Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

29 de março de 2017

Museu Casa-Estúdio de Diego Rivera e Frida Kahlo 




Museu Casa-Estúdio de Diego Rivera e Frida Kahlo - A arte e a vida de Frida Kahlo e Diego Rivera na Cidade do México.


As construções no elegante bairro de San Angel guardam um pouco da personalidade do casal de artistas mexicanos Diego Rivera e Frida Kahlo. A casa, com projeto do arquiteto mexicano Juan O´Gorman, é dividida em três edifícios distintos que serviram de ateliê, estúdio fotográfico e moradia para o casal de artistas entre 1934 e 1941.



Estúdio de Diego: Parte de sua coleção de arte pré-colombiana. 

No museu, a casa de Frida não tem seus móveis, mas abriga exposições temporárias com temáticas diversas, com bastante frequencia. Já a casa-estúdio de Diego tem seu quarto montado, com uma colcha bordada (e inacabada) por Frida.


Na fronha lê-se “cariño”.

Percorrer os cômodos da casa, só assim você vai entender um pouco mais dos maiores artistas do México. O ateliê onde Diego Rivera pintou grande parte de suas obras é emocionante. Sobre Frida há menos em exposição, já que grande parte de sua obra foi produzida na "Casa Azul".

Diego Rivera, artista famoso, pintou grandes murais comissionados pelo governo mexicano, conheceu e se apaixonou pela jovem Frida Kahlo, porém, infiel, a fez sofrer.



Detalhe do mural "Sonho de um domingo à tarde da alameda" - 1947 - Diego Rivera.

Frida, artista famosa pelos autorretratos que evidenciam sua dor emocional e física, bissexual, tinha a saúde fragilizada, mas sempre disfarçada por seus sorrisos e pelo álcool. A artista foi perdidamente apaixonada por Diego, a ponto de desistir de sua vida quando ficou longe dele. Ele a salvou da morte pelo excesso de bebidas e cuidou dela até seus últimos anos de vida como o marido dedicado que nunca havia sido.



"Autorretrato com espinho, colar e beija-flor" - 1940 - Frida Kahlo.

Posteriormente, Frida Kahlo retornou à "Casa Azul", moradia de sua família, onde permaneceu até a sua morte, em 1954. A Casa Estúdio foi residência de Diego Rivera até 1957, quando ocorreu o falecimento do artista.



"Casa Azul" - Museu Frida Kahlo.



Museu Frida Kahlo

Também conhecido como "Casa Azul", o museu se localiza onde a artista morava com sua família, na casa de Frida Kahlo. A residência, que já era grande e foi construída por seu pai Guillermo Kahlo, em 1911, foi ampliada ao longo dos anos e depois virou o lar de Frida, Diego e de seus inúmeros convidados (incluindo Leon Trotsky, com quem Frida teve um caso amoroso).



O acervo do museu compreende principalmente das pinturas de Frida, ainda que tenha algumas poucas obras de Diego Rivera. As pinturas mais famosas da artista estão em acervos dos EUA, mas vale conhecer esse belo apanhado das obras de Frida Kahlo e expandir seu conhecimento sobre a artista e sua arte.



"Viva la vida" - 1954 - Frida Kahlo.

Além das pinturas, o que mais chama atenção na casa-museu Frida Kahlo é o mobiliário, incluindo o estúdio onde ela pintava, com cavaletes que a ajudavam a trabalhar mesmo quando não conseguia se levantar da cadeira de rodas.



Estúdio da Frida Kahlo na "Casa Azul".

Na cozinha da casa-museu está evidente a forte influência da cultura popular indígena. O local abriga um fogão a lenha da época de Frida e Diego, com louças, panelas e tachos onde ela fazia seus doces famosos.


Cozinha da "Casa Azul", atual museu Frida Kahlo.

Outra parte muito interessante da morada do casal, que emociona os visitantes, são as duas camas onde Frida Kahlo passou o final de sua vida quando sentia muita dor e não conseguia se movimentar. A “cama do dia” ficava em um corredor com janela ampla e muita luz, já a “cama da noite” ficava num quarto normal. Quer dizer, normal para o casal Frida Kahlo e Diego Rivera, dois artistas comprometidos com a arte mexicana, tanto moderna quanto pré-colombiana.



"Quarto do dia" de Frida Kahlo



"Quarto da noite" de Frida Kahlo.

