Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

1 de fevereiro de 2017

Edward Hopper. O pintor da solidão




"Auto retrato" - 1925/30 - Edward Hopper

Edward Hopper (1882-1967), foi um pintor, artista gráfico e ilustrador norte-americano conhecido por suas misteriosas pinturas de representações realistas da solidão na contemporaneidade. Em ambos os cenários urbanos e rurais, as representações do artista refletem a sua visão pessoal da vida moderna na América.

Nascido no estado de Nova Iorque, Hopper estudou design gráfico, ilustração e pintura na sua cidade natal. Um dos seus professores, o artista Robert Henri, encorajava os seus estudantes a usarem as suas artes para "fazer um movimento no mundo". Henri, foi de grande influência para Hopper e motivou vários estudantes a fazer descrição realista da vida urbana.



"Automático" - 1927 - Edward Hopper

Hopper, foi um contador de histórias. Viveu os anos da depressão e viu na cidade de Nova York um lugar para viver. Foi dela que veio a inspiração para muitos dos seus trabalhos.

Seus personagens estão sempre só, entretidos consigo mesmos. Talvez em uma solidão urbana quase inevitável, mas não parecem necessariamente tristes. Eles não têm nome, não fazem qualquer coisa extraordinária. Não são diferentes ou especiais. São apenas comuns.

Eles estão trabalhando em um posto de gasolina, até mais tarde no escritório, tomam café e compartilham o balcão com desconhecidos, leem revistas, jornais, fazem isso enquanto o tempo corre, enquanto alguém está indo de um lugar para o outro, ou algo é resolvido ao redor.



"A Barbearia" - 1931 - Edward Hopper

Dizem que o artista lia com certa frequência uma citação de Ralph Waldo Emerson, no qual há uma definição de solidão que o inspirava.

“O grande homem é aquele que, no meio da multidão, mantém com perfeita doçura a independência da solidão” - Ralph Waldo Emerson.

A inquietude que surge por meio da pintura de Hopper pode ser mais o fruto do nosso desconhecimento sobre as diferenças entre solidão e solitude, tristeza e melancolia, do que propriamente um fato inerente às obras. Ainda que haja algo melancólico  nos olhares, nas cores, nas composições, nos lugares, não nos transmite desespero.



"A Gasolineira" - 1940 - Edward Hopper

São cenários urbanos e também rurais, onde reina a descrença: nas pessoas, na cidade, na perspectiva de uma vida melhor; onde o pessimismo se instala no quotidiano. Edward Hopper inspirou-se nas juventudes perdidas, na Guerra, nos escravos da época e nos milhares de empregos perdidos. O seu estilo de linhas finas e cuidadas, acompanhadas de formas largas e de uma iluminação invulgar, consegue captar exatamente o que o artista pretendia: o vazio, a solidão, a imobilidade estática que aprisiona as emoções e as vidas dos personagens.

Em 1925, foi pintada a obra “Casa ao lado da ferrovia”. Uma mansão isolada, sem ninguém por perto, em frente a linha do trem. Hopper era um cinéfilo assumido e transpunha para estas paisagens os truques de mistério e suspense utilizados nas telas. Mas o contrário também acontecia. Por exemplo, em 1960, esse quadro inspirou Alfred Hitchcock na criação do "Hotel Bates" do filme "Psicose". Na época, a obra foi o primeiro trabalho adquirido pelo recém-aberto ao público, Museum of Modern Art, MoMA.



"Casa ao lado da ferrovia" - 1925 - Edward Hopper

As figuras humanas pintadas pelo artista demonstram uma melancolia e um silêncio que mais facilmente associaríamos a paisagens. O seu realismo capta a essência interior de cada um de seus personagens. Em “Aves noturnas” de 1945, Hopper, pinta mais de três pessoas juntas, pinta a forma como cada uma se refugia na sua própria solidão. Já em “Noite de Verão” de 1947, existe apenas o distanciamento entre um casal de namorados, mostrando que mesmo alguém tão próximo de nós pode estar muito longe do nosso íntimo.



