Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

25 de maio de 2016

Crystal Gregory - Dando vida à paisagem urbana



CRYSTAL GREGORY: CORES E LINHAS NA PAISAGEM URBANA


Crystal Gregory é uma artista norte-americana cujo principal trabalho consiste em esculturas feitas com vidro e chumbo. Mas, longe das galerias e museus, seu trabalho muda de figura e assume forma de belas intervenções públicas em tricô.

Uma trama de linhas e cores, criada a partir da paisagem urbana e modificada, esse é o trabalho da artista plástica Crystal Gregory que, através da inspiração em elementos do cotidiano, deixa as cidades mais alegres com suas delicadas intervenções. 

A artista plástica parece ser capaz de romper a rigidez do mar de concreto que formam as cidades. Com um trabalho extremamente feminino e delicado, Crystal cria tramas de intervenções coloridas que, segundo ela mesma, exploram “interiores domésticos e exteriores arquitetônicos, nostalgia e modernidade, fragilidade e força, feminilidade e masculinidade”.


A artista, através da sua arte, modifica o cenário urbano e integrar-se a ele de forma natural. Seu trabalho consiste na criação de “objetos e instalações que estão relacionados ao lugar, ao corpo e à arquitetura”. Prova disso é a instalação "Foot Traffic" de 2010, inspirada nos sapatos que eram arremessados por jovens na ponte Lincoln Road e formavam um verdadeiro candelabro de fios e cores. Gregory “teceu” com crochê e linhas coloridas a grade da ponte. Uma intervenção sutil, mas que muda de forma alegre o panorama do local.


"Foot Traffic" - Crystal Gregory

Ainda utilizando linhas, mas agora sem a variedade de cores do "Foot Traffic", são as obras "Foundation I e II". Ambas trabalham com a questão do interior e o exterior na arquitetura, abordando temas como a estrutura e o padrão nos espaços domésticos. Na "Foudation I" tijolos são envolvidos por crochê artesanal, já na "Foundation II" alguns tijolos de concreto são substituídos pela trama de crochê e por uma iluminação interna que resulta em uma bela intervenção sensível perante a rigidez do concreto.


"Foudation I" - Crystal Gregory


"Foundation II" - Crystal Gregory

Seguindo ainda essa vertente que desafia a rigidez e seriedade das cidades, se encaixa a intervenção "Crochê Invasivo", que recobre de crochê feito manualmente algumas superfícies improváveis como cercas de arame farpado, o resultado é a dualidade delicadeza e aspereza convivendo harmonicamente.


"Crochê Invasivo" - Crystal Gregory

O trabalho com tramas não está presente somente no uso de fios nas obras de Gregory, em "Heirloom" (Relíquias de família) de 2010, feito com madeira, vidro jateado e chumbo, o trabalho cria uma rede de desenhos na madeira que se assemelha a uma delicada renda, porém, ao se olhar mais atentamente, é possível ver a deterioração do material nas bordas dos desenhos, dando a real impressão de se tratar de algo antigo, uma verdadeira relíquia de família. 


"Heirloom" (Relíquia de família) - Crystal Gregory

Neste jogo de arte e elementos do cotidiano situa-se a obra "Searching Home" que associa a renda a objetos domésticos. Ao rasgar os objetos Gregory diz estar procurando um sentido para a casa, já que em sua vida não permaneceu em um mesmo lugar por mais de um ano. “A renda desempenha um papel central no meu trabalho. Eu estou apaixonada pela sua capacidade de revelar mais do que é, na verdade esconde, evocando ideias de sexo, classe, domesticidade, e padrão". 


"Searching Home" - Crystal Gregory

Os trabalhos mais recentes de Crystal não utilizam linhas, mas ainda assim evidenciam a ideia de trama e exploram a relação interior e exterior. Um deles é a obra "Passage", que consiste em um volume feito de vidro e chumbo inspirado no padrão do átrio do Rookery Building, em Chicago, que explora a relação dentro-fora, e a “passagem visual” através do vidro. 


"Passage" - Crystal Gregory

Outra obra recente é "7:26 am", que estuda o padrão da luz nos espaços interiores e, assim como outros trabalhos da artista, se inspira em elementos do cotidiano. Neste caso é a luz da manhã que invade a janela de seu apartamento em Chicago. Utilizando triângulos de aço soldado Gregory diz ter se inspirado “na dependência que as pessoas têm por padrões de conforto, ordem e identidade. Através do reconhecimento de ritmos repetitivos, entendemos e organizamos nossas vidas”. 