A "Casa Azul" possui um belíssimo jardim e o museu abriga também uma loja com tudo o que remete à artista. Em um edifício em anexo, adquirido depois da morte da artista, há um espaço com exposições temporárias.



Jardim da "Casa Azul".

Frida Kahlo e Diego Rivera tiveram uma vida conturbada, com idas e vindas. Eram um casal que poderia estrelar (e estrelaram) um perfeito drama mexicano.





SERVIÇO

Museu Frida Kahlo

Onde: Rua Londres, 247 - Del Carmem - Coyoacán - Cidade do México.

Quando: Aberto de terça a domingo de 10h às 17h45, às quartas abre às 11h.



Museu Casa-Estúdio de Diego Rivera e Frida Kahlo

Onde: Calle Diego Rivera s/n, Álvaro Obregón - San Angel Inn - Cidade do  México.

Quando: Aberto de terça a domingo das 10h às 18h.









22 de março de 2017

"Sobre a cidade" obra de Marc Chagall



"Sobre a cidade" - 1918 - óleo sobre tela - 45cm X 56cm - Marc Chagall - Galeria Tretyakov, Moscou, Rússia.

A obra "Sobre a cidade", foi pintada em 1918, por Marc Chagall e pertence a um acervo privado, atualmente encontra-se na galeria de Tretyakov, em Moscou, Rússia.


Análise da obra "Sobre a cidade" de Marc Chagall

Chagall gostava de criar obras que mostravam ele e sua esposa, Bella Rosenfeld Chagall. "Sobre a cidade" é uma celebração ao amor do casal que foi unificado pelo casamento.

A obra mostra o artista e sua esposa voando acima de Vitebsk, que é uma pequena cidade onde ele cresceu. Chagall está segurando sua esposa perto de si enquanto ela deixa uma mão aberta pelo ar. A mão esquerda do artista está suavemente pousada sobre o seio direito da esposa. Ao mesmo tempo em que parecem amantes, parecem também estar fugindo de algo já que a cabeça do artista está virada para traz como que verificando se alguma coisa os está seguindo. 



As casas, que compõem a obra, são simples e foram colocadas de uma maneira ordenada em um colorido especial, são todas da mesma cor, exceto por uma casa vermelha ao fundo. Há também celeiros e cercas de madeira, em tonalidade quente, presentes em torno da maioria das casas. O céu é mais branco do que azul e o casal veste roupas mais escuras que o fundo da obra de cor clara, fazendo-os, assim, parecer estarem saltando da tela.



O primeiro contato de Chagall com a cidade francesa o impressionou muito pela luz, pela cor e, sobretudo, pela liberdade, a tal ponto que em seu vocabulário surgiram dois novos termos: lumière-libertè (liberdade da luz) e coleur-amour (cor do amor) que, associados, constituem a estrutura básica de sua pintura.

Outro termo que nasceu das impressões de Chagall é chemique, (química) o segredo da cor, a aura da magia, as cores que dão vida e alma ao quadro.


Obras de Chagall e Bella flutuando no ar.



"O aniversário" - 1915



"O passeio" - 1918

“Em uma natureza, em um elemento natural, em um espaço que não é mais do que um céu, no qual todas as formas se movem completamente livres e sutis, como se fossem pequenas criaturas, emana uma cor tão forte e tão bela que parece sobrenatural”. Marc Chagall.
                                                                                                                                   




8 de março de 2017

A emocionante simplicidade de Amadeo Mondigliani




Amadeo Clemente Modigliani, nasceu em Livorno, em 1884, e faleceu em Paris, em 1920. Foi um artista plástico, desenhista e escultor, judeu italiano que viveu em Paris.

Modigliani passou sua juventude na Itália, onde estudou a arte da antiguidade e da Renascença. Nascido em próspera família judaica, estudou em Veneza e Florença, antes de se fixar em Paris, em 1906. Por causa da similaridade de traço, ele é frequentemente comparado a Botticelli.



Ainda em Paris, instalou-se inicialmente em Montmartre, mudando-se depois para Montparnasse, onde retratou algumas de suas figuras mais conhecidas. Casou-se com uma pintora de 17 anos, Jeanne Hébuterne, que, grávida, se matou no dia em que Modigliani foi sepultado.

Modigliani pode ser considerado um autodidata, apesar dos estudos feitos na mocidade. As maiores influências, que persistem ao longo de toda a sua obra, são a pintura renascentista de Siena e as esculturas africanas.

