Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

19 de março de 2014

Releitura de Van Gogh por dramaturgo inspira exposição em Paris


Auto Retrato - Van Gogh

Os gritos de mulheres enlouquecidas surpreendem visitantes que entram na nova exposição sobre Vincent Van Gogh no Museu d'Orsay, em Paris, um olhar sobre o trabalho do pintor sob a perspectiva do falecido dramaturgo e diretor francês Antonin Artaud.

"O Homem Levado ao Suicídio pela Sociedade", inaugurada recentemente, é um título apropriado para uma exposição de 55 obras de Van Gogh usando o próprio comentário de Artaud, para vê-las sob uma nova luz.
 

Conhecido por sua obra seminal de 1938 "O Teatro da Crueldade", Artaud foi, como Van Gogh, atormentado por alucinações e internado em clínicas psiquiátricas durante toda a vida.

No espaço de exposição, um caleidoscópio de frases violentas retiradas de uma análise de Artaud de 1947 sobre Van Gogh é projetado no chão: "angústia" e "delírio".

 
Projeção de obra de Vincent van Gogh no Museu d'Orsay, em Paris

Gritos gravados dão o tom da exposição em que quatro autorretratos de Van Gogh encaram o espectador.


INTERPRETAÇÃO DIFERENTE

Artaud defendeu Van Gogh, o artista de cabelos ruivos que morreu depois de atirar no próprio estômago em 1890, em um livro de 1947, em que culpou a sociedade por sua morte. A editora convenceu o dramaturgo de que seus próprios problemas de saúde mental fariam dele um intérprete ideal de Van Gogh.


Girassóis - Van Gogh

Para Artaud, Van Gogh não era um louco, mas alguém sem medo de retratar a realidade, um artista que poderia, como ele escreveu, "examinar o rosto de um homem com uma força tão avassaladora, dissecando sua psicologia refutável como se usasse uma faca".

A curadora da exposição em Paris, Isabelle Cahn, disse que o texto de Artaud desafia as ideias convencionais sobre a suposta loucura de Van Gogh.

"Artaud escreveu: 'Não, Van Gogh não é louco, ele foi empurrado para um desespero suicida por uma sociedade que rejeitou suas obras'", disse ela. "Daquele momento em diante, ele passou a acusar pessoas de empurrar Van Gogh ao suicídio e a sociedade como um todo."


A Noite Estrelada - Van Gogh

Van Gogh queixou-se certa vez a seu irmão Theo da dificuldade de pintar, que seria semelhante a "encontrar seu caminho através de uma parede de ferro invisível" que separa sentimento de execução, uma frustração presente na obra de Artaud.

"Ninguém jamais escreveu ou pintou, esculpiu, modelou, construiu, inventou, a não ser para sair do inferno", escreveu Artaud, que foi encontrado morto em 1948 aos 51 anos em seu quarto numa clínica, possivelmente em consequência de uma overdose.

SERVIÇO

Musée D'Orsay - 62, Rue de Lille - Terça a domingo das 9h30 às 18h00 (quinta até 21h00)
www.musee-orsay.fr

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