"7:26 am" - Crystal Gregory

Semelhante ao trabalho de tramas de Gregory, existe um conjunto de intervenções artísticas conhecidas como "Yarn Bombing" (bombardeio de fios), também chamado de "tricô de guerrilha". É um movimento de arte de rua semelhante ao grafite, mas que pinta a cidade com fios e não com tinta. Árvores, carros, bicicletas e até buracos nas ruas e calçadas se tornam matéria-prima e são envolvidos por alegres e coloridas intervenções de crochê, tricô ou bordado. 


"Yarn Bombing" (bombardeio de fios)

A precursora desse recente movimento é Magda Sayeg, de Houston, que em 2005 teria coberto o trinco da porta da sua loja com fios, o que chamou a atenção da população e a levou a criar o grupo "KnittaPleas" com objetivo de reunir adeptos desse tipo de intervenção. O movimento de intervenções usando fios se espalhou pelo mundo e o grupo "Knit in the City", no Reino Unido, é considerado um dos maiores do gênero.


"KnittaPleas" - Londres

Crystal Gregory possui intervenções que ela mesma nomeia como "Crochê Grafite" e que faz parte das ações do tricô de guerrilha que para ela desafiam os pressupostos de gênero “através da tecelagem de rendas, trabalho feminino nas fendas e espaços masculinos na paisagem urbana”. 

O trabalho de Gregory e as intervenções do tricô de guerrilha "Yarn Bombing" transformam, ainda que de forma efêmera, a paisagem urbana, quebrando sutilmente o rigor cinza das cidades. Um sopro de delicadeza e cor que chama a atenção e encanta olhares desatentos que se surpreendem com a arte que, ao mesmo tempo em que modifica, se origina da própria cidade. 


"Crochê Grafite" - Crystal Gregory 






18 de maio de 2016

Piet Mondrian e o movimento De Sttijl em Brasília



Brasília recebe exposição de Mondrian e do movimento De Stijl

Linhas retas e cores primárias. Isso é que o vem à cabeça da maioria das pessoas quando se fala em Mondrian. O pintor holandês é lembrado por seus quadros geométricos, mas o neoplasticismo não foi sempre o seu estilo. A trajetória percorrida por Mondrian em mais de 50 anos de trabalho pode ser vista no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em Brasília.

No início de sua vida artística, no final do século XIX, Mondrian, influenciado pela pintura holandesa da época, pintava paisagens sombrias e formas sem um contorno definido. Ao longo dos anos, seu trabalho foi se transformando, acompanhando influências dos movimentos artísticos que aconteciam na Europa, como o pós-impressionismo, o pontilhismo e o cubismo.


Aos poucos seus quadros foram ganhando mais cores e se tornando menos comprometidos com a realidade. A exposição traz ao público a oportunidade de acompanhar a evolução do artista até chegar ao neoplasticismo, escola pela qual ele é reconhecido até hoje.

“As linhas retas nos dizem a verdade”, escreveu Piet Mondrian (1872-1944). Filho de um pastor, o artista holandês cresceu em um ambiente que condenava a carreira artística e tentou ser professor antes de dedicar-se à arte e, posteriormente, criar os primeiros trabalhos, marcados pela busca por uma “realidade pura”, representada por linhas retas e cores primárias. 

Pieter Tjabbes, curador da exposição, explica que, em 1908 Mondrian adere à explosão de cores que vinha de Paris. “Ele começa a dominar o mercado com essas obras coloridas. Os críticos chamavam de luminista, devido à luminosidade das obras e ele fica famoso na Holanda, nessa época”.


"A árvore vermelha" - 1908 - Piet Mondrian

“Nesta época ele entra em contato com a teosofia, que vai perpassar toda a sua vida. A teosofia é a busca da essência, tirando o supérfluo, os ornamentos. Esta busca está na vida dele, até chegar ao neoplasticismo, que é uma forma de limpar tudo, usar poucos elementos para usar uma linguagem universal, direta, com todo mundo”, afirma Pieter.

Em 1911, após uma exposição do artista com Picasso e Cézanne na Holanda, Mondrian se encanta pelo cubismo e começa, pouco a pouco, a se aproximar da pintura abstrata. Cada vez mais o artista se distancia da necessidade de imprimir profundidade às obras e cresce sua produção de composições geométricas.