Ao fixar-se em Montmartre, Modigliani não travou relações com os principais artistas que ali viviam, nem mesmo com Picasso que, na ocasião, já havia se tornado famoso. A companhia frequente de Modigliani, nessa fase, foi Maurice Utrillo, que o iniciou no hábito das bebidas e das drogas, que lhe arruinariam a saúde.


"Woman in Yellow Jacket" - 1909

Só ao final desse período é que Modigliani faz uma obra considerada uma das mais importantes: "O Violoncelista", exposto no Salão dos Independentes de 1909.


"O Violoncelista" - 1909

Nos anos seguintes, Modigliani abandonou a pintura. Mudou-se para Montparnasse, onde se tornou amigo do escultor Brancusi. O cubismo e a pintura de Cézanne tiveram grande influência em suas obras. A arte africana e as reminiscências da pintura sienesa (pintura italiana da cidade de Siena), dão aos seus trabalhos de escultura - que faz por influência de Brancusi - as principais características.

"Cabeça" - 1911

Modigliani foi um artista figurativo, conhecido por retratos e nus em estilo  moderno caracterizado pelo alongamento de rostos e figuras. Seu admirável domínio da cor é completado pelo despojamento da figura. A obra do artista, além das esculturas, inclui pinturas e desenhos. O período de 1909 a 1914, foi dedicado principalmente à escultura. Tornou-se célebre sobretudo por seus retratos femininos. A obra "A Mulher Com Leque" ilustra o uso que o artista faz de formas simplificadas e alongadas. A influência da arte africana está particularmente expressa nesta obra.


"A Mulher Com Leque"- 1919

Em 1914, por razões financeiras, o artista retorna definitivamente à pintura. A fase final da carreira de Modigliani é considerada a mais importante. Desde o princípio seus trabalhos possuem um estilo inconfundível: figuras alongadas, de pescoço comprido, rosto oval ligeiramente inclinado e olhos marcados por dois pequenos pontos, mas com a leve alusão de um sorriso.

Nos últimos anos da sua vida, Modigliani pinta quase que somente retratos e nus femininos. A sensualidade de suas figuras não está na exposição de seus corpos, mas no movimento e no alongamento que o pintor lhes dá. Modigliani tem o raro dom de conseguir uma empatia entre o espectador e os seus retratos.


"Nude Sitting on a Divan" - 1917

Nos retratos de crianças, em particular, o artista apresenta uma emocionante simplicidade. Entretanto, a graça às vezes pode se converter em maneirismo, e a monumentalidade em rigidez. Alguns estudiosos já observaram que algumas das deformações elegantes de Modigliani produzem uma impressão de gratuidade, senão de monotonia.


"Little Girl In Blue" - 1918

Além disso, a "expressão de muda aceitação da vida", que define, segundo o próprio Modigliani, a alma de seus modelos, pode não satisfazer a quem aprecia emoções mais fortes. Mas essas mesmas características fazem a singularidade e o encanto de sua obra.

Durante sua vida, Amadeo Modigliani teve pouco sucesso, só depois de sua morte que o artista alcançou maior popularidade e suas obras alcançaram preços elevados.

Modigliani morreu aos trinta e cinco anos em Paris, em condições de extrema pobreza material, vítima de meningite tuberculosa, agravada pelo excesso de trabalho, álcool e drogas.


CURIOSIDADES

Modigliani foi um dos chamados "artistas malditos" da Escola de Paris. Tinha temperamento desregrado e tendendo à auto-destruição. Foi uma figura carismática de grande beleza física e de prodigiosa memória, como um "show-man", marcava presença nos cafés de Montparnasse, recitando com brilho e expressão versos de Dante Alighieri e D'Annunzio, depois fazia rápidos desenhos do ambiente e pessoas, em troca de pequenas quantias ou copos de vinho.




Modigliani teve por dois anos, uma complicada relação com a jornalista e poetisa inglesa Beatrice Hastings, de quem dependeria para o seu sustento e que se tornaria sua modelo e musa durante esse período.


