Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

28 de outubro de 2015

"A captura de Cristo" de Caravaggio



"The Taking of Christ" - "A captura de Cristo" - 1602 - Óleo sobre tela - 135.5 x 169.5 cm - Michelangelo Merisi de Caravaggio

A Galeria Nacional da Irlanda foi agraciada com o empréstimo da obra "A captura de Cristo" de Michelangelo Merisi de Caravaggio. A generosidade deve-se a  Dr. Marie Lea-Wilson.

Ao longo da história, muito poucos artistas provocaram mudanças tão radicais como Caravaggio em suas percepções pictóricas. A partir do momento em que seu talento foi descoberto, rapidamente ele se tornou o pintor mais famoso de seu tempo na Itália, e uma fonte de inspiração para centenas de seguidores em toda a Europa.

 
Feita por volta de 1605, a obra retrata o momento que Jesus Cristo é preso para ser crucificado. São sete figuras ao todo na pintura, dizendo-se que uma delas (o homem à direita que segura o lampião) é o auto-retrato do próprio Caravaggio.

"A Captura de Cristo" foi pintado por Caravaggio quando se encontrava no auge de sua fama, foi uma encomenda de Roman Marquis Ciriaco Mattei, no final de 1602.
 
Rompendo com o passado, o artista criou uma nova percepção visual da narrativa dos Evangelhos, reduzindo o espaço ao redor das figuras evitando qualquer descrição da configuração. Toda ênfase foi dirigida para a ação de Judas e dos guardas do templo mostrando um Jesus oprimido, que não oferecia resistência ao seu destino. O discípulo à esquerda que fugiu no momento da ação é São João Evangelista. Apenas a lua ilumina a cena: embora um homem do outro lado está segurando uma lanterna, que é na realidade uma fonte ineficaz. Caravaggio retratou-se, com a idade de trinta e um anos, como um espectador passivo da tragédia divina.

O momento da pintura é o chamado Beijo de Judas durante a prisão de Cristo. O fundo da obra é escuro e a luz destaca os personagens principais da cena, sendo essa uma característica das obras de Caravaggio.

O quadro esteve perdido por cerca de 200 anos, até ser encontrado na Companhia de Jesus na Irlanda, hoje exposta na Galeria Nacional da Irlanda, localizada no coração de Dublin, tendo com acervo as coleções de arte europeia e irlandesa. 

Curiosidade
 
A algum tempo atrás, a polícia alemã encontrou um quadro atribuído ao célebre pintor italiano Caravaggio (1571-1610), que havia sido roubado em 2008 do Museu de Arte Ocidental e Oriental de Odessa (sul da Ucrânia). Os quatro supostos autores do roubo - três ucranianos e um russo - foram detidos quando tentavam vender o quadro.

Segundo os agentes, a obra seria vendida por cem milhões de dólares no mercado negro. A obra "A Captura de Cristo", havia sido comprada por um embaixador russo na França. Mais tarde, foi presenteado ao príncipe Vladimir Alexandrovich Romanov no final do século XIX. Depois da Revolução de Outubro de 1917, foi transferido para a escola de arte de Odessa e então ao museu.

 
O quadro chegou a ser considerado uma cópia do exposto na National Gallery de Dublin, mas a crítica de arte moscovita Ksenia Malitskaïa demonstrou nos anos 1950 que a obra de Odessa havia sido pintada pelo próprio Caravaggio.


Assista ao vídeo









 

21 de outubro de 2015

Exposição "Frida Kahlo - conexões entre mulheres surrealistas no México" no Instituto Tomie Ohtake



Magdalena Carmen Frieda Kahlo y Calderón, conhecida apenas como Frida Kahlo (1907-1954).
 
Muito além das flores na cabeça e da monocelha, Frida deixou um grande legado para o mundo com suas pinturas, em especial para as mulheres. Símbolo da força e independência do universo feminino, a artista Mexicana estava muito à frente de seu tempo e, apesar de todos os percalços - como muitos problemas de saúde e um casamento conturbado - continuava cheia de vida.



Frida também teve grande influência para a moda, especialmente porque não sucumbiu ao padrão de beleza hollywoodiano de sua época, impondo seu próprio estilo e criando um personagem único. Aceitou aspectos de seu corpo que fugiam muito aos padrões da época, especialmente a sobrancelha unida e o buço.
 
Frida era cheia de contradições. Adotou as longas saias no estilo tehuana, da região de Oaxaca, no Sul do México, para esconder o defeito que possuía em uma das pernas, uma era mais curta que a outra, decorrente de uma sequela da poliomielite que teve na infância. As saias eram combinadas com corseletes e até com coletes de gesso que precisava usar devido a problemas na coluna com os quais conviveu a vida inteira após um acidente de bonde aos 18 anos.
 