"Natureza morta com pote de gengibre"  - 1911 - Piet Mondrian

Mondrian, durante o período de 1917 a 1928, participou do movimento "De Stijl", que significa "O Estilo". Era um grupo de artistas, designers e arquitetos que defendiam o neoplasticismo e a utopia da harmonia de todas as artes. O movimento é contemporâneo à Bauhaus, na Alemanha, com o qual compartilhava a ideia de uma arte simples e acessível a todos.

“Parece que a arte abstrata trazia essa linguagem universal, que não precisava de explicação. A ideia de uma sociedade moderna na arquitetura, com espaço, ventilação. Eles eram utopistas, pretensiosos”, afirma Pieter, a respeito do movimento De Stijl.


"Vermelho, amarelo, azul"  - 1921 - Piet Mondrian 

Com o passar dos anos, Mondrian se direciona para a pureza das cores primárias, as superfícies planas das formas e a tensão dinâmica em suas telas. A exposição traz 3 obras em estilo neoplasticista, o estilo mais conhecido do artista. “Os quadros nunca são fechados, não têm moldura, são assimétricos, com linhas abertas, campos de cor abertos, se expandem para todos os lados. Para Mondrian a cor era um elemento espacial. Essas obras são artesanais, não há o uso de réguas, não é obra de computador. É uma pintura, com tudo que a pintura tem, linhas borradas, pontos de cor não bem resolvidos”, explica Pieter.

A seleção das obras e a forma como são organizadas têm o objetivo de mostrar ao visitante todo o percurso que Mondrian percorreu antes de chegar ao seu inconfundível estilo de “ordenamento do caos” – ele produziu trabalhos com influências pós-impressionistas e cubistas, por exemplo. “Aqueles retângulos coloridos que povoam até hoje o imaginário do moderno, e são tão facilmente reconhecíveis, não nasceram de uma hora para outra, nem por acaso”, diz Tjabbes. 

Grande parte do acervo é procedente do Museu Municipal de Haia, na Holanda, que reúne a maior coleção do mundo de obras de Mondrian.


"Composição 10" - Piet Mondrian

A exposição traz obras originais, maquetes, mobiliários, fotografia, documentários e publicações da época, revelando uma forma de ver o mundo e a arte que era revolucionária em 1917 e continua moderna até hoje.


"Cadeira vermelha /azul"

Além das mais de 100 obras expostas, sendo 30 de Mondrian, o público poderá visitar o Pavilhão de Vidro do CCBB, uma imensa caixa de luzes inspirada na obra do artista.

“É uma escultura de luz, uma experiência com a cor, um grande Mondrian iluminado que pode ser visto durante o dia mas, principalmente, à noite. Durante o dia funciona como um vitral e à noite a luz interna a transforma em uma caixa de luz enorme, que pode ser vista a quilômetros”, disse Pieter.


Pavilhão de Vidro do CCBB em Brasília

Há também uma reprodução interativa do quadro "Victory Boogie Woogie", última obra de Mondrian, de 1944, pintada no seu último ano de vida, quando ele morava nos Estados Unidos. Mondrian morreu de pneumonia, aos 71 anos.


"Broadway - Victory Boogie-Woogie" - 1944

A exposição, que esteve em São Paulo, fica em Brasília até o dia 4 de julho. Depois segue para Belo Horizonte e Rio de Janeiro.  






11 de maio de 2016

"Di Cavalcanti - Conquistador de Lirismos"



"Auto retrato" - 1943 - Di Cavalcanti


"Di Cavalcanti - Conquistador de Lirismos". Resgata Obra do Artista em Exposição e Livro 

Mais de duas décadas da rica produção do artista, entre óleos, aquarelas e guaches são reunidos na mostra, que tem curadoria de Denise Mattar e consultoria de Elisabeth Di Cavalcanti. São cerca de 50 obras realizadas entre os anos de 1925 e 1949.

“Eu sou meu personagem”, dizia Di Cavalcanti sobre si mesmo. Nada poderia defini-lo melhor. Autodidata, ilustrador, desenhista, caricaturista e pintor, um dos maiores entre todos os pintores do Modernismo. Foi o único artista que se manteve ativo do início ao fim do período modernista (até sua morte, em 1976) e, o que é melhor retratou as nuances e o lirismo da cultura e do povo brasileiro.


