Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

28 de setembro de 2016

Galeria Claudia Andujar no Instituto Inhotim



"Galeria Claudia Andujar" - Instituto Inhotim

Em novembro de 2015, o Instituto Inhotim inaugurou mais uma galeria, dedicada ao trabalho da fotógrafa Claudia Andujar, nascida na Suíça e radicada no Brasil desde a década de 1950. Patrocinado pelo Banco Santander, o pavilhão de 1.600 m², é o segundo maior do Parque e exibe mais de 400 fotografias realizadas pela artista entre 1970 e 2010, na Amazônia brasileira, e com o povo indígena Yanomami.

O edifício fica em uma encosta densamente arborizada com acesso por trilhas em meio à vegetação.


A galeria Claudia Andujar foi denominada pelos índios Yanomamis, presentes no dia de sua inauguração, de "Maxita Yano" – casa de barro, na língua Yanomami – a galeria propõe, em sua materialidade, espacialidade e luz, uma interpretação ampliada das relações possíveis entre arquitetura e natureza.



Andujar viveu temporadas na região Amazônica e realizou diversas visitas posteriores. Ao longo dos anos, registrou o ambiente, as tradições e o contato dos índios com o homem branco.

Dividida em quatro blocos, a galeria é resultado de cinco anos de pesquisa da curadoria do Instituto Inhotim em conjunto com Andujar, no arquivo da artista. Grande parte das fotografias é inédita, como as séries "Rio Negro" (1970-71) e "Toototobi" (2010), esta última realizada durante uma assembleia da Hutukara Associação Yanomami.



Série Toototobi - "Guerreiro"


O trabalho mais reproduzido de Andujar foi elaborado a partir de fotos feitas por ela para os cadastros de saúde utilizados pelas equipes de vacinação da região, numa tentativa de proteger os índios da dizimação por doenças até então desconhecidas por eles, como sarampo e poliomielite.



Série Marcados - "Vertical 9"

Para o diretor artístico do Instituto Inhotim e curador da mostra, Rodrigo Moura, Andujar está entre os raros artistas que conseguem, de forma poética, atribuir engajamento ao trabalho artístico. “A singularidade e a potência da trajetória de Claudia Andujar vêm da construção de um trabalho com um poder efetivo de intervenção no real, porém feito de costas para o sistema de arte do Brasil. De certa maneira, seu trabalho diz que esse encontro com outro, essa busca da arte para a constituição da identidade, tanto do autor quanto daquele que é fotografado, só é possível se dar fora de um sistema codificado e de interesses imediatos, como mercado e celebridade. Essa visão ética é uma fonte de inspiração para as novas gerações”, avalia.



Visitar a exposição trouxe uma reflexão ao índio Davi Yanomami. “Vocês não indígena conhecer, visitar, olhar e pensar para você respeitar esse povo”, afirmou Davi, que é representante da etnia e também xamã, líder místico, espiritual.



Davi Kopenawa é uma das maiores lideranças indígenas do mundo.

“O mais importante foi entender isso (a vida dos índios). Foi justamente entender a alma dessas pessoas. Eu não acho que essas fotos representam só o lado físico. Eu sempre tentei penetrar dentro da parte física para entender quem são como seres humanos”, contou Cláudia Andujar.

“Hoje se conhece mais os índios do que no passado. Isso está crescendo, mas, politicamente, não tem muita diferença”, lamenta a fotógrafa. Davi Yanomami resume de uma forma simples as diferenças. “Nossa língua é diferente, pensamento diferente, o costume é diferente, moradia diferente. Mas existe um coração só. Coração do branco e coração do índio”, reflete.



Além das fotografias, fazem parte da mostra publicações de época, livros da artista e o documentário “A estrangeira”, produzido pelo Instituto com direção de Moura. A partir de quatro entrevistas, realizadas em São Paulo, no Instituto e na aldeia Demini, no Amazonas, o filme conta a trajetória de Anjudar, desde a infância tumultuada pela Segunda Guerra Mundial até o envolvimento com os Yanomami e a causa indígena.




Sobre a artista

Claudia Andujar (Neuchâtel, Suíça 1931). Fotógrafa. Viveu na Hungria e depois nos Estados Unidos. Transferiu-se para São Paulo em 1957. Dedicou-se à fotografia e trabalhou para publicações nacionais e internacionais, como as revistas Realidade, Claudia e Life. Lecionou fotografia em vários cursos, entre eles o do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp). Na década de 1970, compôs a equipe de fotógrafos da revista Realidade e realizou ampla reportagem sobre a Amazônia.

Nessa época, recebeu uma bolsa da instituição norte-americana Fundação Guggenheim e, posteriormente, uma outra da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) para estudar os índios Yanomami. As tradições e o modo de vida dos Yanomamis têm sido, desde então, o tema central de sua atividade.

Participou, entre os anos de 1978 e 1992, da Comissão pela Criação do Parque Yanomami, e coordenou a campanha pela demarcação das terras indígenas. Entre 1993 e 1998, atuou no Programa Institucional da Comissão Pró-Yanomami. Publicou os livros "Amazônia", em parceria com George Love, em 1978, "Mitopoemas Yanomami", em 1979, "Missa da Terra sem Males", em 1982, "Yanomami: A Casa, a Floresta, o Invisível", em 1998, entre outros. Em 2005, foi lançado o livro "A Vulnerabilidade do Ser", pela editora Cosac & Naify.


"Apesar de intuir que minhas fotos sobreviverão a mim, tornando-se o traço principal da minha identidade, esse jamais foi o meu objetivo. A sobrevivência do povo Yanomami é, para mim, a questão mais importante. Talvez se possa nomear isso mais amplamente, como a “vulnerabilidade do ser”. No entanto, esse interesse foi dirigido a eles porque eu não poderia abarcar o mundo inteiro. Escolhi-os porque senti que, dentro de minhas possibilidades, poderia proporcionar-lhes algo.

Claudia Andujar


Conversa informal

A Galeria Claudia Andujar foi a exposição de obras que mais me impressionou na visita ao Instituto Inhotim. Não só pela arquitetura e localização excepcionais, mas pela qualidade das fotos, pelo conteúdo, pela beleza das obras e principalmente pela sensibilidade da artista. Fotos que poderiam ser comuns de cenas diárias dos índios Yanomami, como um banho de rio, uma criança brincando ou um simples carinho, são transformadas pelo olhar da artista carregado de emoção e respeito ao outro e ao seu trabalho. Tudo isso é muito evidente na apresentação das obras.



Entrada da galeria




Série "Rio Negro"






Legenda na entrada da galeria

















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