Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

18 de outubro de 2013

Em Viena Lucian Freud por David Dawson

“Ele sempre soube o que queria. Era essencialmente um artista.” David Dawson

Viena terá primeira mostra de obras de Lucian Freud

Lucian Freud (1922-2011) não viveu para ver a primeira exposição de suas obras em Viena, a cidade da qual seu avô Sigmund fugiu em 1938, mas o artista ajudou a planejar a retrospectiva que será inaugurada esta semana.

Freud, considerado o maior pintor britânico de sua geração, se mudou com a família de Berlim para Londres em 1933 para escapar da ascensão do nazismo. Quatro de suas tias-avós foram mortas em campos de concentração durante o Holocausto.

"Viena nunca foi a terra dele e nunca poderia ser a terra dele", disse o curador Jasper Sharp. "Não quero ir tão longe a ponto de dizer que [a mostra] era uma cura ou o fechamento de um ciclo para ele, mas de alguma maneira um fantasma foi enterrado."

Depois de recusar inúmeros convites de galerias alemãs e austríacas por décadas, o artista figurativo germano-britânico concordou com a exposição e ajudou a selecionar 43 trabalhos para a mostra por causa do seu amor pelo local no qual eles seriam exibidos.

"Em primeiro lugar, e acima de tudo, ele fez esta exposição pelas coleções do Kunsthistorisches Museum", afirmou Sharp, amigo e vizinho de infância do artista judaico, que morreu em 2011 aos 88 anos.

O museu abriga a enorme coleção de artistas da família real Habsburgo, incluindo quadros de Ticiano, Velázque e Rembrandt que inspiraram Freud, um visitante contumaz de museus. Ele dizia que a visita a galerias de arte era para ele um curativo igual a ir ao médico.

 
'NÃO OLHE PARA O RELÓGIO' 

A mostra abrange 70 anos de carreira, indo de um autorretrato de 1943, período da guerra, à sua última obra, o inacabado "Retrato do Galgo", no qual aparecem seu assistente David Dawson e seu cão Eli, da raça whippet, quadro no qual ele trabalhou até duas semanas antes de morrer. 


"Uma coisa que você tem de aprender sobre posar é não olhar para o relógio", disse Dawson, que trabalhou com Freud por mais de 20 anos e cujas fotos tiradas do estúdio e da casa do artista estão sendo exibidas ao mesmo tempo no museu Sigmund Freud, em Viena, onde o fundador da psicanálise viveu e trabalhou por muitos anos.

A única exceção no intenso método de trabalho de Freud --seus modelos algumas vezes ficavam sentados por milhares de horas, já que o pintor produzia nos sete dias da semana, 13 horas por dia-- foi a rainha britânica, Elizabeth, cujo retrato ele pintou em 2001.

 

A monarca pôde posar por duas horas de cada vez. "Ela disse: 'bem, eu realmente tenho outras coisas para fazer'", contou Dawson em entrevista.

A mostra inclui alguns nus de tamanho fora do padrão, pelos quais Freud ganhou renome.
 
A maioria dos retratos é dele mesmo, membros da família e amantes, ou de pessoas que conheceu por acaso, como Susan Tilley, uma supervisora de benefícios da assistência social, que era gorda e ele pintou nua.
 

Freud evitava chamá-los de "nus", dizendo que isso poderia evocar uma ideia de perfeição à qual ele não aspirava. "Não quero pintar as pessoas do jeito que elas parecem. Quero pintar as pessoas do jeito que elas são", dizia o artista, segundo recorda Sharp.
 
 
O artista Lucian Freud (1922-2011) em fotografia de David Dawson
 
 
 
 
 
 
 

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