Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

16 de setembro de 2015

"Traduções: Nelson Leirner Leitor dos Outros e de Si Mesmo" na Galeria Vermelho



"Traduções: Nelson Leirner Leitor dos Outros e de Si Mesmo"

A mostra "Traduções: Nelson Leirner Leitor dos Outros e de Si Mesmo" reúne um conjunto de obras que tratam de obras canônicas da história da arte e mais contemporâneas que levam interferências próprias, irônicas, críticas, afetivas, e sempre bela nas linhas, materiais e cores que o artista refaz, inventa e adiciona.


 

Sob curadoria de Lilia Moritz Schwarcz, a mostra apresenta 70 obras criadas entre 1968 a 2015, lendo, interpretando e traduzindo a obra de 12 artistas como Duchamp, Matisse, da Vinci, Hirst, Velázquez e Kusama.



A exposição trata do processo criativo de Nelson Leirner a partir de uma “esquina” inusitada. Ao invés de fazer uma leitura cronológica e seriada – ou mesmo progressiva -- a ideia é recuperar o trabalho do artista a partir de uma perspectiva quase circular.

A característica da obra de Leirner é que seleciona artistas como Leonardo da Vinci, Velázquez, Fontana, Mondrian, Duchamp e tantos outros, fazendo-os retornar, porém, alterados e expostos a partir das mais diferentes situações.



É como se Nelson conversasse com eles e, a partir do diálogo que se estabelece, tivesse oportunidade de olhar, e estranhar, a si próprio e sua arte. Sempre contando com um recorte inesperado. Leirner revisita diferentes artistas e obras, mas seguindo, no limite, uma narrativa que é só sua. Afinal, na própria trajetória de nosso artista é possível perceber uma crítica contínua, coerente e persistente ao mercado da arte e às fórmulas consagradas que ele cria. Desse espaço não escapam os artistas deificados pela mídia. Por isso, Monalisa pode aparecer de chapéu e óculos escuros; as bolas coloridas de Hirst surgirem bordadas; as meninas de Velázquez surpresas com um enxame de moscas; os rasgos de Fontana como zíperes que, práticos, podem ser abertos mas também fechados.

Mais ainda, é possível contar uma história da arte, seguindo a forma original como Leirner faz arte de “si”, tendo como base o olhar dirigido ao “outro”. Ou seja, como produz um projeto só seu, a partir da tradução de outros.



Sabemos que não existe nesse mundo nada isolado, fechado, ou “puramente original”. E Leirner escancara a fenda e o desconforto, mostrando como arte sempre se fez e se faz por referência, inferência, leitura e tradução.

Nelson Leirner faz da “sua” arte uma homenagem e ao mesmo tempo uma crítica de maior alcance, porque acompanhada de outras obras e repertórios que constituem a sua, mas também a nossa imaginação visual. Pensamos por “convenção” e a partir de imagens previamente selecionadas. O que faz Leirner é expor a sua convenção e brincar com ela.

Aí está um verdadeiro vocabulário dialogado da arte, tendo como régua e compasso a obra de Nelson Leirner.



Serviço

"Traduções: Nelson Leirner Leitor dos Outros e de Si Mesmo"

Onde: Galeria Vermelho - R. Minas Gerais, 350 - Consolação - Centro - Tel: (11) 3138-1520.

Quando: Até 03/10 - De terça a sexta das10h às 19h, sábado das 11h às 17h.
 
Quanto: Entrada gratuita
 
 






 

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