Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

11 de julho de 2013

Grupo Santa Helena e Francisco Rebolo



Grupo Santa Helena. Construído na década de 1920, o Palacete Santa Helena foi destruído em 1971, dando lugar à Estação Sé do metrô.

A existência do Grupo Santa Helena, e outras associações de artistas, tornou-se um elemento fundamental para a consolidação da arte moderna em São Paulo nos decênios de 1930 e 1940.

Sua abordagem e a compreensão como grupo não deixam de ser um desafio para os historiadores da arte brasileira. Sem programas preestabelecidos, o Santa Helena surgiu da união espontânea de alguns artistas que utilizaram salas como ateliê no Palacete Santa Helena, antigo edifício na Praça da Sé, em São Paulo, a partir de meados de 1934

O primeiro deles foi Francisco Rebolo, que instalou seu escritório de empreiteiro e artista-decorador na sala número 231 e começa a pintar, em 1935.

Nesse mesmo ano, Mário Zanini dividiu a sala com Rebolo, posteriormente alugando a de número 233, compondo a célula inicial do futuro agrupamento.
Em datas diversas, uniram-se a eles, por ordem de chegada, Manoel Martins, Fulvio Pennacchi, Bonadei, Clóvis Graciano, Alfredo Volpi, Humberto Rosa e Rizzoti.

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Palacete Santa Helena

O ambiente criado nas salas de trabalho era de troca mútua, dividindo-se os conhecimentos técnicos de pintura e as sessões de modelo vivo, decidindo sobre a remessa de obras aos salões e organizando as famosas excursões de fim de semana aos subúrbios da cidade para execução da pintura ao ar livre.

Relativamente afastado do meio artístico da época, o grupo só foi notado em outubro de 1936 por pintores mais experientes como Rossi Osir e Vittorio Gobbis, por ocasião da mostra Exposição de Pequenos Quadros, organizada pela Sociedade Paulista de Belas Artes no Palácio das Arcadas

É como participantes da Família Artística Paulista, FAP, - agremiação co-fundada e dirigida por Rossi Osir, responsável por elaboração de salões - que ganham visibilidade e passam a ser conhecidos pela crítica especializada como Grupo Santa Helena.

Durante a época dos ateliês conjuntos no palacete da Sé, não apresentam nenhuma exposição de seus trabalhos sob essa rubrica.

Na época do Santa Helena os artistas ganhavam a vida, em sua maioria, como artesãos ou pintores-decoradores, o que contribui para a consciência artesanal de suas obras. A pintura de cavalete era realizada somente nos momentos de folga.

Com a dissolução natural do grupo, que começa a se desfazer no fim da década de 1930, os artistas se desenvolveram e obtiveram resultados desiguais em suas carreiras individuais.

Alfredo Volpi foi o que mais se destacou. Vale notar que artistas não-pertencentes ao Santa Helena guardam semelhanças estilísticas com os integrantes do grupo. Tais semelhanças apontam, com mais força e coesão, uma nova posição artística em São Paulo, autônoma em relação ao modernismo dos anos 1920 sem ser acadêmica.

Vale dizer que esses artistas nunca deixam de conviver e manter a amizade, elegendo outros locais de encontro.

Sobre Francisco Rebolo

Francisco Rebolo é considerado um dos mais importantes paisagistas da pintura brasileira. Com um total estimado superior a 3.000 pinturas, centenas de desenhos e um conjunto de cinquenta diferentes gravuras, de variadas técnicas, além das paisagens, envolve também como temática um expressivo conjunto de retratos, figuras, naturezas-mortas e flores.


Auto-retratos Francisco Rebolo

Os trabalhos de Rebolo estão nos principais museus brasileiros, no acervo de órgãos culturais e governamentais e em coleções particulares em todo o Brasil.
Rebolo é também considerado um dos mais talentosos pintores do Grupo Santa Helena, trabalhando as cores com maestria, para compor paisagens marcadas pelo refinamento do meio-tom. Paisagista por excelência, pintou os arrabaldes, os limites da cidade, os subúrbios de casas simples. Tudo isso com a simplicidade de quem não partilha de referenciais teóricas rígidas.


