Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

11 de maio de 2016

"Di Cavalcanti - Conquistador de Lirismos"



"Auto retrato" - 1943 - Di Cavalcanti


"Di Cavalcanti - Conquistador de Lirismos". Resgata Obra do Artista em Exposição e Livro 

Mais de duas décadas da rica produção do artista, entre óleos, aquarelas e guaches são reunidos na mostra, que tem curadoria de Denise Mattar e consultoria de Elisabeth Di Cavalcanti. São cerca de 50 obras realizadas entre os anos de 1925 e 1949.

“Eu sou meu personagem”, dizia Di Cavalcanti sobre si mesmo. Nada poderia defini-lo melhor. Autodidata, ilustrador, desenhista, caricaturista e pintor, um dos maiores entre todos os pintores do Modernismo. Foi o único artista que se manteve ativo do início ao fim do período modernista (até sua morte, em 1976) e, o que é melhor retratou as nuances e o lirismo da cultura e do povo brasileiro.


"Moleque" - 1932 - óleo sobre cartão - 49 x 36,5 cm - Di Cavalcanti

No ano de 1925 Di Cavalcanti regressou de sua primeira viagem à Europa, após um período de dois anos, onde viveu em Paris como jornalista. Foi nessa época que houve o amadurecimento, transformação e virada na obra do artista. Na capital francesa, frequentou a Academia Ranson, visitou museus e exposições e se encantou com os expressionistas alemães. Conheceu Picasso, Léger, Matisse, Eric Satie, Jean Cocteau e outros intelectuais franceses. Viajou à Itália para ver Tiziano, Michelangelo e Da Vinci. Este contato com a vanguarda europeia e com os grandes mestres do passado foi fundamental para o artista, que voltou ao Brasil renovado e consciente do que queria para sua obra. “Paris pôs uma marca na minha inteligência. Foi como criar em mim uma nova natureza e o meu amor à Europa transformou meu amor à vida em amor a tudo que é civilizado. E como civilizado comecei a conhecer a minha terra. (...)”, afirmou.


"Ruas de Paris" - 1924 - óleo sobre tela - 45 x 56 cm - Di Cavalcanti

Em 1949, o artista teve contato com os pintores e muralistas mexicanos Diego Rivera e José Orozco. Essa experiência lhe abriu um novo caminho e, à partir de 1950, passou a realizar painéis e murais em harmonia com uma nova arquitetura de linhas simples e arrojadas, que marcaram época na modernidade brasileira. 

Entre as obras mais conhecidas estão as tapeçarias do Palácio da Alvorada, o grande painel do Congresso, o painel do Descobrimento, hoje no Museu Nacional de Belas Artes, e os quatro trabalhos realizados para a Caixa Econômica Federal, para ilustrar os bilhetes da Loteria.


Painel de Di Cavalcanti exposto no Salão Verde do Plenário da Camara dos Deputados em Brasília.

Os principais temas abordados pelo artista em suas obras foram: as pessoas comuns, os suburbanos, quase sempre, retratados na favela, nos botecos, nas docas, nos bordéis, nas festas populares; as mulheres - mulatas, negras, brancas, ricas e pobres, morenas e loiras, num clima lírico e sensual, dolente e langoroso - e os opostos colocados em convivência – o lirismo e a sensualidade, o real e o fantástico, o cotidiano e o extraordinário, a razão e a emoção compondo sempre um universo artístico que classificava como realismo mágico.


"Cinco moças de Guaratinguetá" - 1930 - influencia cubista - Di Cavalcanti

A década de 1950 foi o período em que o artista começou uma das fases mais conhecidas de sua carreira – que, por vezes, até a reduzia: as mulatas. 


"Duas mulatas" - 1962 - Di Cavalcanti


Sobre Di Cavalcanti

Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo. Nasceu no Rio de Janeiro (1897- 1976). Começou carreira e formou-se como artista graças à imprensa, trabalhando como caricaturista e ilustrador. Em 1916 participou do I Salão dos Humoristas, no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro. No ano seguinte foi para São Paulo, onde frequentou a Faculdade de Direito, por três anos. 


"Retrato de Noemia" (sua esposa) - 1936 - óleo sobre tela - 62 x 50 cm - Di Cavalcanti 

Com pouco dinheiro, mas com boas referências e muito talento, o artista conseguiu rapidamente se inserir no círculo dos intelectuais vinculados aos jornais em São Paulo e no Rio de Janeiro. Segundo Anita Malfatti, Di Cavalcanti conseguiu convencê-la a realizar a famosa exposição de 1917, que abalou São Paulo, e a Semana de Arte Moderna de 1922, da qual o artista carioca foi um dos personagens centrais. 


"Samba" - Semana de Arte Moderna de 1922

Di Cavalcanti teve seu trabalho interrompido na década de 1930 por perseguições políticas. Em São Paulo, foi preso como getulista. No Rio de Janeiro, como comunista. Na série de 12 caricaturas intitulada "Realidade Brasileira", o artista satirizou os comportamentos sociais e políticos do país. Em 1936, fugiu para Paris, onde permaneceu por quatro anos


Série "A realidade brasileira" - Di Cavalcanti

“Di Cavalcanti foi o primeiro artista a trazer para a pintura a gente dos morros, a gente dos subúrbios, onde nasceu o samba. Sendo o mais brasileiro dos artistas, foi o primeiro a sentir que entre o interior, a roça, o sertão e a avenida e o "centro civilizado", havia uma zona de mediação - o subúrbio. No subúrbio vive o verdadeiro autóctone da grande cidade. Já não é caipira, mas ainda não é cosmopolita. O que lá se passa é autêntico, de origem e de sensibilidade”, escreveu o crítico de arte Mário Pedrosa no Jornal do Brasil, em 1957. 


"O Grande Carnaval" - 1953 - Di Cavalcanti 

A sensualidade, a indisciplina e a boemia de Di Cavalcanti, fizeram com que ele fosse sempre visto com reservas por uma parcela da crítica de arte, a mesma que leva em conta sua obra somente até os anos 1950. 


"Baile popular" - 1972 - Di Cavalcanti

Di Cavalcanti morreu em 1976, aos 79 anos, no Rio de Janeiro. 


Serviço 

Exposição: "Di Cavalcanti - Conquistador de Lirismos" 

Onde: Galeria de Arte Almeida e Dale - R. Caconde, 152 - Jardim Paulista. 

Quando: Até 28 de maio de 2016. De segunda a sexta, das 10h às 18h; sábados, das 10h às 14h - Fone: (11) 3887-7130 

Quanto: Entrada gratuita. 








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