Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

26 de maio de 2014

Bienal do Whitney Museum em Nova York reúne mais de 100 novos artistas


Whitney Museum NY

O evento é um dos maiores do segmento artístico e aponta novas tendências.

Esta é a 77ª e última bienal que ocupará o famoso prédio localizado na Madison Avenue, um monumento arquitetônico modernista projetado pelo arquiteto Marcel Breuer (o edifício é uma espécie de pirâmide invertida). A partir de 2014, a exposição passa a ser realizada na nova sede do museu, que está em construção do bairro de Greenwich Village (sudoeste da cidade).
 
A primeira Bienal do Whitney ocorreu em 1932. A atual exposição fica em cartaz até 25 de maio com uma programação que inclui também performances, projeções e debates.
 
Mais de 100 artistas participam da Bienal do Whitney Museum, em Nova York. As obras expostas mostram um amplo panorama do que há de novo na arte nos Estados Unidos. Este é um dos maiores eventos de arte em um dos museus mais importantes do mundo.

A Bienal do Whitney Museum é dedicada a artistas talentosos, mas não tão conhecidos do público. Nomes que estão construindo as tendências da arte contemporânea têm parada obrigatória nesse museu, que foi fundado em 1931.


Captura de tela - Bienal do Whitney Museum

Organizada por três curadores, no evento, estão expostas as obras de 103 artistas e as mulheres, que tem revitalizado a pintura abstrata, ganharam destaque neste ano.
 
A maioria dos participantes da exposição moram e trabalham nos Estados Unidos, mas há artistas nascidos no Japão (Ei Arakawa), Alemanha (Sterling Ruby), Austrália (Jeff Gibson), China (David Dao) e Suécia (Emily Sundblad), entre outros países. O coletivo HOWDOYOUSAYYAMINAFRICAN? é formado por pessoas de vários continentes.

O curador Stuart Comer, por exemplo, procurou artistas que representem novos conceitos do significado de "ser americano".
 

Bienal do Whitney Museum em Nova York
 
Os quadros da americana Louise Fishman alterna camadas de tinta grossa e fina em pinceladas marcantes. Uma das obras da artista foi inspirada nos encontros e desencontros dos canais de Veneza, na Itália.

No trabalho de Donna Nelson, a experimentação de cores e de texturas na obra lembra uma janela. Uma escultura monumental de cordas e fibras, que vai do teto ao chão, é da artista americana Sheila Hicks. Uma cascata de cores que se abre delicadamente até chegar ao piso.


Quadros abstratos dos artistas Elijah Burgher, Dona Nelson e Louise Fishman

A tela de malha modelada da californiana Lisa Auerbach traz vários conselhos. Um deles poético: “Let the dream write itself”, ou seja, “Deixe que o sonho dite o rumo”.
Uma das maiores peças da exposição é a de Gretchen Benders. Na placa de vinil amassado, estão títulos de filmes em neon.

No museu, o dia a dia ganha novos contornos. Uma briga foi a inspiração para a escultura de Shana Lutker. A arte aponta para diversas direções. "Não existe um único caminho. Podemos dizer que não há nada a ser dito que seja definitivo, a ideia da bienal é mostrar isso, que há visões diferentes. A arte contemporânea é inconstante, está sempre mudando e é muito subjetiva", diz Elisabeth Sherman, uma das curadoras do museu.
 
Alma Allen (b. 1970), Untitled, 2013. Marble sculpture on an oak pedestal, Courtesy the artist 

E é isso que torna um passeio pela bienal tão enriquecedor. Descobrir as surpresas que podem estar escondidas em uma obra.

Diversas gerações estão representadas. Há desde artistas nascidos na década de 1920, como o consagrado escultor John Mason e o libanês Etel Adnan, até revelações recentes, como Jacolby Satterwhite (1986), Dashiell Manley (1983), Kevin Beasley (1985) e Yve Laris Cohen (1985). A curadora Michelle Grabner reuniu, em uma das salas, pinturas abstratas feitas por mulheres atuantes em várias épocas.

