Camille Athanaïse Cécile Cerveaux Prosper, nome artístico Camille Claudel, (1864/1943 - Paris) foi uma escultora francesa.
Passou toda sua infância em Villeneuve-sur-Fère, morando em um presbitério que seu avô materno havia adquirido. Segundo Paul, seu irmão, ela declarou desde cedo seu desejo de ser escultora. Camille também tinha certas premonições e previu que seu irmão se tornaria escritor e sua irmã Louise seria musicista.
Seu pai, maravilhado com seu precoce talento que, ainda na infância, produziu esculturas de ossos e esqueletos com impressionante verossimilhança, ofereceu-lhe todos os meios para desenvolver suas potencialidades, colocando-a em escolas e cursos de primeira linha. Por outro lado, sua mãe não via isso com bons olhos, colocando-se sempre contra, reagindo muitas vezes violentamente no sentido de reprovar a filha que traz incômodos e custos excessivos para a manutenção de seu capricho.
O sonho de Camille é ser uma escultora de sucesso e via essa vontade ameaçada pela mãe que acha que a educação da menina causava muitos gastos.
Em 1881 conseguiu de seu pai, amigo do escultor Boucher, a mudança da família para Paris onde se matriculou na Academia Colarossi. As mulheres não podiam frequentar a Escola de Belas Artes. Iniciou os estudos com o próprio Alfred Boucher. São desta época as duas primeiras obras conhecidas.
Paul aos treze anos - Camille Claudel
Mais tarde, Boucher se ausentou para Itália e Rodin o substituiu. A vida de Camille alterou-se profundamente. Chegou a ser seu modelo, discípula e amante.
De temperamento forte e determinada, lutou contra todos os preconceitos da sociedade dos fins do sec. XIX que nunca viria a aceitá-la como escultora e também contra sua mãe que nunca a apoiou. Com o irmão, o poeta Paul Claudel, manteve nos primeiros tempos uma relação de amizade, mas mais tarde, este viria a desprezá-la.
Era uma mulher muito bonita, de olhos azul escuro, e de grande talento. Para Rodin, um escultor buscando notoriedade e grande sedutor, isso não lhe foi indiferente. Envolveu-se com Camille numa enorme paixão, sem contudo abandonar Rose Beuret, sua companheira e modelo desde os primeiros tempos, com quem tinha um filho e com quem se viria a casar.
Rodin teve consciência logo no início da genialidade de Camille, e contratou-a para colaborar na execução das Portes de l'Enfer e no monumento Bourgeois de Calais. Foi encarregada de fazer mãos e pés o que demonstrava a confiança de Rodin no seu trabalho.
A porta do Inferno - Auguste Rodin
Em 1888 Camille passou a viver com Rodin numa casa a que chamariam o retiro pagão. Frequentavam lugares públicos e a sua vida tornou-se um escândalo. Conviveu com a sociedade intelectual e artística da época.
Rodin vivia simultâneamente com Rose e Camille. E à promiscuidade amorosa, juntava-se a profissional. Era difícil saber quando a obra pertencia a um ou a outro; ou quando Rodin se apropriava do trabalho de Camille e o assinava como seu. Camille escreveu em cartas que Rodin temia o seu talento e inteligência.
Em 1892 Camille teve um aborto que a deixou profundamente abalada e impotente para convencer Rodin a abandonar Rose e casar-se com ela. Foi nessa ocasião que ela decidiu afastar-se e criou Sakuntala, escultura inspirada no conto do poeta hindu Kalidassa.
"Uma mulher grávida que procura o marido que a não reconhecerá, por ela ter perdido a insígnia que a nomeava sua rainha e assim a toma como impostora. Sakuntala retira-se em desespero e uma chama em forma de mulher levanta-a e ambas desaparecem".
Sakuntala - Camille Claudel
Outras duas obras importantes vieram a seguir e foram premiadas; A Valsa e Clotho.
A Valsa - Camille Claudel
Clotho é uma das três Moiras que determinam o destino dos homens e tem o poder de fiar a vida e cortá-la quando quiser.
Clotho - Camille Claudel
A seguir veio a sua fase mais produtiva, é quando estuda a arte japonesa e cria as suas melhores obras: as Bisbilhoteiras e a Onda.
A Onda - Camille Claudel
A Onda tem tido várias interpretações, mas a que me parece mais ajustada à personalidade de Camille é a referência à luta gigantesca da mulher contra os tabús, preconceitos e descriminações que ao longo dos tempos tem travado e que, como no caso de Camille, vive a ameaça e a realidade de ser dominada e destruída.