"Noites de Verão" - 1947 - Edward Hopper

A obra de Edward Hopper, não importa o quanto você olhe, o quanto você se esforce para ver mais, para entender o que está se passando além daquelas paredes. Não importa sob qual ângulo você tente atravessar seu olhar por aquelas janelas, elas vão continuar teimando em revelar apenas o suficiente para forçá-lo a tentar de novo.

Você nunca vai deixar de ser um observador invisível, condenado ao silêncio, à distância, à melancolia.

Pelas janelas de Edward Hopper, você sempre vai estar condenado à solidão.



"Filme de Nova Iorque" - 1939 - Edwar Hopper


Curiosidades sobre Edward Hopper

Hopper, quando não estava em seu estúdio, na Washington Square, em Nova Iorque, passava a maior parte do tempo observando e desenhando cenas nos cafés e nas ruas. Frequentava também, óperas e teatros.

Casou-se em 1923 com Josephin Nivision, artista e antiga colega da NY Academy. Jo Hopper, como era conhecida, foi a musa inspiradora do artista americano em praticamente todas as figuras femininas de suas obras.



"Josephin Nivision" - "Jo Hopper"

A mulher que toma uma chávena de café sozinha "Automat", 1927, a mulher sentada na cama a olhar fixamente pela janela "Morning Sun", 1952, a mulher sentada no comboio lendo um livro "Chair Car", 1965. Jo Hopper era todas estas mulheres, e nenhuma delas.



"Sol da manhã" - 1952 - Edward Hopper

Hopper passou anos sem conseguir uma exposição. Só aos 37 anos, e com a ajuda de Josephine, já reconhecida no meio artístico da época, é que Edward Hopper recebeu o primeiro convite para expor seis das suas aquarelas no Brooklyn Museum (1923).



"O telhado em mansarda", aquarela sobre grafite, 34cm x 48cm.

Uma das aquarelas foi adquirida pelo Museu para a sua coleção permanente, sendo a segunda pintura que o artista vendeu em 10 anos. Apesar disso, o trabalho de Hopper tornou-se rapidamente notado, tendo atingido aos 41 anos grande reconhecimento.

Quando Edward e Jo Hopper começaram a pintar juntos, houve uma nítida e curiosa influência na produção artística mútua: Tendo transitado de uma paleta de tons muito escuros para tons mais brilhantes, tipicamente utilizados pela sua mulher, Edward começou finalmente a ver o seu trabalho apreciado e a conquistar sucesso. Já Josephine, que começou a reproduzir nas suas pinturas o estilo de Hopper, perdeu todo o reconhecimento. Josephine referia-se habitualmente às pinturas do marido como as suas “crianças”.



"Cena da Floresta" - óleo sobre painel - 1914/23 - Josephine N. Hopper - Whitney Museum of American Art, New York.

Uma das obras mais conceituadas do pintor americano "Nighthawks", Edward e a sua esposa servem de modelos. As duas figuras masculinas sentadas no restaurante foram baseadas no pintor, tendo Josephine pousado para a criação da figura feminina ruiva.

Em uma carta que Josephine enviou à sua irmã pode ler-se “Ed terminou agora uma pintura muito boa – um restaurante, à noite, com três figuras. Nighthawks seria um ótimo nome para ela. Edward posou para os dois homens em um espelho e eu para a rapariga. Ele esteve cerca de um mês e meio a trabalhar nesta pintura".



"Nighthawks" - 1942 - Edward Hopper

Em 1968, após o falecimento de Edward Hopper, Josephine doou todas as obras do artista ao Whitney Museum , NY. Aproximadamente 3.000 trabalhos no total. Até há pouco tempo, pensava-se que todos os trabalhos de sua esposa Jo Hopper teriam sido destruídos mas, recentemente, foram encontrados mais de 200 obras da autora nos arquivos do mesmo Museu.










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