Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

25 de maio de 2016

Crystal Gregory - Dando vida à paisagem urbana



CRYSTAL GREGORY: CORES E LINHAS NA PAISAGEM URBANA


Crystal Gregory é uma artista norte-americana cujo principal trabalho consiste em esculturas feitas com vidro e chumbo. Mas, longe das galerias e museus, seu trabalho muda de figura e assume forma de belas intervenções públicas em tricô.

Uma trama de linhas e cores, criada a partir da paisagem urbana e modificada, esse é o trabalho da artista plástica Crystal Gregory que, através da inspiração em elementos do cotidiano, deixa as cidades mais alegres com suas delicadas intervenções. 

A artista plástica parece ser capaz de romper a rigidez do mar de concreto que formam as cidades. Com um trabalho extremamente feminino e delicado, Crystal cria tramas de intervenções coloridas que, segundo ela mesma, exploram “interiores domésticos e exteriores arquitetônicos, nostalgia e modernidade, fragilidade e força, feminilidade e masculinidade”.


A artista, através da sua arte, modifica o cenário urbano e integrar-se a ele de forma natural. Seu trabalho consiste na criação de “objetos e instalações que estão relacionados ao lugar, ao corpo e à arquitetura”. Prova disso é a instalação "Foot Traffic" de 2010, inspirada nos sapatos que eram arremessados por jovens na ponte Lincoln Road e formavam um verdadeiro candelabro de fios e cores. Gregory “teceu” com crochê e linhas coloridas a grade da ponte. Uma intervenção sutil, mas que muda de forma alegre o panorama do local.


"Foot Traffic" - Crystal Gregory

Ainda utilizando linhas, mas agora sem a variedade de cores do "Foot Traffic", são as obras "Foundation I e II". Ambas trabalham com a questão do interior e o exterior na arquitetura, abordando temas como a estrutura e o padrão nos espaços domésticos. Na "Foudation I" tijolos são envolvidos por crochê artesanal, já na "Foundation II" alguns tijolos de concreto são substituídos pela trama de crochê e por uma iluminação interna que resulta em uma bela intervenção sensível perante a rigidez do concreto.


"Foudation I" - Crystal Gregory


"Foundation II" - Crystal Gregory

Seguindo ainda essa vertente que desafia a rigidez e seriedade das cidades, se encaixa a intervenção "Crochê Invasivo", que recobre de crochê feito manualmente algumas superfícies improváveis como cercas de arame farpado, o resultado é a dualidade delicadeza e aspereza convivendo harmonicamente.


"Crochê Invasivo" - Crystal Gregory

O trabalho com tramas não está presente somente no uso de fios nas obras de Gregory, em "Heirloom" (Relíquias de família) de 2010, feito com madeira, vidro jateado e chumbo, o trabalho cria uma rede de desenhos na madeira que se assemelha a uma delicada renda, porém, ao se olhar mais atentamente, é possível ver a deterioração do material nas bordas dos desenhos, dando a real impressão de se tratar de algo antigo, uma verdadeira relíquia de família. 


"Heirloom" (Relíquia de família) - Crystal Gregory

Neste jogo de arte e elementos do cotidiano situa-se a obra "Searching Home" que associa a renda a objetos domésticos. Ao rasgar os objetos Gregory diz estar procurando um sentido para a casa, já que em sua vida não permaneceu em um mesmo lugar por mais de um ano. “A renda desempenha um papel central no meu trabalho. Eu estou apaixonada pela sua capacidade de revelar mais do que é, na verdade esconde, evocando ideias de sexo, classe, domesticidade, e padrão". 


"Searching Home" - Crystal Gregory

Os trabalhos mais recentes de Crystal não utilizam linhas, mas ainda assim evidenciam a ideia de trama e exploram a relação interior e exterior. Um deles é a obra "Passage", que consiste em um volume feito de vidro e chumbo inspirado no padrão do átrio do Rookery Building, em Chicago, que explora a relação dentro-fora, e a “passagem visual” através do vidro. 


"Passage" - Crystal Gregory

Outra obra recente é "7:26 am", que estuda o padrão da luz nos espaços interiores e, assim como outros trabalhos da artista, se inspira em elementos do cotidiano. Neste caso é a luz da manhã que invade a janela de seu apartamento em Chicago. Utilizando triângulos de aço soldado Gregory diz ter se inspirado “na dependência que as pessoas têm por padrões de conforto, ordem e identidade. Através do reconhecimento de ritmos repetitivos, entendemos e organizamos nossas vidas”. 


"7:26 am" - Crystal Gregory

Semelhante ao trabalho de tramas de Gregory, existe um conjunto de intervenções artísticas conhecidas como "Yarn Bombing" (bombardeio de fios), também chamado de "tricô de guerrilha". É um movimento de arte de rua semelhante ao grafite, mas que pinta a cidade com fios e não com tinta. Árvores, carros, bicicletas e até buracos nas ruas e calçadas se tornam matéria-prima e são envolvidos por alegres e coloridas intervenções de crochê, tricô ou bordado. 


"Yarn Bombing" (bombardeio de fios)

A precursora desse recente movimento é Magda Sayeg, de Houston, que em 2005 teria coberto o trinco da porta da sua loja com fios, o que chamou a atenção da população e a levou a criar o grupo "KnittaPleas" com objetivo de reunir adeptos desse tipo de intervenção. O movimento de intervenções usando fios se espalhou pelo mundo e o grupo "Knit in the City", no Reino Unido, é considerado um dos maiores do gênero.


"KnittaPleas" - Londres

Crystal Gregory possui intervenções que ela mesma nomeia como "Crochê Grafite" e que faz parte das ações do tricô de guerrilha que para ela desafiam os pressupostos de gênero “através da tecelagem de rendas, trabalho feminino nas fendas e espaços masculinos na paisagem urbana”. 

O trabalho de Gregory e as intervenções do tricô de guerrilha "Yarn Bombing" transformam, ainda que de forma efêmera, a paisagem urbana, quebrando sutilmente o rigor cinza das cidades. Um sopro de delicadeza e cor que chama a atenção e encanta olhares desatentos que se surpreendem com a arte que, ao mesmo tempo em que modifica, se origina da própria cidade. 


"Crochê Grafite" - Crystal Gregory 






Um comentário:

  1. Esta transposição do antigo artesanato de vestuário para o espaço urbano, transformando-o em arte, é muito interessante, embora já tenha sido feito, anteriormente , mas somente nas janelas e portas. Gostei !!!

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