Estrangeiros vão representar o Brasil na próxima Bienal de Arte de Veneza
Pela primeira vez, estrangeiros que nunca viveram no Brasil representarão o país na 55ª edição da Bienal de Arte de Veneza, na Itália, que deve ser aberta ao público no dia 1º de junho.
Além do gaúcho Hélio Fervenza e do paranaense Odires Mlászho, haverá um grupo que representará com suas obras um viés mais histórico, composto por Lygia Clark (brasileira), o italiano Bruno Munari e o suíço Max Bill.
Segundo o curador venezuelano Luis Pérez-Oramas, a introdução de estrangeiros faz parte de um "pensamento constelar". A tal ideia, de acordo com ele, teve início no ano passado com a 30ª Bienal de São Paulo, "A Iminência das Poéticas", mostra que Oramas também curou.
"O pensamento constelar também tem uma dimensão política, que é a necessidade do diálogo. Por isso, é importante exibir artistas contemporâneos com outros de distintas gerações e nacionalidades", afirmou Oramas em declaração a um jornal de Nova York, onde vive.
O venezuelano Luis Pérez-Oramas, curador da 30ª Bienal de Artes de São Paulo, que indicou os artistas representantes do Brasil
Sobre os artistas convidados.
Artista visual, professor e pesquisador, Hélio Fervenza realiza sua obra plástico-teórica a partir de profunda reflexão sobre as noções de apresentação, exposição e autoapresentação. Ao considerar o conceito de apresentação um ideário mais amplo que o de exposição, Fervenza postula que a configuração de um espaço expositivo não estaria garantida apenas em decorrência da presença física de uma produção artística no ambiente contextual instaurado pelo museu ou pela galeria – ela se estabeleceria, essencialmente, a partir do cruzamento de dispositivos que operam sobre a visualidade.
Exposição Ponto de Impacto: Perda de contato - off-set - Castelinho do Flamengo - RJ
As apropriações de imagens esquecidas, empoeiradas ou escondidas dentro de livros e a sua reconstrução – de maneira a atar encontros anacrônicos – povoam a poética de Odires Mlászho. Em sua obra, o artista modifica imagens e as refotografa – transformando em colagens conteúdos visuais que parecem ter se desvinculado de sua memória. Tendo o livro como principal objeto de manipulação, o artista transforma em livros-esculturas enciclopédias, editoriais fotográficos, livros-reportagem e compêndios botânicos – oferecendo-os a uma contemplação ativa capaz de inaugurar outras formas de leitura e percepção.
O artista modifica imagens e as refotografa transformando em colagens.
Lygia Clark - Nasceu em 1920 em Belo Horizonte, MG, Brasil.
Munari, artista inquieto e produtivo, participou do movimento futurista, bastante forte na Itália, trabalhou com design gráfico, namorou o surrealismo e criou livros infantis, que eram primeiramente para entreter seu filho Alberto.
Depois elaborou trabalhos sob uma estética construtivista, chegando a fundar o movimento da Arte Concreta com outros artistas como Gillo Dorfles, Gianni Monnet e Atanasio Soldati.
Bruno Munari contribuiu enormemente para a inserção da prática artística e do desenho contemporâneo na lógica da vida cotidiana, na materialidade dos objetos comuns e dentro do registro das linguagens ordinárias. Segundo o curador.
Artista plástico, escultor, arquiteto, designer gráfico e de interiores, Bill estudou na Bauhaus em Dessau, e foi mais tarde docente na Hochschule für Gestaltung, a Escola Superior de Design em Ulm, vocacionada para continuar o legado da Bauhaus.
Max Bill deixou-nos uma extensa obra, quase toda ela marcada por um purismo ascético e espartano, formas reduzidas ao essencial, contenção emocional – e excelente tecnologia suíça.
O seu trabalho foi uma tentativa constante de equilibrar o ato de criar arte livremente com a arte utilitária, aplicada a fins funcionais. O seu esforço foi equilibrar as formas severas do produto industrial com as formas fluídas da obra de arte. Bill preocupou-se com pensamento filosófico e com a aplicação prática.
Sobre a Bienal de Arte de Veneza
A Alemanha, por exemplo, será representada neste ano por três estrangeiros entre seus quatro selecionados. Dos quais o mais luminoso é o chinês Ai Weiwei.
O núcleo histórico escolhido por Oramas é composto por obras que influenciaram a arte brasileira, como Unidade Tripartida, de Max Bill, que venceu a 1ª Bienal de São Paulo, em 1951, e estimulou a arte concreta no país.
Unidade Tripartida
"Essas obras representam uma introdução arqueológica aos trabalhos de Fervenza e Mlászho, que são, de fato o núcleo central da exposição", explica o curador.
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