Em Porto Alegre, Bienal do Mercosul quer 'geografia crua'
Esse desejo de transcender a geografia, no caso do transmissor criado pela dupla de artistas Allora & Calzadilla, e o de transformar em processo plástico um fenômeno tão natural quanto a circulação do sangue, peça do alemão Hans Haacke, são as duas pontas do espectro de obras na atual Bienal do Mercosul.
'Ten Minute Transmission', obra de Allora & Calzadilla.
'Circulation', obra do artista Hans Haacke.
Um tanto vaga, Chong Cuy parece querer usar as linhas de transmissão das antenas para unir pontos tão distantes como um hotel arrasado por um furacão no Caribe -- foco da obra do artista mexicano Mario García Torres-- e um campo de meteoritos na Argentina -- assunto da dupla Faivovich & Goldberg.
"Tem mais a ver com tempo do que com espaço", diz a curadora. "São trabalhos que vejo como portais para outras épocas históricas ou como imaginações atmosféricas."
Imaginações à parte, o que a mostra tem de concreto são remontagens de alguns trabalhos clássicos, talvez daí essa tal ponte com o tempo.
Hans Haacke, que montou suas veias e artérias de plástico pela primeira vez em 1966, vê ressurgir o trabalho.
"Não pensei em termos simbólicos com essa circulação. São processos em que percebia uma beleza tradicional", diz o alemão. "Mas entendo que uma obra nunca é vista da mesma maneira em épocas distintas."
Mas não são só reconstruções do passado. Peças clássicas também serviram de gatilho a novas produções.
Uma canção de Caetano Veloso criada em 1971 ganhou um cover na voz do mexicano Mario García Torres. "If You Hold a Stone", que fala do poder de cura de uma pedra, vira um mantra etéreo nessa mostra com pretensões de reinventar a natureza.
"É uma reinterpretação", diz García Torres. "Minha obra fala da relação que tenho com essa outra, que foi criada tantos anos atrás."
9ª BIENAL DO MERCOSUL
QUANTO: grátis
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