Em todos os momentos existe sempre o dedo de Rodin; será sempre por seu intermédio que obtém encomendas, e será também através dele o reconhecimento das mesmas. Isso não agrada a Camille.
Em 1898 rompeu definitivamente com Rodin depois de A Idade Madura, ser recusada pela Exposição Universal de 1900. Considerada a sua obra mais autobiográfica, Rodin não gostou de se ver tão explicitamente exposto nela e conseguiu a sua rejeição.
Idade Madura - Camille Claudel - Museu d'Orsay.
Camille, nessa época com 36 anos, convenceu-se que havia um complô de Rodin contra ela. Fechou-se no seu atelier, onde se isolou, e repetia incessantemente, “o canalha do Rodin;” frase ouvida pelos vizinhos. O meio artístico, dizia, passou a pertencer ao "bando de Rodin" que a todos seduz e convence, contra ela. As suas ideias e os seus desenhos eram roubados, executados, tinham sucesso, mas não se falava no seu nome. E dizia:
“Serei perseguida por toda a minha vida pela vingança deste monstro, o perseguidor Auguste Rodin"
Camille se entrega a uma solidão obsessiva, caracterizada pela pobreza e pela ruína física e mental. Só saia às noites .A partir de 1906, arremete contra sua obra, destruindo grande parte de sua produção, numa espécie de exorcismo, como uma forma de livrar-se daquilo que ainda a vinculava ao homem amado e com a obsessiva dor do abandono, gravado em uma de suas esculturas.
Rodin tenta vê-la, mas é rechaçado, transformando-se num inimigo perseguidor, dentro do delírio paranóico de Camille.
Em 1913, por ordem de sua mãe e de seu irmão, ela é internada em um asilo de loucos em Ville-Evrard e, um ano depois, transferida para o hospital psiquiátrico de Montdevergues, que lhe dará abrigo até sua morte, trinta anos depois, mas não encerra aí a desdita de Camille. Sua mãe jamais irá visitá-la e negou-se, firmemente, a aceitar o conselho dos médicos para levá-la de volta ao lar.
Seu irmão, Paul Claudel, além de próspero, fortalece-se politicamente, ao tornar-se embaixador da França. Não obstante, se negou, em 1933, a pagar-lhe uma pensão hospitalar. Nos 30 anos de internação, Paul a visitou poucas vezes e nada fez para amenizar o sofrimento de Camille, apesar das cartas suplicantes que esta lhe enviava, narrando as condições sub-humanas em que vive.
Rodin, por sua parte, envia-lhe algum dinheiro, expõe algumas das esculturas de Camille que sobreviveram à destruição, mas nada fez para liberá-la do hospital. De toda maneira, qualquer iniciativa sua seria obstada pela mãe de Camille que o considerava culpado pela ruína e loucura de sua filha.
Camille Claudel morre em sua prisão psiquiátrica em 1943, com a idade de 78 anos. Esquecida do mundo, morre sem glória, sendo enterrada, anonimamente, em uma vala comum.
Nota:
Carta de Camille escrita no asilo para seu irmão Paul.
"... Tenho pressa de deixar este lugar... Não sei se você pretende me deixar aqui, mas é muito cruel para mim!... Dizer que a gente está tão bem em Paris e que é preciso renunciar a isso por causa das bobagens que vocês têm na cabeça... não me abandone aqui sozinha..."
A vida dramática de Camille Claudel serviu de inspiração para peça teatral e um filme com a interpretação de Gérard Depardieu, Isabelle Adjani e Madeleine Robinson e realização de Bruno Nuytten.
Aline, edito uma revista bimestral de arte aqui no rio de janeiro. A próxima edição sai em janeiro e a sua circulação e gratuita. Gostaria de poder publicar seu texto sobre Camille Claudel, com sua autorização. Preciso, se concordar, que me envie o texto completo para: revistaartedefato@gmail.com e todos os seus dados e currículo para os créditos. A edição será fechada ainda essa semana.
ResponderExcluirDesde já agradeço,
Ana Lopes
Muito emocionante a vida de Camile. Lembro de ter estudado Paul Claudel, na escola, mas a obra dela me surpreendeu, sobretudo pela dramaticidade das formas e movimento. Parabe'ns pela publicacao. O'tima.
ResponderExcluirMarilda
Oi marilda,
ExcluirObrigada, eu também adoro o trabalho dela, é pura emoção e talento.