O estilo tehuana, região onde predomina o sistema matriarcal, também pode ter sido a maneira encontrada por Frida para se impor e se manter altiva em um relacionamento marcado pelas traições de Diego Rivera. Por outro lado, os bordados coloridos, as flores delicadas, as rendas e as tranças, que lhe conferiam um visual alegre, foram sendo cada vez mais incorporados à medida que seus problemas de saúde se agravavam e sua dor aumentava.
 


Frida não sucumbia a outros estilos e era autêntica. Isso a ajudou a criar uma figura forte, que inspirou muitos estilistas ao longo dos anos. Alguns chegaram a dedicar coleções inteiras a ela. Foi o caso da Missoni (Primavera 2015), Valentino (Resort 2015), Moschino (Verão 2012), Kenzo (Inverno 2012), entre outros.



Capa da Revista Vogue

O público poderá conhecer um pouco mais da trajetória da sua vida através da exposição "Frida Kahlo - conexões entre mulheres surrealistas no México", no Instituto Tomie Ohtake em São Paulo.

Com curadoria de Teresa Arcq, a exposição revela uma intrincada rede que se formou no México, no início do século passado, tendo como eixo fundamental a figura de Frida Kahlo. A mostra conta com cerca de 100 obras de 16 artistas mulheres, nascidas ou radicadas no México. Cerca de 20 pinturas de Frida serão mostradas pela primeira vez no Brasil, proporcionando um amplo panorama de seu pensamento plástico. 


Serviço
 
Exposição: "Frida Kahlo - conexões entre mulheres surrealistas no México".

Onde: Instituto Tomie Ohtake
- Av. Faria Lima 201 - entrada pela R. Coropés, 88 - Pinheiros - São Paulo

Quando: Até 10 de janeiro de 2016 - de terça a domingo das 11h às 20h -
Duas sessões por dia: das 11h às 15h30 (entrada até as 15h); das 16h às 20h (entrada até as 19h).

Quanto: R$10 e R$5 (crianças até 10 anos, cadeirantes e deficientes físicos a entrada é gratuita todos os dias da exposição). Às terças-feiras a entrada é gratuita para todos. 

Conversa informal
 
Tendo em comum o fato de sermos artistas plásticas, mulheres e admiradoras de Frida Kahlo, algum tempo atrás formamos um grupo, Clara Marinho, Lú Salum, Rita Bassan, Sandra Scaffide, Silvia Fischetti e Aline Hannun, e montamos a exposição "Recuérdame" feita em homenagem à artista.

O que mais nos motivou foi a sua força interior, a riqueza do conteúdo das obras e a paixão de viver sua arte.

Vida e obra não se separaram jamais! Frida vivia intensamente cada momento com seu coração afetuoso. Foi uma artista apaixonada pelo que fazia e por isso despertou muitas paixões.

Recordar Frida Kahlo foi um grande prazer, pois tornou possível resgatar aspectos femininos que alimentamos como artistas e como mulheres.

 
Algumas das obras expostas na exposição "Recuérdame" 
 


"Casa Azul", "Casa Azul com flores" - acrílica s. tela - Aline Hannun



Objetos em vidro - Clara Marinho



"Intimidade" - encáustica s. tela - Lú Salum



"Vida II" - acrílica e bordado s. tela - Rita Bassan



"Coração de Frida" - mista s. tela - Sandra Scaffide



"Libélula" - acrílica s. tela - Silvia Fischetti



"Frida Kahlo - Auto retrato" - painel de abertura da exposição pintado por todas as artistas - acrílica s. tela.



"O Diário de Frida Kahlo" - Aline Hannun


Poema - Diário da Frida Kahlo

Diário da vida. Diário da Frida. Frida que não "Kahla".
Fala, grita, exala sentimento, cor e dor.
Dor de Amor. Amor Paixão. Paixão Diego.
Viril, egoísta, vaidoso, comunista.
Artista de valor. Pinzón Amor de Frida.
Dor da vida, maior que a dor da morte,
Do corte, da falta de sorte.
Trincada, fadada à dor da Alma,
do Ventre, do Coração.
Em busca de uma Razão?
Para que viver então...

Aline Hannun





 

7 de outubro de 2015

Commedia Dell'Arte Ap 21/09



A "Commedia Dell'Arte" foi uma forma de teatro popular que apareceu no século XV, na Itália, e se desenvolveu posteriormente na França, permanecendo até o século XVIII. Veio se opor à “Comédia Erudita”, também sendo chamada de "Commedia All'Improviso" e “Commedia a Soggetto”.

