Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

24 de abril de 2014

Galpão Fortes Vilaça apresenta "Polvo" de Adriana Varejão


Polvo Portraits - Adriana Varejão
 
EXPOSIÇÃO "POLVO" DE ADRIANA VAREJÃO NO GALPÃO FORTES VILAÇA
 
 Em “Polvo”, a artista Adriana Varejão apresenta resultado de pesquisa sobre tonalidades de pele do povo brasileiro. A mostra é composta por um objeto múltiplo e uma série de autorretratos encomendados a retratistas. Na ocasião, foi lançado o livro “Pérola Imperfeita: A História e as Histórias na Obra de Adriana Varejão (Editora Cobogó e Companhia das Letras; 360 pág. R$ 90), assinada em parceria com a historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz.

 
A artista carioca, há cinco anos sem realizar no país uma mostra apenas com trabalhos inéditos, apresenta a recém-criada série Polvo, fruto de uma pesquisa de forte caráter conceitual, desenvolvida ao longo de mais de 15 anos acerca da representação das cores de pele dos brasileiros e da maneira ambivalente como se define raça no Brasil.
 

 
Polvo é o nome do conjunto de tintas idealizado e criado por Adriana. O ponto de partida para a criação deste trabalho foi uma pesquisa de campo elaborada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em 1976. Normalmente, o censo oficial brasileiro classificaria as pessoas em cinco grupos diferentes de acordo com sua cor de pele: branco, preto, vermelho, amarelo e pardo. Naquele ano, no entanto, a pesquisa domiciliar introduziu uma questão em aberto: "Qual é a sua cor?". O resultado foram 136 termos, alguns deles inusitados, cujos significados são muito mais figurativos do que literais. A artista selecionou os 33 termos mais exóticos, poéticos ou vinculados a uma interpretação especificamente brasileira de cor como suposto social, e a partir deles criou as suas próprias tintas a óleo baseadas em tons de pele. Assim, surgiram as cores ‘Fogoió’, ‘Enxofrada’, ‘Café com leite’, ‘Branquinha’, ‘Burro quando foge’, ‘Cor firme’, ‘Morenão’, ‘Encerada’ e ‘Queimada de sol’, entre outras.
 

Polvo Portraits (China Series)

O resultado mais imediato desse processo é um objeto de arte - uma caixa com 33 tubos de tinta e cuidadosa tecnologia industrial, em versão bilíngue (múltiplo com tiragem de 200 exemplares). Varejão também apresenta uma série de pinturas, intituladas Polvo Portraits (China Series), elaboradas a partir dessas tintas, montadas formando um grande painel. As pinturas são retratos da própria Adriana, porém não são exatamente autorretratos, já que foram executadas por pintores retratistas, sob encomenda. O caráter autoral, porém, é resgatado a partir das intervenções e reinterpretações dadas pela artista. A cor da pele permanece neutra, acinzentada, mas a imagem é complementada por uma série de pinturas faciais de caráter geometrizante e inspiração indígena feitas com as 33 cores Polvo. Acompanhando os retratos há pinturas circulares abstratas que trazem somente tabelas de cores com tons de peles das tintas.


 
O conjunto apresentado na mostra mantém estreita relação com trabalhos anteriores da artista que lidam com questões como miscigenação, colonialismo e a cor da pele. Temas que constituem uma espécie de chão do trabalho de Adriana Varejão, quer assumindo um caráter mais metafórico e sutil (como nas Tintas Polvo), quer adotando um caráter de forte expressividade, tributário da arte barroca (como na série Língua). “Cor é linguagem”, defende Adriana, “quando nomeamos todos esses matizes de peles, a gente dilui a questão das grandes raças – conceito, aliás, já derrubado por terra pela biologia”, pontua.
 
A exposição leva o público a refletir sobre questões relativas à desigualdade racial e social. Além da mostra, a artista também lança o livro “Pérola Imperfeita: A história e as histórias na obra de Adriana Varejão”, que fala sobre as fortes relações entre a obra de Adriana Varejão e a História.



SOBRE A ARTISTA 

Adriana Varejão nasceu no Rio de Janeiro, 1964, onde vive e trabalha. Suas exposições individuais recentes incluem Histórias às margens, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e Museu de Arte Latinoamericana de Buenos Aires; Fondation Cartier pour L’Art Contemporain, Paris; Hara Museum, Tóquio; Centro Cultural Belém, Lisboa, Bildmuseet, Umea, Suécia. Suas exposições coletivas incluem as Bienais de Veneza, São Paulo, e Sidney; Tempo, MoMA, New York; ARS 06, KIASMA, Museum of Contemporary Art, Helsinki; Liverpool Biennial, Liverpool, UK Body and Soul, Guggenhein, New York, entre outras. Seu trabalho está presente em coleções como a Tate Modern em Londres, Salomon R. Guggenheim Museum em New York, Hara Museum, Tóquio, Museum of Contemporary Art, San Diego, Stedelijik Museum, Amsterdam, Museu de Arte Moderna de São Paulo e Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro; entre outras.


SERVIÇO:

POLVO - Adriana Varejão


Quando: Até 17/05 - De terça feira a sexta feira, das 10:00 às 19:00 - Sábados das 10:00

às 18:00

Quanto: Livre

Onde: Galpão Fortes Vilaça - Rua James Holland, 71 - Barra Funda - São Paulo



 
 
 
 
 
 
 
 
 

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