Serviço

77ª Bienal Whitney Museu of American Art


Onde: Whitney Museu of American Art NY - 945 Madison Avenue at 75th Street - New York, NY 10021 - (212) 570-3600

 

Quando: Até 25 de maio

 
 
 
 
 
 
 
 

22 de maio de 2014

Mostra de Frida Kahlo no México



Mostra no México exibe vestido, espartilho e prótese de Frida Kahlo

Por 50 anos, o banheiro do quarto de Frida Kahlo permaneceu trancado após sua morte, na casa onde hoje funciona um popular museu na Cidade do México. O espaço só foi aberto há dez anos, revelando diversos baús de objetos íntimos, como cartas, fotografias e vestidos coloridos.

Enquanto as correspondências viraram livros sobre a artista mexicana, seu guarda-roupa e suas fotos vão aos poucos chegando ao público. É o caso de duas mostras em cartaz na capital mexicana e na Califórnia (EUA).

Mais de 300 peças de vestuário são exibidas até setembro na residência de Kahlo, apelidada de Casa Azul, em salas que mudam os figurinos a cada três meses. 

As roupas exibidas na exposição na casa de Frida
 
"Ela usava estes vestidos tradicionais para fortalecer sua identidade, reafirmar suas crenças políticas e para esconder suas imperfeições", diz a curadora Circe Henestrosa. "Seus amigos mais íntimos contam como Kahlo tinha um cuidado especial ao escolher o que vestir, dos pés à cabeça, com as mais lindas sedas, laços, xales e saias."
 
A exposição traz também aparatos médicos que a artista precisava usar por conta de suas doenças (primeiro pólio e depois um acidente num ônibus). Há uma prótese de perna com uma bota de cano alto vermelha e um espartilho feito de gesso, decorado com uma foice e um martelo.


Prótese da perna direita; a bota tem fita de seda, dois sinos pequenos e estampa com motivos chineses.


Numa das salas da exposição há objetos curiosos como um vidro de esmalte pink e adereços de cabeça. Outros espaços exibem vestidos de alta costura, como Gautier e Givenchy, inspirados na pintora.
 

Campanha da coleção de 1998 de Jean Paul Gaultier inspirada em Frida Kahlo

Em 1937, seu estilo a colocou nas páginas da "Vogue". A revista ajudou na organização da mostra e anunciou um livro em parceria com o museu, a ser lançado na América Latina neste semestre.
 

Capa da Vogue México em novembro de 2012

PINTURAS E FOTOS

Foi o muralista Diego Rivera (1886-1957), marido de Kahlo (1907-1954), que havia dado as ordens para manter o banheiro fechado por 15 anos após a morte da artista, mas a mecenas Dolores Olmedo (1908-2002), amiga íntima de Rivera que tinha ciúmes de Kahlo, conseguiu manter o lugar lacrado por mais 35 anos.

"O que vi na água"
 
Olmedo, maior detentora de obras dos dois artistas, tem um museu próprio na periferia da Cidade do México. Em março, abriu uma exposição com centenas de pinturas da dupla que estavam em itinerância havia dois anos.

Detalhe do mural "Arsenal Ministério da Educação Pública", Cidade do México. Frida foi representada distribuindo armas. Diego Rivera (1923-1928)
 
Outro lugar para ver as raridades do banheiro da Casa Azul é o Museu de Arte Latino-Americana de Long Beach (Califórnia), que exibe mais de 200 fotografias tiradas por Kahlo e de Kahlo. Há lembranças de família, como retratos da artista aos seis anos, e imagens de amigos famosos como Man Ray (1890-1976).
 


"É como sentar em sua sala de estar e folhear seu álbum de fotos. É muito pessoal", disse o presidente do museu, Stuart Ashman. A mostra abriu com um concurso de sósias e tem programação extensa com palestras e atividades até junho.
 
Conversa Informal

Participei da exposição "Recuerdame- Vida e Obra de Frida Kahlo" , foi um trabalho intenso com muitas pesquisas e uma boa diversidade de suportes, como telas, cerâmica. papeis, colagens e até um poema que deixo no final desta edição, para apreciação dos leitores do Blog.
 