"Seated, Beatrice Hastings" - 1915

No dia seguinte à morte do seu companheiro Amadeo Modigliani, Jeanne Hébuterne, aos 21 anos e grávida de nove meses, suicidou-se, atirando-se do quinto andar do prédio onde viviam seus pais. Enquanto o sepultamento de Modigliani foi um estrondoso acontecimento público, o corpo de Jeanne foi sepultado no mesmo dia às escondidas pelos pais, no cemitério de Bagneux. Sua filha foi criada pelas irmãs de Modigliani, e cresceu sem saber o que ocorrera com os pais.


"Jeanne Hébuterne"

Menos de um século após a morte de Amadeo e Jeanne, a obra de Modigliani é uma das mais valorizadas do mercado de arte. Em novembro de 2015, a obra “Nu couché“, foi arrematada em leilão, por US$ 170,4 milhões de dólares. É a segunda obra mais valorizada em leilões internacionais, enquanto que a obra de Jeanne Hébuterne é praticamente desconhecida.


“Nu couché“ - 1917

A escultura "Tetê" - 1910/12 - Foi leiloada em 2010 por U$ 59.5 milhões de dólares ou 43.2 milhões de euros, pela Christie's Paris. Tetê faz parte das 27 esculturas criadas por Amadeo Modigliani e uma das poucas que permanecem em coleção privada.

"Tetê" - 1910/11



Desenhos

"Anna Akhmatova" - 1911 - lápis em desenhos de papel - Anna Akhmatova Apartment Museum, St. Petersburg, Rússia.


"Quando conhecer sua alma, pintarei seus olhos." Amadeo Modigliani  








22 de fevereiro de 2017

A Pintura Metafísica de Giorgio De Chirico


"Piazza d'Itália" - 1913 - óleo sobre tela - 35cm x 25cm - Art Gallery of Ontario, Canada.


Principal representante da "pintura metafísica", Giorgio De Chirico constitui um caso singular. Poucas vezes um artista alcançou tão rapidamente a fama para, em seguida, renegar o estilo que o celebrizara e cair em um esquecimento quase absoluto.

Giorgio De Chirico, (1888) nasceu em Vólos, na região grega da Tessália, onde seu pai trabalhou até falecer. Após a morte de seu pai, o artista viajou com a família pela Itália e pela Alemanha e ficou fascinado com a pintura do simbolista suíço Arnold Böcklin.




"Die Toteninsel" (A Ilha dos Mortos) - 1886 - Arnold Böcklin - óleo sobre tela - 150cm X 80cm - Museu Metropolitano de Arte de Nova York - MET.

A pintura metafísica de Giorgio de Chirico antecipa elementos que depois apareceram na pintura surrealista: padrões arquitetônicos, grandes espaços nus, manequins anónimos e ambientes oníricos.

O que o artista qualificava como "pintura metafísica" correspondia à necessidade de sonho, de mistério e de erotismo próprio do surrealismo. E assim, a obra de De Chirico alcançou um êxito considerável.




"The Soothsayer's Recompense" (A recompensa do Adepto) - 1913 - óleo sobre tela - Philadelphia Museum of Art, Philadelphia.

Por volta de 1909 começou a pintar seus famosos cenários arquitetônicos, solitários, irreais e enigmáticos, onde colocava objetos diversos para revelar um mundo onírico e subconsciente, perpassado de inquietações metafísicas.

Para isso, valeu-se da perspectiva tradicional do Renascimento florentino - que proporcionava ao conjunto uma sensação de infinitude - de um desenho marcado e de uma luz uniforme, com arcadas, torres, praças e fachadas.




"The Enigma of a Day" (O Enigma de um dia) - 1914 - óleo sobre tela - 135cm X 139cm - Museu de Arte Moderna de Nova York - MoMA.

Em 1911 mudou-se para Paris onde, no ano seguinte, fez sua primeira exposição muito admirada por Picasso e Appolinaire.

Durante a primeira guerra mundial conheceu, num hospital italiano, o pintor futurista Carlos Carrà, com quem fundou a Scuola Metafisica.

Durante esses anos, introduziu em seus quadros maior diversidade de objetos, neles apareciam manequins, nus ou vestidos à moda clássica, enigmáticos e sem rosto ("Heitor e Andrômaca"), que pareciam simbolizar a estranheza do ser humano diante de sua ambiência.




"Heitor e Andrômaca" - 1946 - óleo sobre tela - 82cm X 60cm - Coleção particular, Roma.

Na década de 1920, inesperadamente, De Chirico mudou para um estilo classicista, distanciado do metafísico, e, ainda que tenha participado da exposição surrealista de Paris em 1925, afastou-se cada vez mais desse movimento.

