagall se destaca pela importância que nela tem o elemento temático, de fundo onírico, que mostra por sua vez as fundas raízes afetivas e culturais do artista.

Iniciou-se em pintura no ateliê de um retratista local. Em 1908 estudou na Academia de Arte de São Petersburgo e, de volta à cidade natal, conheceu Bella, de quem pintou um retrato em 1909.



"My Fiancee in Black Gloves" - 1909 - Marc Chagall - Kunstmuseum, Basiléia (O Museu das Belas Artes de Basileia, na Suíça).

Retornou a São Petersburgo e de lá seguiu para Paris em 1910, ligando-se a Blaise Cendrars, Max Jacob e Apollinaire e aos pintores Delaunay, Modigliani e La Fresnay.

Marc Chagall trabalhou intensamente para integrar seu mundo de fantasias na linguagem moderna, derivada do fauvismo e do cubismo.

As obras mais importantes do artista nesse período são: "Moi et le village" ("Eu e a aldeia"), 1911, "L'Autoportrait aux sept doigts" ("Auto-retrato com sete dedos"), 1913, "La Femme enceinte" ("Mulher grávida"), 1912/13, "Le Soldat boit" ("O soldado bebe"), 1912/13.




"Moi et le village"
("Eu e a aldeia") - 1911 - óleo sobre tela - 1,92cm X 1,51cm - Marc Chagall - Museu de Arte Moderna de Nova Iork - MoMA.




"Self-Portrait with Seven Fingers", (Auto-retrato com sete dedos") - 1913 - óleo sobre tela - 107cm X 128cm - Marc Chagall - Stedelijk Museum, Amsterdam.




"La Femme enceinte" ("Mulher grávida") - 1912/13 - óleo sobre tela - 193cm X 116cm - Marc Chagall - Stedelijk Museum, Amsterdam.




"Le Soldat boit" ("O soldado bebe") - 1912/13 - óleo sobre tela - 109,2cm X 94,6cm - Marc Chagall - Solomon R. Guggenheim Museum, Nova Iork.
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A maioria dos títulos de suas obras foram dados por Cendrars e seu amigo escritor e crítico de arte. Apollinaire, foi quem selecionou as telas que Chagall expôs em 1914 em Berlim, com grande influência sobre o expressionismo de pós-guerra.



"Birthday" - 1915 - óleo sobre tela - 81cm X 99,7cm - Marc Chagall.

Com o início da Primeira Guerra Mundial, Chagall que estava de visita à Rússia, em 1914, não pôde voltar à Europa. Foi nesse período que o artista se casou com Bella, uma moça que havia retratado antes de partir para a Europa. Mesmo após a morte da amada, o artista continuou refletindo seu amor pela esposa em suas obras.

No tempo em que permaneceu na Rússia assumiu o cargo de Comissário de Arte de Vitebsk. Permaneceu lá até 1922 quando voltou a Paris, onde iniciou um período de grande produção artística. Recebeu uma encomenda do editor Ambroise Vollard, para ilustrar a Bíblia e executou 96 gravuras para uma edição de Almas mortas, de Gogol, só publicada em 1949. Na mesma época, pintou murais para a sala e o foyer do teatro judeu de Moscou.


Almas Mortas (Gogol), O Lobo e a Cegonha (La Fontaine), Jacó e o Anjo (Bíblia) e Dafne e Cloé.

Em 1927, Chagall, ilustrou as Fábulas, de La Fontaine, um conjunto de cem gravuras que foram publicadas somente em 1952. Os anos que se seguiram foram prósperos na vida pessoal e profissional de Marc Chagall.
São dessa fase suas primeiras paisagens, bem como quadros que renovaram o tema lírico das flores.


"Fábulas" de La Fontaine.

Em 1931 Chagall visitou a Palestina, a Síria e publicou "Ma vie" ("Minha vida"), autobiografia ilustrada por gravuras que já haviam aparecido em Berlim em 1923. Em 1933 realizou grande retrospectiva no Kunstmuseum, de Basiléia.

A partir de 1935 o clima da 2ª Guerra Mundial e da perseguição aos judeus repercutiu em sua pintura, na qual os elementos dramáticos, sociais e religiosos passaram a tomar vulto.

Em 1941 foi para os Estados Unidos. Em 1944, faleceu sua esposa Bella Chagall, causando-lhe grande depressão. Mergulhou de novo no mundo das evocações e concluiu o quadro "Autour d'elle" ("Em torno dela"), Musée National d'Art Moderne, Paris, iniciado em 1937 e que se tornou uma síntese de sua temática. Em 1945 pintou grandes telas de fundo, cenários para o balé "O pássaro de fogo", de Stravinski.


"Autour d'elle Huile"
("Em torno dela") - 1945 - óleo sobre tela - 131cm X 109,7cm - Marc Chagall - Musee National d'Art Moderne, Paris.

