Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

7 de dezembro de 2016

O "Quadrado Negro sobre fundo Branco" de Kazimir Malevich




"Quadrado Negro sobre fundo Branco" - 1915 - óleo sobre tela - 79,5cm X 79,5cm - Kazimir Malevich - Galeria Tretiakov, Moscou.

Kazimir Severinovich Malevich, (1878-1935), nascido em Kiev, era um pintor e arte-teórico russo. Foi o pioneiro da arte abstrata geométrica e o autor da avant-garde movimento suprematista. Segundo seu manifesto "Do Cubismo ao Suprematismo", publicado em 1915, o suprematismo define-se como “supremacia do puro sentimento”, retratando a sensibilidade em si mesma, sem conexão com objetos que indiquem sua origem.


"Retrato de Mathuchin" - 1913 - óleo sobre tela - 106,3cm X 106,3cm - Galeria Tretiakov, Moscou.

A pintura "Quadrado Negro sobre fundo Branco" é a representação pura da escuridão que Malevich sentia dentro de si. Gerou muitas discussões, lendas e histórias. Malevich idealizou a obra em 1913 e a pintou em 1915, no auge da Primeira Guerra Mundial. Inicialmente, a obra, não tinha sentido simbólico, transmitindo apenas uma mensagem gráfica. Mas aconteceu o que muitas vezes ocorre com obras importantes. Em torno dessa obra surgiram várias interpretações e opiniões. Efetivamente, o "Quadrado Negro sobre fundo Branco" é uma obra bem mais complexa do que parece à primeira vista. É o resultado de conhecimentos excepcionais acumulados por Malevich sobre as cores, composição e proporções artísticas, além do fato de que ele era um místico cristão devoto que acreditava que a tarefa central de um artista era o de tornar sentimento espiritual.

Ao analisarmos, percebemos que o “Quadrado” não é quadrado. Nenhum dos seus lados é paralelo às bordas. Malevich misturou várias cores de tintas para chegar à cor preta. Se olharmos com atenção, reparamos que a camada de tinta está gretada, proporcionando uma ilusão de enxergarmos no quadrado um búfalo correndo, virado para o observado, de lado e um pouco de costas.


Há quem afirme que o “Quadrado Negro” saiu por acaso, nos preparativos de uma grande exposição futurista. Malevich e alguns seguidores souberam que uma sala enorme havia sido destinada para seus quadros. Como o tempo urgia, eles se lançaram a criar obras para enchê-la. Malevich, que tinha dificuldade para pintar, quando se sentia nervoso, simplesmente encheu a tela de tinta, surgindo daí o "Quadrado".

Dizem que Malevitch ficou em estado de perturbação total durante uma semana, não conseguiu comer, beber ou dormir. O pintor acreditava que a representação figurativa trazia para o quadro "qualquer coisa do referente", pelo que o ato de "apagar a representação" implicava "apagar também o referente". No entanto, o próprio Malevich afirmava que criara o quadro num estado de transe místico, sob influência da “consciência cósmica”, razão pela qual, para ele, a obra tinha grande significado. Na exposição, o “Quadrado Negro” estava num canto direito, espaço reservado para as obras russas. Era o lugar de ícones.


Outros Quadrados de Malevich

O artista também pintou o “Quadrado Vermelho” e o “Quadrado Branco”.


"Quadrado Vermelho"
- 1915 - óleo sobre tela - 53cm X 53cm - Museu do Estado Russo - São Petersburgo.


"Quadrado Branco sobre fundo Branco" - 1918 - óleo sobre tela - 78,7cm X 78,7cm - MoMA, Nova York.

O “Quadrado
Negro” não é único. O segundo da série foi pintado para o Bienal de Veneza, em 1923, diferenciando-se do primeiro em dimensões. O terceiro, foi criado por Malevich para uma exposição na Galeria Tretiakov, em 1929. Segundo consta, foi um pedido do diretor da galeria, que não queria expor o original gretado. No segundo e no terceiro, já não há pequenas rachaduras; provavelmente, o artista usou verniz para proteger as tintas.

Em 1993, apareceu uma quarta variante do “Quadrado Negro”. Um desconhecido trouxe-o para um dos bancos da cidade de Samara, Rússia, como garantia para um empréstimo. O quadro se tornou propriedade do banco e foi de grande ajuda no ajuste de contas. Para o quadro não sair da Rússia, o governo proibiu a venda para o exterior e a obra acabou sendo adquirida pelo empresário russo Vladímir Potanin, que o ofereceu ao Museu Hermitage.


Outras obras de Malevich



"Quadrado Negro e Quadrado Vermelho" - 1915 - óleo sobre tela - 71,1cm X 44,4cm - MoMA, Nova York.


"Auto-retrato" - 1907 - tempera sobre papel - 69cm X 70cm - Stedelijk Museum, Amsterdam.


"Banhista" - 1911 - guache sobre papel - 105cm X 69cm -  Stedelijk Museum, Amsterdam.


Monumento pintado

A história do “Quadrado Negro” se prolongou para além da morte do autor, como acontece com as grandes obras. No enterro de Malevich, em conformidade com o testamento do pintor, foi seguido o “costume suprematista”, durante o qual o “Quadrado Negro” mais uma vez desempenhou o papel do ícone, sendo pintado na urna e a reprodução do mesmo estava instalada no carro fúnebre.

Durante a guerra, não foi possível preservar a sepultura de Malevich, nos arredores de Moscou. Em 1988, um grupo de entusiastas instalou, no local, um monumento mencionado no testamento de Malevich - um cubo branco com a imagem de um quadrado.

“As figuras, estes quadrângulos, são reais para a vida” Malevitch.


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