"Moleque" - 1932 - óleo sobre cartão - 49 x 36,5 cm - Di Cavalcanti

No ano de 1925 Di Cavalcanti regressou de sua primeira viagem à Europa, após um período de dois anos, onde viveu em Paris como jornalista. Foi nessa época que houve o amadurecimento, transformação e virada na obra do artista. Na capital francesa, frequentou a Academia Ranson, visitou museus e exposições e se encantou com os expressionistas alemães. Conheceu Picasso, Léger, Matisse, Eric Satie, Jean Cocteau e outros intelectuais franceses. Viajou à Itália para ver Tiziano, Michelangelo e Da Vinci. Este contato com a vanguarda europeia e com os grandes mestres do passado foi fundamental para o artista, que voltou ao Brasil renovado e consciente do que queria para sua obra. “Paris pôs uma marca na minha inteligência. Foi como criar em mim uma nova natureza e o meu amor à Europa transformou meu amor à vida em amor a tudo que é civilizado. E como civilizado comecei a conhecer a minha terra. (...)”, afirmou.


"Ruas de Paris" - 1924 - óleo sobre tela - 45 x 56 cm - Di Cavalcanti

Em 1949, o artista teve contato com os pintores e muralistas mexicanos Diego Rivera e José Orozco. Essa experiência lhe abriu um novo caminho e, à partir de 1950, passou a realizar painéis e murais em harmonia com uma nova arquitetura de linhas simples e arrojadas, que marcaram época na modernidade brasileira. 

Entre as obras mais conhecidas estão as tapeçarias do Palácio da Alvorada, o grande painel do Congresso, o painel do Descobrimento, hoje no Museu Nacional de Belas Artes, e os quatro trabalhos realizados para a Caixa Econômica Federal, para ilustrar os bilhetes da Loteria.


Painel de Di Cavalcanti exposto no Salão Verde do Plenário da Camara dos Deputados em Brasília.

Os principais temas abordados pelo artista em suas obras foram: as pessoas comuns, os suburbanos, quase sempre, retratados na favela, nos botecos, nas docas, nos bordéis, nas festas populares; as mulheres - mulatas, negras, brancas, ricas e pobres, morenas e loiras, num clima lírico e sensual, dolente e langoroso - e os opostos colocados em convivência – o lirismo e a sensualidade, o real e o fantástico, o cotidiano e o extraordinário, a razão e a emoção compondo sempre um universo artístico que classificava como realismo mágico.


"Cinco moças de Guaratinguetá" - 1930 - influencia cubista - Di Cavalcanti

A década de 1950 foi o período em que o artista começou uma das fases mais conhecidas de sua carreira – que, por vezes, até a reduzia: as mulatas. 


"Duas mulatas" - 1962 - Di Cavalcanti


Sobre Di Cavalcanti

Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo. Nasceu no Rio de Janeiro (1897- 1976). Começou carreira e formou-se como artista graças à imprensa, trabalhando como caricaturista e ilustrador. Em 1916 participou do I Salão dos Humoristas, no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. No ano seguinte foi para São Paulo, onde frequentou a Faculdade de Direito, por três anos. 


"Retrato de Noemia" (sua esposa) - 1936 - óleo sobre tela - 62 x 50 cm - Di Cavalcanti 

Com pouco dinheiro, mas com boas referências e muito talento, o artista conseguiu rapidamente se inserir no círculo dos intelectuais vinculados aos jornais em São Paulo e no Rio de Janeiro. Segundo Anita Malfatti, Di Cavalcanti conseguiu convencê-la a realizar a famosa exposição de 1917, que abalou São Paulo, e a Semana de Arte Moderna de 1922, da qual o artista carioca foi um dos personagens centrais. 


"Samba" - Semana de Arte Moderna de 1922

Di Cavalcanti teve seu trabalho interrompido na década de 1930 por perseguições políticas. Em São Paulo, foi preso como getulista. No Rio de Janeiro, como comunista. Na série de 12 caricaturas intitulada "Realidade Brasileira", o artista satirizou os comportamentos sociais e políticos do país. Em 1936, fugiu para Paris, onde permaneceu por quatro anos


Série "A realidade brasileira" - Di Cavalcanti

“Di Cavalcanti foi o primeiro artista a trazer para a pintura a gente dos morros, a gente dos subúrbios, onde nasceu o samba. Sendo o mais brasileiro dos artistas, foi o primeiro a sentir que entre o interior, a roça, o sertão e a avenida e o "centro civilizado", havia uma zona de mediação - o subúrbio. No subúrbio vive o verdadeiro autóctone da grande cidade. Já não é caipira, mas ainda não é cosmopolita. O que lá se passa é autêntico, de origem e de sensibilidade”, escreveu o crítico de arte Mário Pedrosa no Jornal do Brasil, em 1957. 


