Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

20 de março de 2013

Grupo Santa Helena e Fulvio Pennacchi



Fulvio Garbacchio Pennacchi - (1905 - 1992) foi um desenhista, muralista e ceramista ítalo-brasileiro.

Foi integrante do Grupo Santa Helena, juntamente com Alfredo Volpi, Francisco Rebolo, Aldo Bonadei, Alfredo Rizzotti, Mario Zanini, Humberto Rosa, Clovis Graciano e outros.

Sua pintura é sensível e pessoal, de modo especial na interpretação dos grandes temas bíblicos e da vida dos santos, em razão de uma infância marcada por sólida educação religiosa católica, e na evocação do mundo caipira.

Nasceu na Toscana, Itália. Estudou em Florença e diplomou-se em pintura pela Academia Real de pintura de Lucca. Em 1929 chegou ao Brasil, estabelecendo-se em São Paulo. Em 1930/35 criou os trabalhos a óleo Cenas da Vida de São Francisco e a série das Obras de Caridade Corporais e Espirituais. Em 1935, realizou suas primeiras exposições no Brasil. Daí em diante, executou vários trabalhos, entre murais, afrescos, ilustrações e trabalhos a óleo, lidando com cerâmica apenas em 1952. Em 1951 participa da I Bienal de São Paulo.



Cenas da vida de São Francisco
 
Em 1975, recebeu do Presidente da República Italiana a Ordem Al Mérito Della República Italiana com o grau de Comendador. Como artista consagrado, participou ainda de inúmeras exposições, recebendo muitos prêmios.


Pennacchi no Brasil

Pennacchi contou: "No dia da minha chegada ao Brasil, 5 de julho de 1929, descendo em Santos, ao nascer do dia, o céu tinha uma cor tão estranha e exagerada que bem podia ser o fundo de um dos meus quadros - O Fim do Mundo - e eu fiquei chocado com o vermelho fogo e o amarelo berrante. Nunca mais voltei a ver, em 44 anos de vida brasileira, outro céu tão agressivo e espantoso".

Tal cenário parecia preludiar dias difíceis para o jovem italiano - e foi o que de fato ocorreu.

"Os primeiros anos de vida paulista foram um tanto semelhantes ao céu do dia de minha chegada. Não tinha possibilidade de sobreviver através da arte, somente podia levar uma vida miserável, adaptando-me aos mais humildes trabalhos que por piedade ia pedindo às pessoas que conhecia ou com quem simpatizava". Continuou Pennacchi.

"São Paulo estava em crise, eu considerado um futurista, as mil tentativas com a pintura e o desenho resultaram quase que somente em fracassos - só mais tarde quando me tornei açougueiro, pude então pintar durante a noite meus primeiros quadros representando as várias fases da vida de Jesus e cenas da vida de São Francisco".

Foi num açougue, desenhando em ásperos papéis de embrulho, que o encontrou em 1932 o escultor Emendabili, o qual, impressionado com a qualidade dos desenhos, convidou-o a compartilhar o seu ateliê, do que nasceu uma cooperação que durou alguns anos.

Em 1935, expondo no Salão Paulista de Belas Artes, Pennacchi foi apresentado a Rebolo Gonsales, que assim evocaria o encontro, anos depois.



Tornaram-se amigos inseparáveis e Pennacchi foi convidado a associar-se a Rebolo para trabalharem juntos no ateliê que Rebolo tinha alugado no Santa Helena.

No final de 35, participaram de uma exposição de miniquadros no Palácio das Arcadas e tiveram os trabalhos comprados pelo Professor Piccolo.

O ano de 1936 foi de muitos sucessos: o pintor conquistou medalhas de prata, no Salão Nacional e no Salão Paulista de Belas Artes, e inicia uma série de murais decorativos em residências paulistas.



Paralelamente, ilustra um livro de poemas de Jorge de Lima - O anjo - e passa a lecionar Desenho no prestigioso Colégio Dante Alighieri, onde viria a ser, anos mais tarde, professor de uma jovem com a qual se casaria, Philomena Matarazzo, filha do riquíssimo Conde Attilio Matarazzo.

Outros murais surgiriam em 1937 e 1938, respectivamente na capela da fazenda de Agostinho Prado (totalmente idealizada e projetada por Penacchi, que também executou para a mesma uma Via Sacra em terracota, mais os altares e os vitrais), e no salão de entrada de A Gazeta.


Ceia de Emaús - 1943

Todos os murais realizados até 1939 foram feitos a óleo; a partir de então foi empregada exclusivamente a velha técnica do afresco, tendo servido de marco inicial da série Última Ceia pintada, naquele ano, na residência do Dr. Carlos Bott.

A partir de 1945, sentindo-se marginalizado e esquecido, Pennacchi isolou-se em seu ateliê.


Natividade - 1947

"No período de 1945 a 1962 fiquei completamente isolado e nunca fui convidado a tomar parte em qualquer mostra de arte. Participei somente da I Bienal - dos meus três trabalhos, somente um foi aceito - e depois não tentei mais participar". Contou Pennacchi.

De 1950 em diante, para tentar romper tal isolamento, Pennacchi passou a se dedicar com crescente interesse à cerâmica, executando numerosas Vias Crucis, presépios, imagens, figuras, pássaros, galos e mesmo objetos utilitários, assim explicando a gênese desse novo meio expressivo.

 
1967 - Exposição "Grupo Santa Helena - 30 anos depois"

Foi na retrospectiva que o MASP lhe consagrou em 1973, que Pennacchi ressurgiu como um dos valores da arte paulista e brasileira modernas.

Ali patenteou-se sua nota pessoal, quase monótona de tão típica, e foi possível acompanhar o lento e gradativo abrasileiramento de sua pintura, desde as primeiras obras produzidas no Brasil - ainda marcadas pelo Renascimento Italiano -, às suas inconfundíveis cidadezinhas interioranas.

Ele explica: "Eu adoro figuras, principalmente se retratam homens do campo, nossos caboclos, essa gente simples e ingênua, eles movimentam cada tela, acho mesmo que o lado humano é básico na arte."

Conversa Informal

Dando continuidade a matéria Grupo Santa Helena, na próxima semana vamos contar um pouco da vida e apresentar algumas das obras do artista Clovis Graciano.





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