"Casa Azul", hoje Museu Frida Kahlo - Aline Hannun

"Casa Azul com Flores" - Aline Hannun
 
"Diário de Frida Kahlo" - Aline Hannun
 
Interior do "Diário de Frida Kahlo" - Aline Hannun
 
Abatjour "Sedução", representando a saia e as pernas de Frida Kahlo - base em cerâmica, cúpula em tecido - Aline Hannun
 
 
POEMA


“Diário da Frida Kahlo”

Diário da vida. Diário da Frida.

Frida que não se Kahla.

Fala, grita, exala sentimento, cor e dor.

Dor de Amor. Amor Paixão. Paixão Diego.

Viril, egoísta, vaidoso, comunista.

Artista de valor. Pinzón Amor de Frida.

Dor da vida maior que a dor da morte.

Dor do corte, da falta de sorte.

Trincada, fadada à dor da alma, do ventre, do coração.

Em busca de uma razão?

Para que viver então...


Aline Hannun







  

 



19 de maio de 2014

Obras brasileiras em leilões em NY



Os quadros “Escada” e “O Violoncelista”, de 1951, Lygia Clark

Obras brasileiras têm maiores preços em leilões de arte da América Latina em NY

Uma escultura triangular em alumínio da artista brasileira Lygia Clark liderou o leilão latino-americano da Phillips, coroando uma semana de vendas de arte regional nas quais as obras brasileiras comandaram os maiores preços.

"Bicho Invertebrado", obra de 1960 de Clark, foi vendida por US$ 1,8 milhão de dólares em um leilão que produziu US$ 6 milhões.
 


"Bicho Invertebrado", obra de 1960 

"Ficamos animados com a forte resposta dos colecionadores", disse Henry Allsopp, diretor global de arte latino-americana da Philips, sobre o leilão, do qual também participaram artistas de Venezuela, Argentina, Chile, México, Porto Rico, Cuba e Colômbia.

Allsopp afirmou que a peça de Clark tinha sido prometida para uma retrospectiva da artista no próximo ano no Museu de Arte Moderna de Nova York.
Composta por seis triângulos articulados, a peça de Clark foi projetada para ser manipulada pelas pessoas para criar várias configurações.

Clark, que morreu em 1988, disse que fez cada uma de suas peças "Bicho" para parecer, via interação tátil, "um organismo vivo, principalmente uma obra ativa".


ARTE BRASILEIRA

A Phillips vendeu no ano passado outra escultura abstrata de Clark, em Nova York, por US$ 2,2 milhões, alcançando o mais alto preço no leilão por uma obra de um artista brasileiro.

A peça era de 1959, o ano seminal em que Clark e outros artistas brasileiros fundaram o movimento neoconcreto. Seu manifesto pede a interação das pessoas com a arte geométrica.

 
No leilão Phillips, todos os dez principais lotes eram de peças contemporâneas brasileiras, inclusive "Homenagem a Fontana I", de Nelson Leirner, vendida por US$ 359 mil dólares, um recorde para o artista.


 
"Homenagem a Fontana I"

Enfatizando a forte demanda por arte abstrata brasileira nos leilões de Nova York, a obra de 1964 de Sérgio Camargo "Sem Título (Escultura No. 21/52)", foi vendida por US$ 2,1 milhões na Sotheby's, um recorde para o artista.

As obras vendidas pela Christie's também bateram recordes para dois artistas brasileiros vivos, Abraham Palatnik e Tomie Ohtake.



Tomie Ohtake - 1979



Detalhe de ‘Sequência Visual S-51’ - 1960 - Abraham Palatnik

Explicando o sucesso das obras brasileiras, o chefe de arte latino-americana da Sotheby's, Axel Stein, disse: "Há um novo impulso no mundo de colecionadores brasileiros. Há mais conhecimento, há mais exposições, eles têm um forte mercado local".







 



14 de maio de 2014

SKY ART POR THOMAS LAMADIEU



SKY ART POR THOMAS LAMADIEU 


Você, andando pelas ruas de alguma metrópole, já olhou para o alto e percebeu pequenos espaços de céu, presos entre os edifícios? No meio de grandes centros urbanos, a quantidade de prédios é tão grande, que é difícil conseguirmos enxergar qualquer pedaço azul e branco do céu. Pois o artista francês Thomas Lamadieu observou esse cenário e a partir daí resolveu criar os desenhos que você verá a seguir.