Regressou definitivamente à França em 1947. Em 1950 criou vitrais para a sinagoga da universidade hebraica de Jerusalém, como também, vitrais para a catedral de Metz. Chagall esteve várias vezes em Israel nessa época, desincumbindo-se de várias encomendas.

Na França e nos Estados Unidos, além de vitrais, realizou mosaicos, cerâmicas, murais e projetos de tapeçaria. Em 1973 foi inaugurado em Nice o Museu da Mensagem Bíblica de Marc Chagall. Em 1977 o governo francês agraciou-o com a grã-cruz da Legião de Honra.

Reconhecido como um dos maiores pintores do século XX, Marc Chagall, faleceu em Saint-Paul de Vence, no sul da França, em 28 de março de 1985.















8 de fevereiro de 2017

O Modernismo nas Artes Plásticas





"Criador de Bananal" - 1927 - Lasar Segall.

O Modernismo foi uma corrente artística que surgiu na última década do século XIX, em oposição às formas clássicas, como resposta às consequências da industrialização, valorizando novamente a arte e a sua forma de realização, manual e artística, como por exemplo, pintura, escultura, literatura, arquitetura, fotografia e música. Embora não haja consenso sobre a datação deste período, muitos especialistas em arte consideram que o movimento foi até a década de 1970.

Na Europa, essa vanguarda teve como marca o avanço tecnológico e científico do início do século XX. Nesse período, o cotidiano das pessoas sofre uma verdadeira revolução com a supervalorização do progresso e da máquina e o Capitalismo entra em crise dando início à Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A seguir, a crise financeira, oriunda do conflito, leva à Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e nos anos intermediários, conhecidos como “os anos loucos”, as pessoas passaram a conviver com a incerteza e com o desejo de viver somente o presente.


"Pintura" - 1917 - Amadeo de Souza Cardoso (artista português) - Centro de Arte Moderna - Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.

O termo Modernismo pode ser entendido como sinônimo de inovador, contemporâneo, ousado e transformador em oposição ao ultrapassado, obsoleto e antigo. Dois estilos surgidos na França deram base para esse grande movimento que eclodiu no século seguinte. O primeiro foi o Impressionismo (pintores modernos geralmente escolhiam cenas de exteriores como temas para suas obras: paisagens e pessoas humildes). O segundo foi o Simbolismo (tudo pode assumir um significado simbólico, elementos da natureza, construções do homem, formas abstratas, etc. Todo o cosmos é um símbolo em potencial). Ambos estilos rejeitaram as convenções da arte acadêmica vigente no fim do século XIX, gerando um grande impacto nas artes visuais. A seguir vieram outros estilos que influenciaram o início do século XX. O Cubismo, Futurismo, Surrealismo e o Expressionismo.

Os artistas modernos sofriam constantes críticas em função dos novos modelos adotados, no entanto resistiram às pressões e aos poucos foram conquistando o gosto do público.


Alguns artistas europeus Modernistas




Kandinsky, obra inspirada pelas peças "Opus 11" de Schoenberg - 1911


"Natureza Morta com Vaso de Gengibre I" - óleo sobre tela - 65,5cm X 75cm - 1911 - Piet Mondrian - Museu Municipal de Haia.


"Bust of a Woman"  
(Dora Maar) - óleo sobre tela - 1938 - Pablo Picasso - Hirshhorn Museum and Sculpture Garden.


"Música"
- óleo sobre tela - 2,60cm X 3,89cm - 1910 - The Hermitage - St Petersburg.


O Modernismo no Brasil


O termo identifica o movimento desencadeado pela Semana de Arte Moderna de 1922, que foi a reunião de vários artistas (pintura, literatura, música, arquitetura, escultura e outros) de várias tendências artísticas que buscavam renovar as artes, difundindo suas ideias e rompendo, assim, com a cultura tradicional e conservadora do século XIX.

O período de 1922 a 1930, é o que mais se evidencia um compromisso dos artistas com a renovação estética, beneficiada pelo contato estreito com as vanguardas europeias (cubismo, futurismo, surrealismo, etc.). Tal esforço de redefinição da linguagem artística se soma a um forte interesse pelas questões nacionais que ganham destaque a partir da década de 1930, quando os ideais de 1922 se difundem.




O impulso teria vindo da pintura de Di Cavalcanti à frente da organização do evento, das esculturas de Brecheret e, sobretudo, da exposição de Anita Malfatti, em 1917. Os trabalhos de Anita desse período (O Homem Amarelo, a Estudante Russa, A Mulher de Cabelos Verdes, A Índia, A Boba, O Japonês entre outros.) apresentam um compromisso com os ensinamentos da arte moderna: a pincelada livre, a problematização da relação figura/fundo, o trato da luz sem o convencional claro-escuro.