Em 1940 regressou à Itália e adotou um estilo já decididamente acadêmico, baseado em temas mitológicos e clássicos.





"Gladiadores" - 1935 - óleo sobre tela - 74,7cm X 59,8cm.

Giorgio De Chirico faleceu em 20 de novembro de 1978 em Roma, de uma parada cardíaca.

Com sua pintura, Giorgio De Chirico antecipou o triunfo da estética surrealista de certo modo, o enigma de sua radical transformação pictórica acrescenta mais uma interrogação ao estranho mundo de suas visões.


Algumas de suas obras




"Canto d'amore" (Canto de Amor) - 1914 - óleo sobre tela - 73cm X 59cm - Museu de Arte Moderna de Nova Iork - MoMA.




"The Uncertainty of the Poet" (A incerteza do poeta) - 1913 - óleo sobre tela - 106cm X 94cm - Tate Modern, Londres.



"The Disquieting Muses" (As musas inquietantes) - 1916/17 - óleo sobre tela - 97cm x 66cm - Coleção privada.



Sobre a Pintura Metafísica


Características:
Os elementos arquitetônicos mobilizados nas composições – colunas, torres, praças, monumentos neoclássicos, chaminés de fábricas etc. – constroem, paradoxalmente, espaços vazios e misteriosos. As figuras humanas, quando presentes, carregam consigo forte sentimento de solidão e silêncio. São meio-homens, meio-estátuas, vistos de costas ou de muito longe. Quase não é possível ver rostos, apenas silhuetas e sombras, projetadas pelos corpos e construções.

Na pintura metafísica o mistério, o sonho, os espaços vazios, as sombras, as perspectivas inesperadas, as justaposições que são encontradas na obra de Giorgio De Chirico influenciaram os artistas surrealistas. Nos seus quadros, os objectos parecem não ter sentido.

"Para se tornar verdadeiramente imortal uma obra de arte deve escapar de todos os limites humanos. A lógica e o bom senso só irão interferir. Mas quando essas barreiras são quebradas, entra na região de visão da infância e do sonho." Em “Mistério e Criação”, Giorgio de Chirico, Paris 1913.







15 de fevereiro de 2017

O Surrealismo de Marc Chagall



"America Windows" - Marc Chagall - Art Institute of Chicago

Marc Chagall (1887-1985), foi um pintor, gravador e vitralista. O artista francês, de origem russa, era judeu e como tal lutou para sobreviver à revolução bolchevique na Rússia e ao nazismo. Teve sua arte ignorada por muito tempo pela sociedade e pela própria família, que desaprovava sua escolha. Isso lhe dificultou conseguir os recursos necessários para desenvolvê-la. Os seus quadros remetem muito à sua vida de menino em Vitebsk, denotando saudosismo numa linguagem lírica e moderna. Era um romântico: pintava quase essencialmente suas memórias e fez de sua obra uma verdadeira poesia fantástica, no mais amplo sentido da palavra.

No âmbito da arte contemporânea, marcada pelo formalismo e a abstração, a pintura de Chagall se destaca pela importância que nela tem o elemento temático, de fundo onírico, que mostra por sua vez as fundas raízes afetivas e culturais do artista.

Iniciou-se em pintura no ateliê de um retratista local. Em 1908 estudou na Academia de Arte de São Petersburgo e, de volta à cidade natal, conheceu Bella, de quem pintou um retrato em 1909.



"My Fiancee in Black Gloves" - 1909 - Marc Chagall - Kunstmuseum, Basiléia (O Museu das Belas Artes de Basileia, na Suíça).

Retornou a São Petersburgo e de lá seguiu para Paris em 1910, ligando-se a Blaise Cendrars, Max Jacob e Apollinaire e aos pintores Delaunay, Modigliani e La Fresnay.

Marc Chagall trabalhou intensamente para integrar seu mundo de fantasias na linguagem moderna, derivada do fauvismo e do cubismo.

As obras mais importantes do artista nesse período são: "Moi et le village" ("Eu e a aldeia"), 1911, "L'Autoportrait aux sept doigts" ("Auto-retrato com sete dedos"), 1913, "La Femme enceinte" ("Mulher grávida"), 1912/13, "Le Soldat boit" ("O soldado bebe"), 1912/13.




