Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

1 de novembro de 2016

MASP apresenta "A mão do Povo Brasileiro"


Exposição "A Mão do Povo Brasileiro" ganha nova montagem no MASP

O Museu de Arte de São Paulo (Masp) recriou a exposição "A Mão do Povo Brasileiro", aberta ao público em 1969, data da inauguração do museu. A mostra recupera as principais ideias da organizadora Lina Bo Bardi, com objetos da cultura material do Brasil. Lina defendia a desmitificação dos objetos de arte. Para ela, tanto essas obras, quanto os objetos utilitários, eram frutos do trabalho do homem, igualmente dignos de atenção e valor. Por isso, a organizadora contrapôs pinturas e esculturas pertencentes à cultura popular.



Exposição "A Mão do Povo Brasileiro", apresentada em 1969 no MASP

Com quase mil objetos produzidos por artistas do povo, a remontagem da exposição, que reproduz o quanto possível a original, de 1969, teve colaboração do cineasta Glauber Rocha e do diretor de teatro Martim Gonçalves. Aberta até janeiro, a mostra oferece ao público um panorama da arte de várias regiões do Brasil e cobre um amplo período histórico – desde uma roda de carro de boi, de 1876, até a produção do século 20, incluindo aí telas de Agostinho Batista de Freitas e José Antonio da Silva, entre outros artistas designados como primitivos.



Exposição "A Mão do Povo Brasileiro", apresentada em 2016 no MASP

Também, estão expostas carrancas, santos, tecidos, peças de vestuário, mobiliário, ferramentas, utensílios de cozinha, instrumentos musicais, adornos, brinquedos, figuras religiosas, pinturas e esculturas.



“Decidimos por adotar a exposição como um estudo de caso, e tentar dissecar e entender quais foram as razões da Lina e do museu para realizar essa exposição, tentar entender as relações dessa mostra, sobretudo com objetos utilitários, cultura material brasileira, cultura popular, a relação desse material com o acervo do museu, majoritariamente europeu, ou modernista brasileiro”, destacou Tomás Toledo, um dos três curadores da exposição.

Dentre as peças pertencentes à mostra atual, 55 fizeram parte da exposição apresentada 1969, entre elas São Jorge Articulado, Bom Jesus de Iguape, Senhor Morto (Cristo Articulado) e Nossa Senhora das Dores, de vestir.


"São Jorge"

“Nossa proposta foi tomar essa exposição como um passo inicial, uma mirada para a produção tanto de arte popular brasileira, quanto de cultura material brasileira, e também uma oportunidade para repensar essas nomenclaturas tão problemáticas que já estão superadas, como cultura popular e arte popular. Tentar dissolver as distinções entre arte, artefato, e artesanato, nos pareceu que essa retomada seria uma oportunidade para pensar tudo isso junto”, disse Tomás.

Entre os objetos inéditos, destacam-se recipientes de cerâmica, moendas, cestos de palha, joias de escrava, adereços indígenas, ferramentas de orixás, colheres de pau, bonecas de pano, prensas, cadeiras, arcas, boi de bumba-meu-boi, alambique, máscaras de carnaval, matrizes de xilogravura, colchas de retalho e santas de vestir.




“Nós refizemos a exposição exatamente na mesma sala em que foi apresentada em 1969, respeitamos a tipografia original da Lina, com alguns ajustes, totalmente baseada em madeira crua, em chapas de pinos nas paredes, com nichos, estantes, objetos pendurados na parede, e no chão com tablados, ilhas, de madeira, de pinos, aparentes, onde ficam os objetos maiores, os maquinários, esculturas, mobiliários”, ressaltou o curador.

A exposição apresenta esculturas e pinturas de artistas autodidatas, que trabalhavam à margem do circuito tradicional das artes. Integram a mostra nomes como Agnaldo dos Santos, Agostinho Batista de Freitas, Aurelino dos Santos, Cardosinho, Emídio de Souza, José Antônio da Silva, Madalena dos Santos Reinbolt, Manezinho Araújo, Mestre Vitalino, Mudinho, Rafael Borges de Oliveira e Zé Caboclo.



Agnaldo dos Santos


Sobre a artista Lina Bo Bardi

Sobre a artista carioca, a curadora Julieta González lembra que será exibido na mostra um curta-metragem que trata dessa relação, "A Mão do Povo" (1975), documentário de Pape sobre o crepúsculo das tradições artesanais, tema que preocupava especialmente Lina Bo Bardi, empenhada em repensar o design a partir da invenção e improvisação do povo brasileiro.

Durante a mostra serão exibidos filmes sobre questões sociais relacionadas às culturas marginalizadas, como a sertaneja e a de origem africana. No ciclo organizado pela curadora estão os filmes "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha e "Ganga Zumba", de Cacá Dieges. Antes de "A Mão do Povo Brasileiro", Lina organizou a mostra "Nordeste", em 1963, que inaugurou o Museu de Arte Popular no Solar do Unhão, construção do século XVI que ficou tomada por objetos construídos por restos da civilização (lâmpadas queimadas que viravam lamparinas, colchas feitas de retalhos de tecidos). A mostra foi depois cancelada pela embaixada brasileira em Roma, quando os militares tomaram o poder. O crítico e arquiteto italiano Bruno Zevi teria dito: “A arte dos pobres dá medo aos generais”.



Serviço


Exposição "A mão do Povo Brasileiro"

Onde: Masp - Av. Paulista, 1578.

Quando: De terça a domingo, das 10h às 18h, às quinta das 10h às 20h.

Quanto: Entrada inteira R$ 25,00, meia-entrada R$ 12,00. Às terças a entrada é gratuita.











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