"A Boba" - 1916 - Anita Malfati



"O Homem Amarelo" - 1917 - Anita Malfati

A obra de Di Cavalcanti segue outra direção. Autodidata, Di Cavalcanti trabalha como ilustrador e caricaturista. O traço simples e estilizado se tornará a marca de sua linguagem gráfica. A pintura, iniciada em 1917, não apresenta orientação definida. Suas obras revelam certo ecletismo, alternando o tom romântico e "penumbrista" (Boêmios,1921) com as inspirações em Pablo Picasso, Georges Braque e Paul Cézanne, que o levaram à geometrização da forma e à exploração da cor (Samba e Modelo no Atelier, ambas de 1925).



"Boêmios" - pastel - 34cm X 23cm - 1921 - Di Cavalcanti - Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo.




"Samba" - 1925 - Di Cavalcanti - Destruída em incêndio no Rio de Janeiro, em 2012 - Acervo particular..

Os contrastes cromáticos e os elementos ornamentais da pintura de Henri Matisse, por sua vez, estão na raiz de trabalhos como "Mulher em Casaco Roxo", 1937. A formação italiana e a experiência francesa marcam as esculturas de Brecheret. Autor da maquete do Monumento às Bandeiras, 1920, e de 12 peças expostas na Semana de Arte Moderna(entre elas, Cabeça de Cristo, Daisy e Torso), Brecheret é o escultor do grupo modernista, comparado aos escultores franceses Auguste Rodin e Emile Antoine Bourdelle pelos críticos da época.


"Mulher em Casaco Roxo" - 1937 - Henri Matisse 


"Cabeça de Cristo" - Década de 1940 - Victor Brecheret - Coleção particular


Assista ao vídeo -  "Viajando pelo Modernismo - Aspectos da cultura brasileira".


              







1 de fevereiro de 2017

Edward Hopper. O pintor da solidão




"Auto retrato" - 1925/30 - Edward Hopper

Edward Hopper (1882-1967), foi um pintor, artista gráfico e ilustrador norte-americano conhecido por suas misteriosas pinturas de representações realistas da solidão na contemporaneidade. Em ambos os cenários urbanos e rurais, as representações do artista refletem a sua visão pessoal da vida moderna na América.

Nascido no estado de Nova Iorque, Hopper estudou design gráfico, ilustração e pintura na sua cidade natal. Um dos seus professores, o artista Robert Henri, encorajava os seus estudantes a usarem as suas artes para "fazer um movimento no mundo". Henri, foi de grande influência para Hopper e motivou vários estudantes a fazer descrição realista da vida urbana.



"Automático" - 1927 - Edward Hopper

Hopper, foi um contador de histórias. Viveu os anos da depressão e viu na cidade de Nova York um lugar para viver. Foi dela que veio a inspiração para muitos dos seus trabalhos.

Seus personagens estão sempre só, entretidos consigo mesmos. Talvez em uma solidão urbana quase inevitável, mas não parecem necessariamente tristes. Eles não têm nome, não fazem qualquer coisa extraordinária. Não são diferentes ou especiais. São apenas comuns.

Eles estão trabalhando em um posto de gasolina, até mais tarde no escritório, tomam café e compartilham o balcão com desconhecidos, leem revistas, jornais, fazem isso enquanto o tempo corre, enquanto alguém está indo de um lugar para o outro, ou algo é resolvido ao redor.



"A Barbearia" - 1931 - Edward Hopper

Dizem que o artista lia com certa frequência uma citação de Ralph Waldo Emerson, no qual há uma definição de solidão que o inspirava.

“O grande homem é aquele que, no meio da multidão, mantém com perfeita doçura a independência da solidão” - Ralph Waldo Emerson.

A inquietude que surge por meio da pintura de Hopper pode ser mais o fruto do nosso desconhecimento sobre as diferenças entre solidão e solitude, tristeza e melancolia, do que propriamente um fato inerente às obras. Ainda que haja algo melancólico  nos olhares, nas cores, nas composições, nos lugares, não nos transmite desespero.



"A Gasolineira" - 1940 - Edward Hopper

São cenários urbanos e também rurais, onde reina a descrença: nas pessoas, na cidade, na perspectiva de uma vida melhor; onde o pessimismo se instala no quotidiano. Edward Hopper inspirou-se nas juventudes perdidas, na Guerra, nos escravos da época e nos milhares de empregos perdidos. O seu estilo de linhas finas e cuidadas, acompanhadas de formas largas e de uma iluminação invulgar, consegue captar exatamente o que o artista pretendia: o vazio, a solidão, a imobilidade estática que aprisiona as emoções e as vidas dos personagens.