Paisagem com cavalos - 1977

Francisco Rebolo Gonsales nasceu em São Paulo, em 1902. Antes de dedicar-se à pintura artística, realizou pinturas decorativas em residências e igrejas, foi jogador de futebol – entre outros clubes, jogou no Corinthians, pelo qual foi campeão em 1922 e para o qual, anos depois, desenhou o brasão definitivo.

Tinha 15 anos quando, conseguiu um emprego efetivo como aprendiz de uma oficina de decoração, desenvolvendo o seu talento na ornamentação de igrejas e também de casas, onde era comum a pintura rococó, cheia de floreados e exageros.


Paisagem com casas

Rebolo começou sua carreira como pintor, no início dos anos 1930 ao mesmo tempo em que trabalhava como pintor-decorador de residências. Em 1933, instalou, no edifício Santa Helena, na Praça da Sé, seu ateliê que foi, ao mesmo tempo, uma sala de trabalho para atender sua clientela de pintura em residências. É nesta sala que se uniu ao chamado grupo Santa Helena, a partir de 1935.

Rebolo estava presente em todos os importantes eventos ligados à história da arte moderna. Integrou o Salão de Maio, os Salões da Família Artística Paulista e do Sindicato dos Artistas Plásticos; pertenceu ao grupo de artistas que defende a criação de um Museu de Arte Moderna em São Paulo e, mais tarde, a Bienal.


Lagoa

Em 1944, Rebolo fez a sua primeira exposição individual na Livraria Brasiliense, sem grande sucesso. Somente em 1954, é que passou a ser notado, quando ganhou um prêmio de viagem à Europa, no 3º Salão Nacional de Arte Moderna.

Foi uma grande oportunidade, bem aproveitada, para o aperfeiçoamento de sua arte, numa turnê, em companhia da família, percorrendo vários países da Europa, além de participar de um curso de restauração no Museu do Vaticano.

Sem perder a simplicidade, o Rebolo que retorna ao Brasil é outro, mais amadurecido. Sua pintura continua de linhas planas, formas reduzidas ao mínimo exigido na arte figurativa, mas nota-se uma técnica bem mais desenvolvida e menos ingênua.


Paisagem com porteira - 1980

Daí em diante, registra-se uma sucessão de exposições, de entrevistas e de encomendas. É a consagração, com a qual jamais sonhara mas que, ainda que tardia, chegou à sua vida.

Em 1973, o Museu de Arte Moderna de São Paulo realiza a primeira retrospectiva de seu trabalho apresentado também em exposições em Brasília e no Rio de Janeiro.

Os eventos de 1973 põem em destaque os seus quarenta anos de pintura e, em 10 de julho de 1980, faleceu trabalhando até o seu último dia de vida.

Em 1985, o Museu Lasar Segall expôs cerca de 80 trabalhos de sua produção e, em 1986, foi lançado um livro que põe em destaque o seu percurso artístico e sua obra.

Conversa informal

Conforme abordado na matéria acima, o grupo Santa Helena foi composto por 8 artistas que serão apresentados semanalmente. O próximo será Mário Zanini que dividiu o ateliê com Francisco Rebolo.

2 comentários:

  1. Onde posso ver os quadros desse artista? Como conseguir o livro que faz uma restrospectiva de sua obra?

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  2. Conheci Francisco Rebolo quando comprei o livro de Carla Caruso e May Shuravel. As duas fazem uma bela homenagem ao artista. No livro: Sete contos, sete quadros, a literatura se utiliza dos contos para homenagear os pintores brasileiros, tornando-os conhecidos. O interessante é que cada conto trata de uma tela. No caso do Rebolo, a tela escolhida foi paisagem com cavalos de 1977

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