Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

22 de fevereiro de 2017

A Pintura Metafísica de Giorgio De Chirico


"Piazza d'Itália" - 1913 - óleo sobre tela - 35cm x 25cm - Art Gallery of Ontario, Canada.


Principal representante da "pintura metafísica", Giorgio De Chirico constitui um caso singular. Poucas vezes um artista alcançou tão rapidamente a fama para, em seguida, renegar o estilo que o celebrizara e cair em um esquecimento quase absoluto.

Giorgio De Chirico, (1888) nasceu em Vólos, na região grega da Tessália, onde seu pai trabalhou até falecer. Após a morte de seu pai, o artista viajou com a família pela Itália e pela Alemanha e ficou fascinado com a pintura do simbolista suíço Arnold Böcklin.




"Die Toteninsel" (A Ilha dos Mortos) - 1886 - Arnold Böcklin - óleo sobre tela - 150cm X 80cm - Museu Metropolitano de Arte de Nova York - MET.

A pintura metafísica de Giorgio de Chirico antecipa elementos que depois apareceram na pintura surrealista: padrões arquitetônicos, grandes espaços nus, manequins anónimos e ambientes oníricos.

O que o artista qualificava como "pintura metafísica" correspondia à necessidade de sonho, de mistério e de erotismo próprio do surrealismo. E assim, a obra de De Chirico alcançou um êxito considerável.




"The Soothsayer's Recompense" (A recompensa do Adepto) - 1913 - óleo sobre tela - Philadelphia Museum of Art, Philadelphia.

Por volta de 1909 começou a pintar seus famosos cenários arquitetônicos, solitários, irreais e enigmáticos, onde colocava objetos diversos para revelar um mundo onírico e subconsciente, perpassado de inquietações metafísicas.

Para isso, valeu-se da perspectiva tradicional do Renascimento florentino - que proporcionava ao conjunto uma sensação de infinitude - de um desenho marcado e de uma luz uniforme, com arcadas, torres, praças e fachadas.




"The Enigma of a Day" (O Enigma de um dia) - 1914 - óleo sobre tela - 135cm X 139cm - Museu de Arte Moderna de Nova York - MoMA.

Em 1911 mudou-se para Paris onde, no ano seguinte, fez sua primeira exposição muito admirada por Picasso e Appolinaire.

Durante a primeira guerra mundial conheceu, num hospital italiano, o pintor futurista Carlos Carrà, com quem fundou a Scuola Metafisica.

Durante esses anos, introduziu em seus quadros maior diversidade de objetos, neles apareciam manequins, nus ou vestidos à moda clássica, enigmáticos e sem rosto ("Heitor e Andrômaca"), que pareciam simbolizar a estranheza do ser humano diante de sua ambiência.




"Heitor e Andrômaca" - 1946 - óleo sobre tela - 82cm X 60cm - Coleção particular, Roma.

Na década de 1920, inesperadamente, De Chirico mudou para um estilo classicista, distanciado do metafísico, e, ainda que tenha participado da exposição surrealista de Paris em 1925, afastou-se cada vez mais desse movimento.

Em 1940 regressou à Itália e adotou um estilo já decididamente acadêmico, baseado em temas mitológicos e clássicos.





"Gladiadores" - 1935 - óleo sobre tela - 74,7cm X 59,8cm.

Giorgio De Chirico faleceu em 20 de novembro de 1978 em Roma, de uma parada cardíaca.

Com sua pintura, Giorgio De Chirico antecipou o triunfo da estética surrealista de certo modo, o enigma de sua radical transformação pictórica acrescenta mais uma interrogação ao estranho mundo de suas visões.


Algumas de suas obras




"Canto d'amore" (Canto de Amor) - 1914 - óleo sobre tela - 73cm X 59cm - Museu de Arte Moderna de Nova Iork - MoMA.




"The Uncertainty of the Poet" (A incerteza do poeta) - 1913 - óleo sobre tela - 106cm X 94cm - Tate Modern, Londres.



"The Disquieting Muses" (As musas inquietantes) - 1916/17 - óleo sobre tela - 97cm x 66cm - Coleção privada.



Sobre a Pintura Metafísica


Características:
Os elementos arquitetônicos mobilizados nas composições – colunas, torres, praças, monumentos neoclássicos, chaminés de fábricas etc. – constroem, paradoxalmente, espaços vazios e misteriosos. As figuras humanas, quando presentes, carregam consigo forte sentimento de solidão e silêncio. São meio-homens, meio-estátuas, vistos de costas ou de muito longe. Quase não é possível ver rostos, apenas silhuetas e sombras, projetadas pelos corpos e construções.

Na pintura metafísica o mistério, o sonho, os espaços vazios, as sombras, as perspectivas inesperadas, as justaposições que são encontradas na obra de Giorgio De Chirico influenciaram os artistas surrealistas. Nos seus quadros, os objectos parecem não ter sentido.

"Para se tornar verdadeiramente imortal uma obra de arte deve escapar de todos os limites humanos. A lógica e o bom senso só irão interferir. Mas quando essas barreiras são quebradas, entra na região de visão da infância e do sonho." Em “Mistério e Criação”, Giorgio de Chirico, Paris 1913.







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