Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

2 de novembro de 2012

Pinacoteca apresenta a exposição Aberto Fechado: caixa e livro na arte brasileira



Aberto fechado / Livro e Caixa

Setenta obras de artistas brasileiros de destaque na segunda metade do século 20 e no início do século 21, como Cildo Meireles, Hélio Oiticica, Jac Leirner e Mira Schendel, compõem Aberto Fechado. A curadoria é do britânico Guy Brett, que, em seu primeiro trabalho para um museu brasileiro, propõe uma análise sobre o uso das formas do livro e da caixa na arte contemporânea brasileira.

Caixas encerram universos inteiros, céus e nuvens mais ou menos abstratos. Em alguns casos, guardam resquícios das contradições de um país. Em outros, viram microcosmos cheios de cor.

A mostra agora em cartaz na Pinacoteca do Estado volta aos anos 50 e recolhe, até os dias de hoje, obras que abrem e fecham, trabalhos em forma de caixa, que vão desde abstrações geométricas a comentários críticos sobre o contexto político da época em que foram criadas.


Solitário - 1979 - Antonio Dias que faz parte da exposição Aberto Fechado: a caixa e livro na arte brasileira.

Brett afirma "Todos esses trabalhos têm uma relação. Mas há um paradoxo. Enquanto muitos desses artistas tentavam levar arte às ruas, eles se isolam nessas peças introspectivas, calmas, criando uma biblioteca de formas."

Nessa biblioteca, além das caixas, há livros de desenhos de Mira Schendel, em que a artista cria quase uma animação página a página, ou mesmo exercícios geométricos de Lygia Pape e Ferreira Gullar, desdobrando o pensamento da poesia concreta que surgia nos anos 50.

No alto de uma sala, estão caixas brancas que Lygia Pape equipara a nuvens no céu, objetos ortogonais que imprimem lógica matemática à visão de devaneio.

Waltercio Caldas reproduz constelações e galáxias em branco no interior de uma caixa preta, como se tentasse fazer caber entre as faces de um cubo toda a percepção, uma possível alusão à tentativa de enquadrar na alvura das galerias de arte a potência do pensamento estético.

Nos caixotes e vasilhames de Hélio Oiticica, pigmento cru e paredes coloridas se articulam na expressão de um estado de cor em potencial, a tensão de uma obra que parece se conservar em estado perpétuo de gênese, uma espécie de embrião de formas.

Barrio alude às mortes do período num livro com páginas feitas de carne, Dias ataca o fim do voto democrático na ditadura com sua série de urnas lacradas, caixas que guardam objetos secretos e nunca podem ser abertas.



Livro de carne - 1978-1979 - Artur Barrio

Sobre o curador

Guy Brett escreve sobre arte desde os anos 1960. Foi um dos primeiros críticos a lidar com o trabalho de artistas brasileiros e um dos responsáveis pela projeção da produção nacional na Europa e de lá para o mundo, introduzindo na cena internacional os trabalhos de Hélio Oiticica, Lygia Clark e Lygia Pape.

Durante as décadas de 1960 e 1970, foi articulista nos jornais londrinos The Guardian e The Times. Nos anos 1980, tornou-se o editor de arte da publicação City Limits. Escreveu, também, para várias revistas como Art in America, Artforum, Art&text, Third Text, entre outras.

É autor de livros como Brasil experimental, Through our own eyes, e Carnival of perception. Foi também o curador da exposição Georges Vantongerloo no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofía, Madri, e um dos organizadores da exposição de Cildo Meireles, em 2008, na Tate Modern, Londres.

Serviço:

Aberto Fechado: caixa e livro na arte brasileira

Pinacoteca do Estado de São Paulo - Praça da Luz, nº 2 - Tel. 3324-1000

até 13.01.2013
http://www.pinacoteca.org.




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