"Moi et le village"
("Eu e a aldeia") - 1911 - óleo sobre tela - 1,92cm X 1,51cm - Marc Chagall - Museu de Arte Moderna de Nova Iork - MoMA.




"Self-Portrait with Seven Fingers", (Auto-retrato com sete dedos") - 1913 - óleo sobre tela - 107cm X 128cm - Marc Chagall - Stedelijk Museum, Amsterdam.




"La Femme enceinte" ("Mulher grávida") - 1912/13 - óleo sobre tela - 193cm X 116cm - Marc Chagall - Stedelijk Museum, Amsterdam.




"Le Soldat boit" ("O soldado bebe") - 1912/13 - óleo sobre tela - 109,2cm X 94,6cm - Marc Chagall - Solomon R. Guggenheim Museum, Nova Iork.
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A maioria dos títulos de suas obras foram dados por Cendrars e seu amigo escritor e crítico de arte. Apollinaire, foi quem selecionou as telas que Chagall expôs em 1914 em Berlim, com grande influência sobre o expressionismo de pós-guerra.



"Birthday" - 1915 - óleo sobre tela - 81cm X 99,7cm - Marc Chagall.

Com o início da Primeira Guerra Mundial, Chagall que estava de visita à Rússia, em 1914, não pôde voltar à Europa. Foi nesse período que o artista se casou com Bella, uma moça que havia retratado antes de partir para a Europa. Mesmo após a morte da amada, o artista continuou refletindo seu amor pela esposa em suas obras.

No tempo em que permaneceu na Rússia assumiu o cargo de Comissário de Arte de Vitebsk. Permaneceu lá até 1922 quando voltou a Paris, onde iniciou um período de grande produção artística. Recebeu uma encomenda do editor Ambroise Vollard, para ilustrar a Bíblia e executou 96 gravuras para uma edição de Almas mortas, de Gogol, só publicada em 1949. Na mesma época, pintou murais para a sala e o foyer do teatro judeu de Moscou.


Almas Mortas (Gogol), O Lobo e a Cegonha (La Fontaine), Jacó e o Anjo (Bíblia) e Dafne e Cloé.

Em 1927, Chagall, ilustrou as Fábulas, de La Fontaine, um conjunto de cem gravuras que foram publicadas somente em 1952. Os anos que se seguiram foram prósperos na vida pessoal e profissional de Marc Chagall.
São dessa fase suas primeiras paisagens, bem como quadros que renovaram o tema lírico das flores.


"Fábulas" de La Fontaine.

Em 1931 Chagall visitou a Palestina, a Síria e publicou "Ma vie" ("Minha vida"), autobiografia ilustrada por gravuras que já haviam aparecido em Berlim em 1923. Em 1933 realizou grande retrospectiva no Kunstmuseum, de Basiléia.

A partir de 1935 o clima da 2ª Guerra Mundial e da perseguição aos judeus repercutiu em sua pintura, na qual os elementos dramáticos, sociais e religiosos passaram a tomar vulto.

Em 1941 foi para os Estados Unidos. Em 1944, faleceu sua esposa Bella Chagall, causando-lhe grande depressão. Mergulhou de novo no mundo das evocações e concluiu o quadro "Autour d'elle" ("Em torno dela"), Musée National d'Art Moderne, Paris, iniciado em 1937 e que se tornou uma síntese de sua temática. Em 1945 pintou grandes telas de fundo, cenários para o balé "O pássaro de fogo", de Stravinski.


"Autour d'elle Huile"
("Em torno dela") - 1945 - óleo sobre tela - 131cm X 109,7cm - Marc Chagall - Musee National d'Art Moderne, Paris.

Regressou definitivamente à França em 1947. Em 1950 criou vitrais para a sinagoga da universidade hebraica de Jerusalém, como também, vitrais para a catedral de Metz. Chagall esteve várias vezes em Israel nessa época, desincumbindo-se de várias encomendas.

Na França e nos Estados Unidos, além de vitrais, realizou mosaicos, cerâmicas, murais e projetos de tapeçaria. Em 1973 foi inaugurado em Nice o Museu da Mensagem Bíblica de Marc Chagall. Em 1977 o governo francês agraciou-o com a grã-cruz da Legião de Honra.

Reconhecido como um dos maiores pintores do século XX, Marc Chagall, faleceu em Saint-Paul de Vence, no sul da França, em 28 de março de 1985.