Suas apresentações eram realizadas nas ruas, praças públicas e, ocasionalmente, na corte, por artistas profissionais. As companhias eram itinerantes e possuíam uma estrutura de esquema familiar. Ao chegarem a cada cidade, pediam permissão para se apresentarem nas suas carroças ou em pequenos palcos improvisados. Os atores seguiam apenas um roteiro simplificado (canovaccio) e tinham total liberdade para improvisar e interagir com o público. Criaram um novo estilo e uma nova linguagem, caracterizadas pela utilização do cómico, ridicularizando militares, prelados, banqueiros, negociantes, nobres e plebeus, o objetivo era o de entreter um vasto público que lhe era fiel, provocando o riso através do recurso à música, à dança, a acrobacias e diálogos pejados de ironia e humor.

As soluções para determinadas situações foram sendo interiorizadas e memorizadas, os atores se limitavam a acrescentar pormenores que o acaso suscitava, ornamentados com jogos acrobáticos.
 

O elevado número de dialetos que se falava na Itália pós-renascentista determinou a importância que a mímica assumiu neste tipo de comédia. O seu uso exagerado servia, não só o efeito do riso, mas a comunicação em si.

As companhias, formadas por dez ou doze atores, apresentavam personagens tipificados. Cada ator desenvolvia e especializava-se num personagem fixo, cujas características físicas e habilidades cómicas eram exploradas até ao limite. Variavam apenas as situações em que os personagens se encontravam. O comportamento destes personagens enquadrava-se num padrão: o amoroso, o velho ingénuo, o soldado, o fanfarrão, o pedante e o criado astuto. Scaramouche, Briguela, Isabela, Columbina, Polichinelo, Arlequim, o Capitão Matamoros e Pantaleone foram os personagens que esta arte celebrizou e eternizou.



Importante na caracterização de cada personagem era o vestuário, e em especial as máscaras. As máscaras utilizadas deixavam a parte inferior do rosto descoberto, permitindo uma dicção perfeita e uma respiração fácil, ao mesmo tempo que proporcionavam o reconhecimento imediato da personagem pelo público.
 

As peças giravam em torno de encontros e desencontros amorosos, com um inesperado final feliz. As personagens representadas inseriam-se em três categorias: os enamorados, os velhos e os criados (zannis). Estes últimos constituíam os tipos mais variados e populares. Havia o zanni esperto, que movimentava as ações e a intriga, e o zanni rude e simplório, que animava a ação com as suas brincadeiras atrapalhadas. O mais popular era, sem dúvida, Arlequim, o empregado trapalhão, ágil e malandro, capaz de colocar o patrão ou a si próprio em situações confusas, que desencadeavam a comicidade.
 
 
Arlequim
 
No quadro de personagens, merecem ainda destaque Briguela, um empregado correto e fiel, mas cínico e astuto, e rival de Arlequim, Pantaleone (Pantaleão), um velho fidalgo, avarento e eternamente enganado. Papel relevante era ainda o do Capitano (Capitão), um covarde que contava as suas proezas de amor e em batalhas, mas que acabava sempre por ser desmentido. Com ele procurava-se satirizar os soldados. 
 
 
Briguela



Pantaleone

A precariedade dos meios de transporte, vias e as consequentes dificuldades de locomoção, determinavam a simplicidade e minimalismo dos adereços e cenários. Muitas vezes, estes últimos resumiam-se a uma enorme tela pintada com a perspectiva de uma rua, de uma casa ou de um palácio. O ator surge assim como o elemento mais importante neste tipo de peças. Sem grandes recursos materiais, eles tornaram-se grandes intérpretes, levando a teatralidade ao seu expoente mais elevado.

A Commedia Dell’Arte esbarra, de forma paradoxal à liberdade de criação, com a limitação de interpretação, pois quando um ator fica especialista em sua personagem, fazendo apenas um determinado papel, se torna repetitivo e “pobre” em relação a maior característica da Arte: a inovação. Mesmo assim, a Commedia Dell’Arte marcou o ator e a atriz como sendo a base do teatro.
 


No século XVIII a Commedia Dell’Arte entrou em declínio, tornando-se vulgar e licenciosa, então alguns autores tentaram resgatá-la criando textos baseados em situações tradicionais deste estilo de teatro, mas a espontaneidade e a improvisação textual lhe era peculiaridade central, então a Commedia Dell’Arte não tardou a desaparecer. Um dos autores que muito trabalhou para este resgate foi o dramaturgo italiano Carlo Goldoni (1707-1793).