"O Grande Carnaval" - 1953 - Di Cavalcanti 

A sensualidade, a indisciplina e a boemia de Di Cavalcanti, fizeram com que ele fosse sempre visto com reservas por uma parcela da crítica de arte, a mesma que leva em conta sua obra somente até os anos 1950. 


"Baile popular" - 1972 - Di Cavalcanti

Di Cavalcanti morreu em 1976, aos 79 anos, no Rio de Janeiro. 


Serviço 

Exposição: "Di Cavalcanti - Conquistador de Lirismos" 

Onde: Galeria de Arte Almeida e Dale - R. Caconde, 152 - Jardim Paulista. 

Quando: Até 28 de maio de 2016. De segunda a sexta, das 10h às 18h; sábados, das 10h às 14h - Fone: (11) 3887-7130 

Quanto: Entrada gratuita. 








4 de maio de 2016

Uma história do Modernismo na Pinacoteca de São Paulo


A Pinacoteca do Estado de São Paulo, instituição da Secretaria da Cultura, apresenta na Estação Pinacoteca a exposição de longa duração "Arte no Brasil: uma história do Modernismo na Pinacoteca de São Paulo". Instalada no segundo andar do prédio, a mostra reúne 50 obras, entre pinturas e esculturas, de artistas como Alfredo Volpi, Cândido Portinari, Carlos Prado, Emiliano Di Cavalcanti, Ernesto Di Fiori, Flávio de Carvalho, José Pancetti, Lasar Segall, Sérgio Camargo, Tarsila do Amaral, Victor Brecheret, entre outros.



"Família" - 1935 - Cândido Portinari 

Reunindo uma seleção de obras dos acervos da Pinacoteca do Estado de São Paulo e da Fundação José e Paulina Nemirovsky, a mostra dá continuidade à exposição Arte no Brasil: uma história na Pinacoteca de São Paulo, que trata da formação da visualidade artística e a constituição de um sistema de arte no país que se inicia no período colonial e avança até início do século XX. Já a mostra Arte no Brasil: uma história do Modernismo na Pinacoteca de São Paulo enfoca três principais momentos do Modernismo brasileiro: as inovações formais do primeiro Modernismo (de Lasar Segall a Flávio de Carvalho), a retomada das tradições da pintura (sobretudo dos artistas atuantes nas décadas de 1930 e 1940, como Alberto da Veiga Guignard e Pancetti), finalizando com obras que começam a ser influenciadas pelo abstracionismo (Bonadei e Volpi) e apontam em direção ao concretismo que se sedimentaria nos anos 1950.

Modernismo Brasileiro



"Duas amigas" - 1913 - Lasar Segall - Acervo do Museu Lasar Segall

Década de 1930 e 1940



"Flores" (Abricó-de-macaco) - déc. 1930 - óleo sobre tela - 65 x 53,5 cm - Alberto da Veiga Guignard - Coleção particular

Influencia do abstracionismo


"Casario com natureza morta" - óleo sobre tela - 71 x 120 cm - 1966 - Aldo Bonadei

Pela primeira vez na Estação Pinacoteca, o público terá oportunidade de conhecer os três principais momentos da arte Moderna no Brasil e perceber as aproximações e diferenças de estilos e temas entre as obras exibidas na mostra. Segundo Regina Teixeira de Barros, curadora, "a busca da identidade brasileira já vem do século XIX com se vê nas obras de Almeida Junior, por exemplo. Nesse sentido, o Modernismo dá continuidade a essa busca. Mas há artistas que não se enquadram nessa temática, como Ismael Nery que tem uma produção de caráter mais pessoal e filosófico, ou ainda, artistas que estavam interessados na pintura pela pintura como Guignard, Pancetti e De Fiori e que foram referenciais para seus contemporâneos. Por outro lado, o Modernismo representa um momento de grande inovação formal que desperta interesse até os dias de hoje".


