Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

21 de fevereiro de 2013

Londres celebra Manet com mostra na Royal Academy



Royal Academy of Arts


Londres celebra Manet com mostra na Royal Academy

Pai do modernismo, retratista brilhante, precursor dos impressionistas. Durante muitos anos, nem os amigos se arriscariam a ligar essas palavras a Édouard Manet (1832-1883), que amargava o desprezo da crítica e não conseguia expor seus quadros nos grandes salões europeus.

Numa carta ao poeta e crítico Charles Baudelaire (1821-1867), o parisiense desabafou por não ser aceito em Londres, onde sua obra era recebida com desdém.

"Eu realmente gostaria que você estivesse aqui, meu caro Baudelaire. Eles estão despejando insultos sobre mim. (...) Em Londres, a academia rejeitou os meus quadros", escreveu o pintor, em 1865.

Hoje reconhecido como um dos artistas mais importantes do século 19, Manet é tema de uma grande exposição na Royal Academy of Arts, vitrine do circuito londrino que o menosprezou em vida.



Em mostra de Manet em Londres, visitante observa a tela "Madame Manet no Conservatório".

Inaugurada em janeiro, Portraying Life reúne retratos feitos pelo francês que soube como poucos artistas traduzir as transformações da vida moderna. A curadoria buscou telas espalhadas pelo mundo, incluindo duas do acervo do Masp: O Artista - Retrato de Marcellin Desboutin e A Amazona - Retrato de Marie Lefébure.

 

O Artista - Retrato de Marcellin Desboutin


A Amazona - Retrato de Marie Lefébure.

O conjunto revela um pintor capaz de captar a essência dos seus personagens e, ao mesmo tempo, do ambiente em que eles viviam.

Isso fica claro em Música nas Tulherias (1862), marco do rompimento de Manet com o realismo. A obra situa figuras da Paris moderna num concerto ao ar livre no jardim das Tulherias. Um dos retratados é o próprio Baudelaire, com quem o pintor costumava se encontrar no parque para falar de arte e, claro, reclamar dos detratores.



Música nas Tulherias (1862)

Os textos da mostra sublinham a eterna luta do artista por um lugar ao sol na vida cultural francesa. Em outra carta de 1865, ele expressou seu incômodo com a ascensão de Claude Monet (1840-1926), que se tornaria um dos mestres do impressionismo.

"Quem é esse Monet, que tem o nome igual ao meu e está tirando vantagem da minha fama?", pergunta. Depois do atrito inicial, os quase xarás virariam bons amigos.


REJEIÇÃO

Apesar de ter crescido numa família afetuosa e de posses, que bancou suas viagens pela Europa para estudar arte, Manet sofreu muitas vezes com o sentimento da rejeição.

Em 1849, foi reprovado pela Escola Naval francesa, depois de viajar até o Brasil num navio-escola. Suas anotações mostram que ele já sabia das coisas: estranhou a desigualdade do país e elogiou a beleza do Rio e das mulatas.

Uma década depois, o jovem pintor foi esnobado na primeira tentativa de expor no Salão de Paris, o que se repetiria em outros anos.

A vaidade também contribuiu para seu isolamento. Manet recusou vários convites para participar de exposições coletivas dos impressionistas, o que dificultou que fosse valorizado na época.

Agora sua obra atrai tanta gente que a Royal Academy recomenda reservar o ingresso de 15 libras (cerca de R$ 50) via internet, com horário marcado. Pelo dobro do preço, é possível ver os quadros domingo à noite, com o museu menos cheio. A mostra fica em cartaz até 14 de abril.





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