Thomas intitula sua obra como “Sky Art”: ele fotografa um pedaço do céu, edita a fotografia para deixar a imagem rodeada de arquitetura, depois deixa a imaginação fluir e começa a desenhar personagens os encaixando no espaço. O resultado é bem divertido e demonstra o quanto a imaginação é importante para o ser humano. Como dizia Einstein, “a imaginação é mais importante que o conhecimento”.



Para qualquer um que tenha vivido ou visitado um pátio estreito envolto em edifícios que, por vezes, pode ser um espaço claustrofóbico com o céu limitado em todas as direções, mas as lacunas geométricas estranhas formadas pela arquitetura envolvente são muitas vezes divertidas para fotografar. Por exemplo, a diretora de arte Lisa Rienermann tornou-se famosa por seu premiado alfabeto formado a partir de letras manchadas no espaço entre os prédios. No entanto o artista francês Thomas Lamadieu usou os constrangimentos como inspiração para sua série de ilustrações imaginativa. Seria divertido ver diferentes artistas interpretando no mesmo lugar.
 

 
 


 


 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

9 de maio de 2014

Paisagem é redescoberta na obra de artistas contemporâneos

"Série Natureza" - Aquarela - Paulo Pasta

Mestres e alunos renovam gênero consagrado pelos holandeses com o olhar do século XXI

Nas culturas ancestrais, afrescos eram quase uma extensão da natureza. Mais tarde, a representação artística da paisagem passou pelo crivo da percepção social do mundo natural. Foi só durante o Renascimento que se tornou possível sua apreciação estética, abrindo caminho para os holandeses consagrarem a paisagem nos séculos XVI e XVII, ao estabelecer com ela um gênero independente da pintura. Essencial para o desenvolvimento do impressionismo e do romantismo, a paisagem quase morreu ao ser submetida pelos modernistas à ditadura da razão. Com o advento da arte conceitual, a natureza foi dominada pelos artistas da land art e novamente sumiu da tela, renascendo nas paisagens monumentais dos neoexpressionistas alemães como Anselm Kiefer, para ser posteriormente renovada por pintores como Gerhard Richter, Alex Katz e outros.


"Margarete" - 1981- Kiefer 
 
Sem título - 1987 - Gerhard Richter
 
No Brasil, uma nova geração de pintores de paisagem surge, renovando o gênero com o reforço de veteranos, um deles o pintor Paulo Pasta, mestre desses jovens que buscam na evocação da natureza menos uma correspondência naturalista e mais um compromisso ético com a pintura. Numa época dominada por imagens de segunda mão, nascidas do olho mecânico das máquinas digitais, a paisagem se torna, enfim, não o veículo de um sentimento nostálgico do mundo agrário, pré-moral, mas um sinal de mudança que aponta para o futuro.
 

Sem título - 2005 - Paulo Pasta

Beuys, em sua época, fundou o Partido Verde alemão e usou a arte para divulgar sua luta ambiental. Os novos “paisagistas” brasileiros não formam nenhum movimento ecológico ou político, mas estão mudando a arte em busca de um fundamento ético para o ato de pintar. Num ensaio visual para o número 14 da revista Serrote, publicada pelo Instituto Moreira Salles, o pintor Paulo Pasta chega a revelar que foi a pintura que o ensinou a ver a paisagem, e não o contrário.

Pasta cita o primeiro momento de sua carreira, em 1984, quando pintava os canaviais de sua terra natal, Ariranha, no interior de São Paulo. Era essa paisagem que tornava mais densa a sua relação com a pintura, não o registro do que via. “Ela constituía, de fato, minha ligação com o mundo”, admite. Um mundo, aliás, reinventado graças a essa pintura, capaz de torná-lo novamente fresco, original, depois de ser maculado pelo excesso de imagens da era digital.

