Raphael Domingues
Mostra no Instituto Moreira Salles vê modernidade de esquizofrênicos
Lá fora a arte moderna rugia, e também lá dentro. Na virada dos anos 1940 para os 1950, enquanto o movimento concreto se firmava e o abstracionismo ganhava terreno, dois internos do Centro Psiquiátrico Nacional, no Engenho de Dentro, no Rio, sofriam os ecos da revolução.
Raphael Domingues e Emygdio de Barros, que agora têm uma mostra no Instituto Moreira Salles, já tinham inclinação para as artes visuais antes de serem diagnosticados como esquizofrênicos e levados ao hospital comandado por Nise da Silveira.
No lugar do choque elétrico, a psiquiatra desenvolveu terapias alternativas, como um ateliê de arte. Era sua tentativa de encontrar nos desenhos e pinturas dos internos chaves para entender um estado psíquico conturbado.
"Ela buscava a projeção de imagens do inconsciente", diz Rodrigo Naves, um dos curadores da mostra. "É como se o inconsciente, com todos os seus arquétipos, fosse projetado para fora nessas telas."
Mais do que isso. Almir Mavignier, artista que trabalhou no ateliê como assistente de Silveira, identificou já nos anos 1940 a modernidade do traço nos desenhos de Domingues e a intensidade da cor nos trabalhos de Barros.
Enquanto o primeiro se expressava com desenhos de traço simples, sempre em preto e branco, o segundo carregava nas tintas reagindo ao que Naves chama de "relação estridente com o mundo".
"Ele tem essa sinuosidade da linha e uma continuidade do traço muito forte", diz Heloísa Espada, também curadora da mostra, sobre o trabalho de Domingues. "São desenhos feitos de um só fôlego, com grande equilíbrio e domínio do espaço. Têm uma memória das formas."
Mundo estilhaçado
Muitas vezes, some o espaço ao redor e a tela retrata só seu objeto principal, que ocupa todo o quadro, quase transbordando dele.
RAPHAEL E EMYGDIO
ONDE: Instituto Moreira Salles, R. Piauí, 844, tel. 3825-2560
QUANDO: de terça a sexta, das 13h às 19h; sábado e domingo, das 13h às 18h; até 7 de julho
QUANTO: grátis
Adorei essa matéria.Nise da Silveira foi inovadora no tratamento da esquizofrenia e tenho uma amiga, uma senhora , que trabalhou com ela, na Casa das Palmeiras, aqui no Rio.
O autista tem um mundo muito particular e, realmente, o exterior nào faz parte de sua realidade, por isso a falta de perspectiva nessas obras. Existem graus diferentes e síndromes diversas,dentro desse expectro. Eu tenho um aluno autista e ele é bastante inteligente, mas, infelizmente, são muito poucas escolas preparadas para lidar com esse tipo de aluno e, assim, muita coisa boa se perde.