Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

11 de dezembro de 2012

Dennis Hopper "The Lost Album"




Redescobertas fotografias tiradas por Dennis Hopper

No início dos anos 60, Dennis Hopper era visto e apontando de longe, com uma câmera fotográfica balançando sobre o peito e seus amigos brincavam: "Xi, lá vem o turista". Era fácil de encontrá-lo em qualquer lugar - ruas do Harlem, touradas em Tijuana, bares de Londres, desertos no Peru - com sua Nikon F.


Dennis Hopper já era Dennis Hopper, o jovem talento de olhos turquesa que contracenara com James Dean em "Juventude Transviada" (1955). Interpretou Napoleão no cinema e alguns vilões em westerns para a TV, mas podia também ser visto como "o turista". E, fazendo jus à alcunha, fotografava obstinadamente -milhares de rolos de Kodak Tri-X.

Em algum momento de 1967 ele deixou sua câmera e foi escrever, protagonizar e dirigir o longa-metragem icônico "Easy Rider - Sem Destino" em 1969. Dennis Hopper,  jamais voltou à fotografia. Mas a fotografia voltou a ele, com todo o vigor.






A foto "Double Standard", tirada por Dennis Hopper de dentro de seu carro na histórica Rota 66



Quem anda pelo bairro Mitte, em Berlim, é testemunha. Tremulando na fachada do museu Martin-Gropius-Bau, o jovem Paul Newman convida os passantes à fotografia de Hopper. No banner, o ator, retratado numa manhã de 1964, está sem camisa e a sombra de uma grade o envolve parecendo capturá-lo.

"Esqueça o diretor de 'Easy Rider, esqueça o ator de 'Apocalypse Now' e de 'Veludo Azul'. Olhe só para estas imagens e você vai concordar. Hopper foi um dos grandes fotógrafos americanos do século 20", afirma a convicta Petra Giloy-Hirtz.

A curadora alemã vem se empenhando para comprovar essa tese. Desde março de 2011, ela tem vivido nos anos 1960 de Dennis Hopper e foi por iniciativa dela que "The Lost Album" veio à luz.



Quando Hopper morreu, em 2010, aos 74 anos, a família pôs à venda a manção na qual ele vivia, em Los Angeles e os bens do ator foram levados a um depósito.

Quando abriram as caixas, em meio a decorações natalinas, encontraram algumas centenas de fotografias em preto e branco. Elas estavam afixadas em cartões e sem molduras. Marin, a filha primogênita de Hopper, acionou Giloy-Hirtz, que já vinha pesquisando a fotografia de seu pai.

As fotografias encontradas tinham história: foram usadas na primeira e maior exposição individual de Hopper, em 1970, no museu Fort Worth, no Texas. O próprio ator havia feito a seleção de 429 imagens -instantâneos da época mostram Hopper barbudo e descabelado pregando as fotos na parede do museu texano.

A exposição foi exibida em outro local apenas uma vez, na Corcoran Art Gallery, em Washington, em 1971. Depois, ficaram arquivadas por 40 anos.
 


Autoretrato de Dennis Hopper, tirado em 1962, numa banca de revistas pornográficas.

O conjunto que reaparece na capital alemã, em montagem que reproduz a da época, mostra um fotógrafo versátil. Além de retratos, estão lá fotos abstratas, urbanas, de moda e jornalísticas, como as que documentam uma marcha pelos direitos civis liderada por Martin Luther King, em 1965 -cinco dias a pé pelo Alabama.

Os retratos são o ponto forte da iconografia hopperiana. "Ele foi um fotógrafo bastante completo, mas os retratos se destacam. Ninguém fotografou Warhol e os artistas pop tão bem quanto ele." declarou Giloy- Hirtz.
 
Hopper também tentara a pintura e, como artista, havia seguido uma linha diametralmente oposta ao pop, o expressionismo abstrato. Mas não só foi amigo de Warhol e de sua turma como um colecionador de primeira, comprando por US$ 60 pinturas de latas Campbell.


Andy Warhol and Members of The Factory

Além dos artistas plásticos Jasper Johns e o veterano Marcel Duchamp -retratado de smoking numa vernissage em 1963-, Hopper também capturou um belo elenco de atores e músicos.

O comediante Bill Cosby aparece enfiado no meio de plantas, com um sorriso gaiato; James Brown circundado por admiradoras loiras; Tina Turner lavando roupa ao lado do marido Ike.

Livros

O catálogo da exposição também vale a visita. Nele foram reproduzidas as mesmas cópias expostas no museu alemão. As marcas deixadas pelo tempo, pequenas ranhuras, dobrinhas, furos, estão no livro, publicado pela editora alemã Prestel.

No Brasil foi lançado em 2011 pela editora Taschen,  um livro com 544 páginas que apresenta um primoroso retrato de sua obra.

O livro Photographs 1961-1967 reúne centenas de imagens, retratos dele feitos por outrem, imagens de bastidores dos filmes, cartazes e raridades, como suas fotos coloridas.

Artista do preto e branco, dizia que a cor o seduzia a se concentrar somente na cor, e seus verdadeiros interesses eram "os aspectos formais da fotografia". Como fazia questão de afirmar, "fotografar é algo sério. Não é tarefa para turistas."






 

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