"Série Canaviais" - 1984 - Paulo Pasta

A trajetória artística de Pasta é um pouco como a do pintor norte-americano Richard Diebenkorn (1922-1993), que oscilou entre a representação figurativa e o abstracionismo lírico, chegando à geometrização da paisagem na série Ocean Park. O matissiano Diebenkorn tentou captar a luz da costa oeste americana de forma antinaturalista. Já Pasta persegue uma luz outonal sem buscar o ideal pastoral da poesia clássica quando retrata paisagens do interior do Brasil. Desta vez, sem a cor desbotada do acadêmico Almeida Junior, pioneiro no tratamento da dura luz tropical e de temas regionalistas. Pasta não é um colorista nem um paisagista, mas quer ter uma relação mimética com a paisagem. É, antes, um artista imerso no ato de “reconhecer um elemento espiritual” na arte da paisagem – sem esquecer que não foi esse o gênero que o consagrou, mas uma pintura de vocação construtiva.

"Woman Outside" - Richard Diebenkorn

Coincidência ou não, muitos dos jovens pintores que despontam no cenário são alunos dele e se voltaram igualmente para a paisagem e o estudo dos velhos mestres da pintura: Lucas Arruda, Felipe Góes, Marina Rheingantz, Bruno Dunley e Rodrigo Bivar são alguns deles.
 
Felipe Góes, paulistano de 30 anos, começou há seis anos com uma pintura que não tentava esconder sua fatura. Passou depois para as paisagens imaginárias – “de lugares que não existem” – e chega agora à terceira fase, que chama de “dissolução” – da figura e da matéria, uma vez que usa tinta acrílica e guache, à maneira do holandês Bram van Velde (1895-1981). Van Velde, amigo de Beckett, usou a pintura como um instrumento de luta contra o próprio niilismo. Góes diz que o holandês soube encarar a “crise do pintar”, como Diebenkorn, outro de seus mestres, que, segundo Góes, “venceu a resistência do material”.

Pintura nº 138 - acrílica sobre tela - 2011 - Felipe Góes 
 
Sem título - litografia - Bram van Velde

O veterano Rodrigo Andrade, contemporâneo de Pasta que começou sua carreira no ápice da onda neoexpressionista, nos anos 1980, sabe o que isso significa. Na época, pintar era acumular matéria sobre a superfície da tela. Depois da 29.ª Bienal (2010), ele, ligado à abstração, não abandonou a paisagem. Passou a produzir pinturas que parecem fotos vista de longe. Contudo, a ilusão fotográfica desaparece conforme ele se aproxima da presença concreta da tinta. A purificação do campo visual no século 21 pode começar por aí.
 
Sem título - óleo s. tela - Rodrigo Andrade - 1985














7 de maio de 2014

Cem anos de Iberê Camargo


"Arte, para mim, foi sempre uma obsessão. Nunca toquei a vida com a ponta dos dedos. Tudo o que fiz, fiz sempre com paixão”. (Iberê Camargo, 1914–1994)

Centenário do pintor Iberê Camargo é celebrado com retrospectiva em SP

"Não há espaço para a alegria", escreveu Iberê Camargo em suas memórias. "Toda obra que tem algum significado tem raízes no sofrimento, nasce da vida que dói."

Esse drama todo, que o pintor dizia trazer na alma, está traduzido em suas telas carregadas de tintas. São composições pesadas, que afogam o traçado das figuras numa solidão azul e profunda.

Esse é o tom das comemorações de seu centenário. Camargo, morto aos 79, há 20 anos, nasceu em 1914 em Restinga Seca, no interior gaúcho. Estudou no Rio, passou uma temporada na Europa, mas voltou a viver em Porto Alegre no final de sua vida.

Uma série de exposições agora celebra a vida e a obra do artista, começando com mostra que está em cartaz na Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre.

Em maio, uma megarretrospectiva no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, vai reunir 145 obras de todas as fases de sua carreira, com ênfase nos últimos quadros que pintou, a chamada fase trágica do artista.

Isso porque os tons mais frios, de uma natureza menos exuberante e mais emudecida, como a dos pampas gaúchos, nunca saíram de seus quadros -uma obra que resiste a qualquer ideia de brasilidade ou idílio tropical.

Mesmo em suas primeiras pinturas, mais figurativas, a natureza não é representada em chave realista. É recriada em vórtices de cor que lembram experimentos das vanguardas europeias observadas por Camargo em viagens.


