Depois do sucesso de “Africa Africans”, eleita a melhor exposição de 2015 pela Associação Brasileira de Críticos de Arte, o Museu Afro Brasil, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, abriu a exposição internacional “Portugal Portugueses - Arte Contemporânea”, no dia 08 de setembro de 2016, com a curadoria de Emanoel Araujo.
A mostra reúne alguns dos principais artistas portugueses da atualidade e pretende aproximá-los do universo cultural brasileiro, como parte de uma trilogia desenvolvida pelo Museu Afro Brasil. As influências interculturais de Portugal, África e Brasil, nascidas com o antigo império português e aprofundadas decisivamente pela escravidão, são redesenhadas na perspectiva contemporânea.
“The American Sunset” - Rui Calçada Bastos
“Nossos olhares e antenas se voltam para as manifestações criativas nascidas no triângulo da invenção, um eixo geográfico que envolve Portugal, África e Brasil”, afirma Emanoel Araujo. “O corpo da exposição tem muitas vertentes. Procuramos mostrar uma arte contemporânea entre o modernismo e a construção de uma nova identidade, que envolve artistas jovens e outros consolidados”.
Entre as 270 obras, as pinturas, esculturas, fotografias e instalações – compõem o mais amplo panorama da arte lusitana realizado no Brasil, nos últimos anos. Entre os destaques, “Coração Independente Vermelho”, instalação de Joana Vasconcelos, um dos maiores nomes da arte portuguesa na cena internacional. Esta obra tem a forma de um enorme “coração de Viana”, peça icônica da filigrana portuguesa, associada à cidade de Viana do Castelo e ao estabelecimento do culto do Sagrado Coração de Jesus. Trata-se de uma emotiva instalação sonora e cinética.
"Coração Independente Vermelho" - Joana Vasconcelos
No itinerário, destacam-se ainda as obras de Helena Almeida e Maria Helena Vieira da Silva, artista importantes para arte portuguesa no século 20. Outras instalações também marcam presença nos 3.000 m² destinados à exposição, como é o caso de “Plataforma”, de Miguel Palma, que deve surpreender os visitantes por suas dimensões e originalidade.
"Plataforma" - Miguel de Palma
Foram articulados a esta exposição, três núcleos expositivos especiais: “Homenagem a Bordalo Pinheiro”, “Africanos portugueses” e “Brasileiros portugueses”.
Na celebração à memória do artista Rafael Bordalo Pinheiro, que viveu no Brasil entre 1875 e 1879, serão expostos livros e cerâmicas, além de caricaturas e desenhos publicados em revistas como O Psit!!!, O Besouro, O António Maria e A Paródia.
Azulejos - Cerâmica - Rafael Bordalo
“Por muitas razões, a arte portuguesa tem um leque enorme de situações que nos comove, porque nele existem resquícios da África, do Brasil e, naturalmente, de Portugal. Houve um tempo em que essas influências e fluências estavam tão ativas, que transpirava uma espécie de suor com cheiros da complexa história de fluxos e refluxos”, avalia Emanoel Araujo, no texto curatorial.
Antonio Manuel, português radicado no Rio de Janeiro, participa com as duas instalações “Frutos do Espaço” e “A Nave”. O artista começou a destacar-se com seu trabalho crítico à ditadura militar brasileira. Em 1968, ele integrou a célebre exposição "Apocalipopótese", organizada por Hélio Oiticica e Rogério Duarte.
"Frutos do Espaço" - Antônio Manuel
No campo da fotografia, participam Fernando Lemos e Orlando Azevedo, também radicados no Brasil. Com 90 anos, Lemos é um membro histórico do grupo surrealista de Lisboa, na década de 40. Por sua vez, o fotógrafo Manuel Correia traz a série “Reis”, parte de um projeto fotográfico sobre o poder tradicional em Angola.
Entre os pintores, destaca-se Michael de Brito, artista com ascendência portuguesa que desenvolve cenas que retratam o cotidiano português nas telas “Woman with Chorizos” e “At the table”. Gonçalo Pena, com três pinturas a óleo de grandes dimensões, reforça o painel de pintores.
“Portugal Portugueses” será uma ocasião para revisitar artistas como João Fonte Santa, Francisco Vidal, José de Guimarães e Yonamine, conhecidos do público do Museu Afro Brasil, pois já participaram de outras coletivas.
O modernismo das artistas Maria Helena Vieira da Silva, Ana Vieira, Helena Almeida, Paula Rego e Lourdes Castro, formam um núcleo poderoso de mulheres criadoras que incorporam, com suas obras e linguagens, uma valiosa contribuição à arte contemporânea portuguesa. É, a partir delas, que “Portugal Portugueses” se desenha, abrindo espaço, através de diferentes linguagens e estratégias como a geometria, instalações, esculturas, fotografias, desenhos e grandes painéis, reunindo consagrados nomes aos novos talentos que despontam.
Lourdes Castro
A EDP Brasil, com apoio do Instituto EDP, que coordena as ações socioambientais da empresa, o Banco Itaú, Rainer Blickle, Leonardo Kossoy e Orandi Momesso são os patrocinadores de “Portugal Portugueses”, que conta com o apoio da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo e do Ministério da Cultura. A exposição tem como madrinha a jornalista, escritora e dramaturga Maria Adelaide Amaral.
“Esta exposição celebra uma união inevitável de encontros e desencontros do que foi e do que é a nossa formação como povo, descoberto, colonizado e independente, por um português e um brasileiro, Pedro IV, rei de Portugal, que se tornou Dom Pedro I – Imperador do Brasil, e como esta independência que tão cedo foi, não nos afastou, mas consolidou as raízes profundas dessa invenção. Portugal é muito mais que um país, é uma aventura, como nos outros tempos memoráveis, senhor das conquistas e das descobertas, do Brasil e da África, pelo mundo afora. Portugal foi um terrível escravocrata, e se valeu da escravidão negra para desenvolver suas descobertas na América e na própria África, também foi um colonizador que se miscigenou e espalhou artes e ofícios.”, comenta Emanoel Araujo, fundador e Diretor Executivo Curatorial do Museu Afro Brasil.
Serviço:
Exposição “Portugal Portugueses – Arte Contemporânea”
Onde: Museu Afro Brasil - Av. Pedro Álvares Cabral, Parque Ibirapuera, Portão 10 - Fone: 55 11 3320 8900
Quando: Até 8 de janeiro de 2017 - De terça-feira a domingo, das 10hs às 17hs, com permanência até às 18hs.
Quanto: R$ 6,00 - Meia Entrada: R$ 3,00 - Entrada gratuita aos sábados
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