Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

26 de julho de 2013

Di Cavalcanti - O enamorado da vida.



A mulher do caminhão

Di Cavalcanti, o pintor carioca do bairro do Catete, amou como poucos o Rio de Janeiro e incontáveis mulheres passaram por sua vida, muitas delas foram registradas em imagens para o deleite das gerações futuras. Artista, poeta escritor e boêmio entendia que da vida só se poderia levar os prazeres. O crítico Jaime Maurício disse certa vez: "... fez da boêmia uma bandeira romântica". E foi dessa maneira que o gigante da cultura brasileira levou a vida: em constante alegria e celebração.

Vinicius de Moraes em 1963, cantou o amigo pintor em seus versos.
"...Que bom existas, pintor
Enamorado das ruas. Que bom vivas, que bom sejas..."
 

Esses versos refletem a alegria de um Brasil que encerrou-se um ano depois sob os ventos negros da ditadura militar que se instalou no país.

Na ocasião o artista procurou refúgio em Paris, lá conheceu Picasso, Matisse e Jean Cocteau, declarou-se um admirador da mulher brasileira, sempre "soube revelar o rosado recôndito das mulatas" e mais que tudo: "é sempre o mais exato pintor das coisas nacionais" , segundo o escritor Mário de Andrade.

 
O nascimento de Venus

"Falar da pintura de Di Cavalcanti é falar da cara e do povo brasileiro, da exuberância tropical do país, de sua sensualidade sem folclore". Renato Rosa.
 
 
Carnaval - 1970
 
Sobre Di Cavalcanti (1897-1976)
 
Emiliano Di Cavalcanti nasceu em 1897, no Rio de Janeiro, na casa de José do Patrocínio, que era casado com uma de suas tias. Quando seu pai morreu em 1914, Di foi obrigado a trabalhar e começou fazendo ilustrações para a Revista Fon-Fon.
 

 
Revista Fon-Fon!
 
Em 1917 transferiu-se para São Paulo ingressando na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. Continuou fazendo ilustrações e começou a pintar frequentando o atelier do impressionista George Elpons, conheceu e tornou-se amigo de Mario e Oswald de Andrade.

Em 1921 casa-se com Maria, filha de um primo-irmão de seu pai.
 


 
Minha mulher

Entre 11 e 18 de fevereiro de 1922 idealiza e organiza a Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo, criando para a ocasião do evento, o catálogo e programa.


 
Semana de arte moderna - 1922

Em 1923 fez sua primeira viagem a Paris permanecendo até 1925. Freqüentou a Academia Ranson. Expos em diversas cidades como Londres, Berlim, Bruxelas, Amsterdan e Paris. Conheceu Picasso, Léger, Matisse, Eric Satie, Jean Cocteau e outros intelectuais franceses.

Sua experiência com o cubismo, expressionismo e outras correntes artísticas inovadoras, conjugadas à consciência da sua posição de artista brasileiro, contribuiram para aumentar a sua convicção no propósito de ousar e destruir velhas barreiras, colocando as artes plásticas em compasso com o que acontecia no mundo.

Em 1926 retornou ao Brasil e ingressou no Partido Comunista criando os painéis de decoração do Teatro João Caetano no Rio de Janeiro.



Painel do Teatro João Caetano

Curiosidades
 
No Carnaval, Di Cavalcanti era frequentador assíduo do Baile das Bonecas, evento clássico de travestis no Teatro da República.

Militante do Partido Comunista nos anos 20 e 30, aceitou ser adido cultural brasileiro em Paris. Viajaram no dia 30 de março. No dia 31 jantaram com Vinícius de Moraes e no dia seguinte ele soube do golpe militar. Di pensou que fosse trote do dia 1º de abril.

A modelo Marina Montini foi a musa inspiradora do pintor por mais de dez anos. Di Cavalcanti procurou a morena depois de vê-la em um outdoor que anunciava pneus. A modelo enriqueceu como musa do pintor, mas se afundou em dívidas e no alcoolismo. Faleceu em 2006 de insuficiência hepática.

Di Cavalcanti pintou o Brasil das rodas de samba, das gafieiras, das mulatas e do carnaval, numa produção que chegou perto de 5 mil obras, incluindo desenhos e esboços.

Morreu vítima de complicações causadas pela cirrose. Seu velório foi documentado por Glauber Rocha, num filme que foi proibido pela justiça a pedido da filha dele.

"Moço continuarei até a morte porque, além dos bens que obtenho com minha imaginação,
nada mais ambiciono."








 

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