Desenho sem título de 1992 feito por Iberê Camargo com caneta esferográfica e nanquim.

Na mostra paulistana, será evidente como essas paisagens se dissolvem ao ponto de virar abstração plena, ou quase plena, já que contornos de alguns objetos aparecem aqui e ali como alicerces de algumas composições.

Entre eles as garrafas, que Iberê Camargo viu nas naturezas-mortas do artista italiano Giorgio Morandi, e os seus famosos carretéis, lembranças da infância que se transformaram em símbolo máximo de sua obra.

Mas Camargo se consagrou mesmo com suas estranhas figuras à beira da morte, que chamou de idiotas em várias telas, e seus ciclistas, nada mais que esses mesmos personagens que se deslocam sobre rodas rumo ao nada.
 
 
"São figuras sem rosto, ao mesmo tempo violentas, brutas e espessas", diz Luiz Camillo Osorio, curador da mostra no CCBB, em São Paulo.

"É como se ele transformasse o corpo decrépito em potência. A finitude é afirmada, não lamentada."
 

"Corpo feminino", obra consagrada no salão de Veneza

MORTALHA COLORIDA

Talvez fosse disso que Camargo falasse quando escreveu que em sua obra não criava "mortalhas coloridas".

Em vez de temer o fim, o artista parecia evocar uma morte gloriosa com todo o peso do mundo e uma certa fúria nos traços.

Nesse ponto, alguns biógrafos do artista já tentaram associar a indefinição de suas figuras ao fato de ele ter matado um homem durante uma briga. Na tentativa de defender sua secretária de um namorado violento, Camargo, que andava armado, acabou dando um tiro fatal nele.

Depois desse episódio e de um breve período na prisão, no começo dos anos 1980, ele deixou o Rio, onde morou boa parte da vida, e se isolou em Porto Alegre para pintar a fase trágica, que marca o retorno da figura humana a suas composições mais abstratas.

 
Fantasmagoria (1987)

Mas não é sobre a morte de alguém que fala o trabalho de Camargo. Na opinião do crítico Lorenzo Mammì, que organizou a mostra agora em Porto Alegre, Camargo fez de sua obra uma afirmação da pintura, uma linguagem que ele então sentia agonizar.

"Ele faz isso com uma pintura muito suja, sobreposta, raspada, quase vulgar", diz Mammì. "Tem a ver com a sua ideia de pintura como arte em decomposição, uma linguagem que vai se desfazendo."
Suas telas em convulsão, de camadas sobrepostas e traços erráticos, influenciaram toda uma geração de artistas que despontou nos anos 1980, com a reafirmação da pintura como técnica.

Nuno Ramos, um dos artistas que então descobriram Camargo, via em suas telas "algo pantanoso". "É a matéria que me atrai nele, uma coisa física", diz Ramos. "Iberê nunca acreditou na morte da pintura. Ele domina essa linguagem. É exuberante."
 

 
CEM VEZES IBERÊ

Porto Alegre:
 Mostra "Iberê Camargo: As Horas [O Tempo como Motivo]", com curadoria de Lorenzo Mammì, tem 22 pinturas e 26 desenhos do artista e está em cartaz agora na Fundação Iberê Camargo (av. Pe. Cacique, 2.000, Porto Alegre).

Em novembro, outra exposição no museu que leva seu nome vai reunir 20 artistas contemporâneos com obras que dialogam com Iberê Camargo.

São Paulo: Em maio, o Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112) inaugura megarretrospectiva com 145 obras de todas as fases da carreira de Iberê Camargo.
 

"Tudo te é falso e inútil III", (1992).

“ – Minha contestação é feita de renúncia, de não-participação, de não-conivência, de não-alinhamento com o que não considero ético e justo. Sou como aqueles que, desarmados, deitam-se no meio da rua para impedir a passagem dos carros da morte. Esta forma de resistência, se praticada por todos, se constituiria em uma força irresistível [...]


"As Idiotas", (1991).