Em 1925, foi pintada a obra “Casa ao lado da ferrovia”. Uma mansão isolada, sem ninguém por perto, em frente a linha do trem. Hopper era um cinéfilo assumido e transpunha para estas paisagens os truques de mistério e suspense utilizados nas telas. Mas o contrário também acontecia. Por exemplo, em 1960, esse quadro inspirou Alfred Hitchcock na criação do "Hotel Bates" do filme "Psicose". Na época, a obra foi o primeiro trabalho adquirido pelo recém-aberto ao público, Museum of Modern Art, MoMA.



"Casa ao lado da ferrovia" - 1925 - Edward Hopper

As figuras humanas pintadas pelo artista demonstram uma melancolia e um silêncio que mais facilmente associaríamos a paisagens. O seu realismo capta a essência interior de cada um de seus personagens. Em “Aves noturnas” de 1945, Hopper, pinta mais de três pessoas juntas, pinta a forma como cada uma se refugia na sua própria solidão. Já em “Noite de Verão” de 1947, existe apenas o distanciamento entre um casal de namorados, mostrando que mesmo alguém tão próximo de nós pode estar muito longe do nosso íntimo.



"Noites de Verão" - 1947 - Edward Hopper

A obra de Edward Hopper, não importa o quanto você olhe, o quanto você se esforce para ver mais, para entender o que está se passando além daquelas paredes. Não importa sob qual ângulo você tente atravessar seu olhar por aquelas janelas, elas vão continuar teimando em revelar apenas o suficiente para forçá-lo a tentar de novo.

Você nunca vai deixar de ser um observador invisível, condenado ao silêncio, à distância, à melancolia.

Pelas janelas de Edward Hopper, você sempre vai estar condenado à solidão.



"Filme de Nova Iorque" - 1939 - Edwar Hopper


Curiosidades sobre Edward Hopper

Hopper, quando não estava em seu estúdio, na Washington Square, em Nova Iorque, passava a maior parte do tempo observando e desenhando cenas nos cafés e nas ruas. Frequentava também, óperas e teatros.

Casou-se em 1923 com Josephin Nivision, artista e antiga colega da NY Academy. Jo Hopper, como era conhecida, foi a musa inspiradora do artista americano em praticamente todas as figuras femininas de suas obras.



"Josephin Nivision" - "Jo Hopper"

A mulher que toma uma chávena de café sozinha "Automat", 1927, a mulher sentada na cama a olhar fixamente pela janela "Morning Sun", 1952, a mulher sentada no comboio lendo um livro "Chair Car", 1965. Jo Hopper era todas estas mulheres, e nenhuma delas.



"Sol da manhã" - 1952 - Edward Hopper

Hopper passou anos sem conseguir uma exposição. Só aos 37 anos, e com a ajuda de Josephine, já reconhecida no meio artístico da época, é que Edward Hopper recebeu o primeiro convite para expor seis das suas aquarelas no Brooklyn Museum (1923).



"O telhado em mansarda", aquarela sobre grafite, 34cm x 48cm.

Uma das aquarelas foi adquirida pelo Museu para a sua coleção permanente, sendo a segunda pintura que o artista vendeu em 10 anos. Apesar disso, o trabalho de Hopper tornou-se rapidamente notado, tendo atingido aos 41 anos grande reconhecimento.

Quando Edward e Jo Hopper começaram a pintar juntos, houve uma nítida e curiosa influência na produção artística mútua: Tendo transitado de uma paleta de tons muito escuros para tons mais brilhantes, tipicamente utilizados pela sua mulher, Edward começou finalmente a ver o seu trabalho apreciado e a conquistar sucesso. Já Josephine, que começou a reproduzir nas suas pinturas o estilo de Hopper, perdeu todo o reconhecimento. Josephine referia-se habitualmente às pinturas do marido como as suas “crianças”.



"Cena da Floresta" - óleo sobre painel - 1914/23 - Josephine N. Hopper - Whitney Museum of American Art, New York.

Uma das obras mais conceituadas do pintor americano "Nighthawks", Edward e a sua esposa servem de modelos. As duas figuras masculinas sentadas no restaurante foram baseadas no pintor, tendo Josephine pousado para a criação da figura feminina ruiva.

Em uma carta que Josephine enviou à sua irmã pode ler-se “Ed terminou agora uma pintura muito boa – um restaurante, à noite, com três figuras. Nighthawks seria um ótimo nome para ela. Edward posou para os dois homens em um espelho e eu para a rapariga. Ele esteve cerca de um mês e meio a trabalhar nesta pintura".



"Nighthawks" - 1942 - Edward Hopper

Em 1968, após o falecimento de Edward Hopper, Josephine doou todas as obras do artista ao Whitney Museum , NY. Aproximadamente 3.000 trabalhos no total. Até há pouco tempo, pensava-se que todos os trabalhos de sua esposa Jo Hopper teriam sido destruídos mas, recentemente, foram encontrados mais de 200 obras da autora nos arquivos do mesmo Museu.