"Autorretrato" - José Pancetti

A exposição, que ficará em cartaz até setembro de 2016, tem patrocínio do Banco HSBC por meio da Lei de incentivo à cultura. "Valorizar a cultura de países e estimular o câmbio cultural faz parte da nossa estratégia de patrocínio global. É uma grande satisfação apoiar esta exposição que mostrará os principais momentos da arte Moderna do país", conclui Renata Brasil, diretora de marketing para pessoa jurídica e patrocínios institucionais do HSBC.


Alguns destaques da mostra:

Tarsila do Amaral (1886-1973)



"Abapuru" - 1928 - Tarsila do Amaral

Em janeiro de 1928, Tarsila do Amaral presenteou o marido Oswald de Andrade com a pintura "Abaporu", que o inspiraria a redigir o "Manifesto Antropófago", documento seminal do Modernismo brasileiro, no qual o autor propõe uma assimilação crítica do legado cultural europeu e seu reaproveitamento para a criação de uma arte genuinamente brasileira.



"A negra" - 1923 - Tarsila do Amaral

Embora "Abaporu" seja considerada a obra inaugural, "A negra", de 1923 – uma alegoria da figura da Grande Mãe, de seio único e agigantado, pesadamente assentada na terra, como uma deusa mítica da fertilidade, já prenuncia o que viria a ser a poética antropofágica de Tarsila: pinturas caracterizadas por um número reduzido de elementos, economia de cores e presença de temas nacionais e primitivos, figurados numa intensa atmosfera onírica. A pintura "Antropofagia", de 1929, como indica o título, é uma assimilação das duas obras anteriores: figura e fundo de "Abaporu" e "A negra" se mesclam, formando um casal primitivo, em uma paisagem densa e silenciosa. As imagens inspiradas em um Brasil arcaico, pré-cabralino, aliadas à utilização de uma linguagem moderna, criaram uma solução possível para um paradoxo presente na prescrição antropofágica: a necessidade de conciliar aspectos primitivos e modernos a um só tempo.



"Antropofagia" - 1929 - Tarsila do Amaral

Ernesto de Fiori (1884 - 1945)


"Homem andando" - 1936/1937 - 97 alt X 37 larg X 56 cm prof - Ernesto de Fiori

São poucos os dados precisos sobre a formação artística de Ernesto de Fiori. Sabe-se que em 1904 ingressou na Akademie der Bieldenden Künste de Munique, na Alemanha, onde frequentou aulas de desenho. Desde o início interessado em pintura, mas dedicado, sobretudo, à escultura, chegou ao Brasil, em 1936, vindo de Berlim, e começou a se firmar no ambiente artístico ao participar de mostras locais. A figura do homem andando ou em marcha está presente em seu trabalho desde 1920 até aproximadamente 1938. Mas estas peças tem as suas especificidades no modo como o homem projeta o seu corpo à frente, com cabeça e tronco lançados para a esquerda, em passo largo, sugerindo velocidade e obstinação. A superfície áspera, desigual, com aspecto inacabado, e a simplificação das formas, sem a divisão dos dedos das mãos ou dos pés, reforçam a rapidez e o dinamismo da escultura, desde a ideação, passando pela moldagem da matéria. O resultado é uma imagem urgente, que insinua um processo em curso, ou no mínimo uma situação que aponta para transformações.

Alfredo Volpi (1896 - 1988)



"Fachada" - 1955 - Alfredo Volpi

Foi depois da viagem a Minas Gerais, 1944, que Volpi começou a pintar com têmpera. Juntamente com a troca de técnica, vê-se, pouco a pouco, ao longo do final da década de 1940 e início da de 1950, sua pintura se fechar, selecionando certos elementos formais, como as fachadas das casas, que até então eram representadas em sua totalidade. As famosas bandeiras começaram a ser representadas no início da década de 1950 e reaparecerão inúmeras vezes em seu trabalho, ora como bandeirinhas, ora como formas geométricas puras sofrendo todo o tipo de manipulação construtiva nas mãos do artista. Mas nem sempre a rigidez formal impera: em "Fachada", por exemplo, vemos uma composição bastante animada, de cunho mais popular.


"Fachada" - 1955 - Alfredo Volpi


Serviço

Uma história do Modernismo na Pinacoteca de São Paulo

Onde: Pinacoteca do Estado de São Paulo - Estação Pinacoteca - Praça da Luz, 2 - Fone: (11) 3324-1000

Quando: Até 12/09/ 2016 - De quarta a segunda das 10h às 17h30 com permanência até às 18h.


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