"– O drama [...] trago-o na alma. A minha pintura, sombria, dramática, suja, corresponde à verdade mais íntima que habita no íntimo de uma burguesia que cobre a miséria do dia-a-dia com o colorido das orgias e da alienação do povo. Não faço mortalha colorida.

– Por que sou assim?
– Porque todo homem tem um dever social, um compromisso com o próximo.
– Não há um ideal de beleza, mas o ideal de uma verdade pungente e sofrida que é a minha vida, é tua vida, é nossa vida, nesse caminhar no mundo.
– Sou impiedoso e crítico com minha obra. Não há espaço para alegria. É difícil revelar o significado das coisas. O Homem olha a sua face, interroga-se e não sabe quem é".
 

"A Idiota", (1991)

"– Acho que toda grande obra tem raízes no sofrimento. A minha nasce da dor.
– A vida dói [...]”.




"As figuras que povoam minhas telas envolvem-se na tristeza dos crepúsculos dos dias de minha infância, guri criado na solidão da campanha do Rio Grande do Sul."












5 de maio de 2014

A polícia italiana encontra obras de Paul Gauguin e Pierre Bonnard


 
Quadros roubados nos anos 1970 são encontrados na Itália

A polícia italiana encontrou quadros dos artistas franceses Eugène-Henri-Paul Gauguin (1848 - 1903) e Pierre Bonnard (1867-1947) que foram roubados nos anos 1970 em Londres, anunciou o Ministério da Cultura da Itália.

Segundo o ministro Dario Franceschini, os quadros são "Fruits Sur Une Table ou Nature au Petit Chien", de Gauguin, avaliado entre 10 e 30 milhões de euros (entre R$ 31,22 milhões e R$ 93,67 milhões), e "La Femme Aux Deux Fauteuils", de Bonnard, cujo valor não foi divulgado. 


O ministro da Cultura italiano DArio Franceschini (à esq.) e o general Mariano Mossa revelam os dois quadros roubados em 1970

Os quadros foram roubados em 1970 da residência de uma rica família de Londres, Mark-Kennedy, cujos herdeiros têm o direito de reivindicar sua propriedade.

Segundo o ministro, a história da investigação que levou aos quadros é digna de um filme. Depois de roubados, foram esquecidos em um trem que viajava entre Paris e Turim. O pessoal da companhia ferroviária não se deu conta de seu valor e as obras acabaram leiloadas em 1975, em Turim, quando foram comprados por um funcionário da empresa Fiat.


De acordo com o general Mariano Mossa, que dirige o departamento de polícia responsável pelo patrimônio cultural, as duas pinturas foram recuperadas há cerca de um mês, na cozinha do funcionário, que as manteve por quatro décadas.
A história de como a polícia chegou a esta cozinha também é curiosa. Com fotos enviadas por especialistas à polícia e graças ao maior banco de dados do mundo de obras de arte roubadas, criado há 45 anos pela polícia italiana, os quadros - que não constavam do catálogo - foram descobertos a partir do cruzamento de catálogos oficiais, já que as obras apareciam nos de 1964, mas não nos anos a partir de então.


Dois artigos de junho de 1970 no New York Times e em um jornal de Cingapura nos quais o roubo era mencionado levantaram as suspeitas dos policiais italianos, que por anos levaram avante esta intrincada investigação.

Agora deve acontecer uma longa batalha judicial para estabelecer quem são os legítimos proprietários das obras, já que o operário siciliano as comprou de maneira legal.

Em janeiro, Mossa afirmou que "o volume de negócios gerado pelo comércio ilegal de obras de arte ocupa o quarto lugar em todo o mundo, atrás das armas, drogas e dos produtos financeiros". 

A obra de Gauguin (1848-1903) está avaliada entre 15 e 35 milhões de euros. Com o título Frutas na mesa ou natureza para o cachorrinho, o quadro, de 49 cm por 54 cm, foi pintado em 1889.
 

O ministro italiano da Cultura Fruits sur une table ou nature au petit chien, de Gauguin,

O outro quadro é a pintura "A mulher com as duas poltronas", de Pierre Bonnard (1867-1947), apresentado em uma coletiva pelo ministro italiano da Cultura, Dario Franceschini.
 
La femme aux deux fauteuils, de Bonnard