Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

2 de setembro de 2015

Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, completa 150 anos



"Alice no País das Maravilhas", de Lewis Carroll, completa 150 anos encantando leitores e artistas
 
Repleta de jogos de palavras, a obra-prima foi lida sob diferentes pontos de vista, das teses psicanalíticas às viagens psicodélicas.

Em 4 de julho de 1862, num singelo passeio de barco pelo rio Tâmisa, nos arredores da cidade inglesa de Oxford, nasciam histórias tão incríveis que viajariam o planeta e povoariam o imaginário coletivo de leitores de diversas idades mais de um século depois. A bordo da embarcação, as irmãs Alice, Lorina e Edith Liddell divertiam-se com o mundo maravilhoso inventado pelo reverendo Charles Lutwidge Dodgson, amigo da família, para entretê-las. A pequena Alice, então com dez anos, insistiu com o autor para que pusesse tudo no papel “para ela”. Mal sabia a menina que boa parte das aventuras embaladas por águas inglesas seria publicada pela primeira vez exatos três anos depois, em julho de 1865, como “Alice no País das Maravilhas”, e inscreveria o nome de Dodgson, ou melhor, de Lewis Carroll, pseudônimo com o qual ele se tornou conhecido, no panteão dos grandes da literatura universal.

 


O livro, bem como sua continuação, “Através do espelho e o que Alice encontrou por lá”, publicado dois anos depois, continuam a render milhares de reedições e traduções há 150 anos, e os personagens de Carroll ganharam múltiplas formas e interpretações ao longo das décadas. As histórias vividas pela pequena e curiosa Alice depois que cai na toca de um coelho passaram a ser coisa de gente grande. Percorreram palcos de teatro, balé, viraram desenho animado, filme, quadrinhos. Tornaram-se tema de numerosas teses acadêmicas, objeto de estudos psicanalíticos e foram homenageadas com exposições.


No início do ano, uma das comemorações do Reino Unido em torno do livro foi o lançamento de selos comemorativos do Royal Mail para colecionadores e fãs. Alice continua mais pop do que nunca.



Autor de “Alice’s Adventures: Lewis Carroll in Popular Culture”, o professor da Universidade de Kingston, Will Brooker, disse que cada geração interpretou o texto do escritor inglês conforme a cultura do seu tempo. Carroll foi lido e relido sob muitos prismas diferentes. Na década de 1930, entrou em ação a psicanálise freudiana para interpretá-lo e tentar descobrir tudo o que podia estar por trás do texto. Em 1960, o mundo das maravilhas foi encarado como uma grande viagem psicodélica observada num momento em que a sociedade se via diante do avanço do LSD.



Em 1990, foi a vez de especialistas cogitarem a possibilidade da pedofilia, de as fantasias de Carroll estarem ligadas a uma perigosa e excessiva proximidade com as crianças. O escritor, poeta e matemático também foi um exímio fotógrafo, e seus trabalhos mais conhecidos são as imagens de meninas, normalmente filhas de casais amigos (como as três Liddell), registradas em poses quase sensuais e com pouca ou às vezes nenhuma roupa. Nenhum estudo, porém, provou que Carroll, profundamente religioso, tenha avançado qualquer sinal, embora seu amor especial por Alice tenha ficado registrado em muitas cartas.


 
Foi uma década que também refletiu o culto das celebridades. Carroll manteve uma certa distância social, era discreto. Mas a avaliação era de que, por isso mesmo, deveria estar escondendo algo. Ninguém poderia ser inocente — observa Brooker.

O fundamental, continua o especialista, é que se trata de um livro universal, contraditoriamente simples e complexo, por vezes mórbido ou otimista, violento, inocente e inteligente a um só tempo.




"É uma espécie de quebra-cabeça. Teve diferentes interpretações nos séculos XIX e XX. Surpreendentemente, apesar de toda a sua complexidade, com tantos jogos de palavras (em inglês) e referências específicas à cultura britânica e sua geografia, universalizou-se. Talvez pelo fato de tantos se enxergarem como crianças explorando o mundo, como Alice. Nós nos vemos no livro", afirma.

Lewis Carroll mostra que a realidade do mundo e do sujeito, além de paradoxal, é sempre relativa ao modo como a interpretamos. Sugere, por isso, que talvez fosse prudente renunciar ou versatilizar o narcisismo que fundamenta nossas crenças e julgamentos. Se a verdade está comprometida com o poder e o desejo, tanto quanto com o saber, seria bom evitar que nossas convicções se tornassem rituais cegos de credulidade, sob pena de fazermos muito mal aos outros e a nós mesmos.
 


Os motivos são incontáveis para que as aventuras de Alice sejam ainda hoje tão inspiradoras. No imponente palco do Royal Opera House, em Londres, o Royal Ballet apresentou ao público uma adolescente apaixonada, puxada para a toca pelo coelho de colete e relógio que, instantes antes, era ninguém menos que o próprio Lewis Carroll. Essa interpretação do Royal Ballet, criada em 2011 foi extremamente bem-sucedida, voltou ao cartaz no início do ano para homenagear o aniversário do livro. Misturando dança clássica e contemporânea, o balé lança mão de inúmeros efeitos cênicos que fazem a menina aumentar e encolher, e movimentam o irônico gato de Cheshire ou a Lagarta Azul com jogos de luz e articulação de bailarinos sincronizados.


Royal Ballet

"Não resta dúvida de que a história é universal, qualquer um pode gostar. O importante aqui é o balé. Se fosse uma criança nesse papel, ficaria muito difícil sustentar o interesse na coreografia. Ao usarmos uma jovem, em uma história de amor, podemos aproveitar muito mais a bailarina", conta o diretor do Royal Ballet, Kevin O’Hare.




Ainda no contexto das comemorações da obra, o emblemático manuscrito de 1865, escrito e ilustrado por Carroll, um dos maiores tesouros da British Library, viaja pelos Estados Unidos (The Morgan Library & Museum, em Nova York, e The Rosenbach of the Free Library, na Filadélfia). O manuscrito foi comprado por um colecionador americano em 1928, mas presenteado ao Reino Unido em 1948 em homenagem à participação do país na Segunda Guerra. Assim que voltar a Londres, ele será a estrela de uma exposição prevista para o final do ano na British Library, que vai explorar as várias adaptações e interpretações da história.
 

"Alice no País das Maravilhas" também foi destaque na 17ª edição do Salão FNLIJ do Livro Infantil e Juvenil, em junho no Centro de Convenções Sul América, no Rio de Janeiro. Além de uma exposição com as principais edições brasileiras e algumas estrangeiras, o livro foi tema de um seminário no evento, do qual participaram autores como Marina Colasanti. A escritora traduziu “A pequena Alice no País das Maravilhas” (Galerinha), versão esta, para crianças bem menores escrita por Carroll cinco anos depois de sua “Alice” original, e foi lançada pela autora no Salão.
 

A escritora diz que "A Alice completa não é lida pelas crianças e jovens, e sim pelos adultos, assim como “Dom Quixote”. Aquele universo familiar que foi criado para divertir as meninas Liddell já está muito distante das crianças de hoje".

O que não significa, que a obra tenha perdido seu encanto e interesse, completa Marina. Pelo contrário. Para ela, o mergulho de Alice num mundo aparentemente ilógico ainda “encosta nas teorias freudianas, na teoria do inconsciente e continua muito rico”

Assista ao trailer do filme
 
 
 
 

 
 
 

 


 

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