Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

17 de setembro de 2013

Bienal do Mercosul em Porto Alegre



Em Porto Alegre, Bienal do Mercosul quer 'geografia crua'
 
Um emaranhado de cabides metálicos pende do teto na forma de uma antena. No chão, uma rede de mangueiras transparentes faz circular litros de água, da mesma maneira que faz um coração de verdade com o sangue.

Esse desejo de transcender a geografia, no caso do transmissor criado pela dupla de artistas Allora & Calzadilla, e o de transformar em processo plástico um fenômeno tão natural quanto a circulação do sangue, peça do alemão Hans Haacke, são as duas pontas do espectro de obras na atual Bienal do Mercosul. 


'Ten Minute Transmission', obra de Allora & Calzadilla.
 
Desta vez são dois os deslocamentos. A mostra deixa de ocupar os armazéns no cais do lago Guaíba, agora em reforma, e se espalha pela cidade --do Santander Cultural à Usina do Gasômetro.

Suas obras também refutam a mera representação da natureza para extrair de fenômenos naturais, ou melhor, do embate entre artista e natureza, uma plástica menos espetacular e mais intangível, como ondas de rádio.
 

'Circulation', obra do artista Hans Haacke.
 
"Não estamos falando mais de fronteiras", diz Sofía Hernández Chong Cuy, curadora mexicana à frente desta nona edição da mostra. "A geografia que estamos explorando é a do espaço cru, do mar e dos subsolos da terra."

Um tanto vaga, Chong Cuy parece querer usar as linhas de transmissão das antenas para unir pontos tão distantes como um hotel arrasado por um furacão no Caribe -- foco da obra do artista mexicano Mario García Torres-- e um campo de meteoritos na Argentina -- assunto da dupla Faivovich & Goldberg.
 

Guillermo Faivovich, Nicolas Goldberg - "Cosmocosa" - Argentina
 
PORTAIS DO TEMPO 

"Tem mais a ver com tempo do que com espaço", diz a curadora. "São trabalhos que vejo como portais para outras épocas históricas ou como imaginações atmosféricas."

Imaginações à parte, o que a mostra tem de concreto são remontagens de alguns trabalhos clássicos, talvez daí essa tal ponte com o tempo.

Hans Haacke, que montou suas veias e artérias de plástico pela primeira vez em 1966, vê ressurgir o trabalho.

"Não pensei em termos simbólicos com essa circulação. São processos em que percebia uma beleza tradicional", diz o alemão. "Mas entendo que uma obra nunca é vista da mesma maneira em épocas distintas."
 
Marta Minujín, artista argentina pioneira em performances no cenário latino, também aposta na releitura de uma ação dos anos 1960, quando ficou 24 horas em comunicação ininterrupta com outros dois artistas na Alemanha e nos Estados Unidos. 
 

Obra de Marta Minujín expondo na Galeria Ro, Buenos Aires, 2013
 
Em Porto Alegre, Minujín deve refazer a performance em escala menor. "A ideia era a simultaneidade, a globalização de tudo, que é o que ocorre agora", resume. "Queria fazer dos meios de comunicação de massa uma obra." 

Mas não são só reconstruções do passado. Peças clássicas também serviram de gatilho a novas produções. 

Uma canção de Caetano Veloso criada em 1971 ganhou um cover na voz do mexicano Mario García Torres. "If You Hold a Stone", que fala do poder de cura de uma pedra, vira um mantra etéreo nessa mostra com pretensões de reinventar a natureza.

"É uma reinterpretação", diz García Torres. "Minha obra fala da relação que tenho com essa outra, que foi criada tantos anos atrás."

 

SERVIÇO

9ª BIENAL DO MERCOSUL

QUANDO: Até 10/11 - de terça a domingo, das 9h às 19h.

ONDE: vários endereços, consulte. www.bienalmercosul.art.br

QUANTO: grátis

 
 
 

 
 

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