Lucian Freud (1922-2011) não viveu para ver a primeira exposição de suas obras em Viena, a cidade da qual seu avô Sigmund fugiu em 1938, mas o artista ajudou a planejar a retrospectiva que será inaugurada esta semana.
Freud, considerado o maior pintor britânico de sua geração, se mudou com a família de Berlim para Londres em 1933 para escapar da ascensão do nazismo. Quatro de suas tias-avós foram mortas em campos de concentração durante o Holocausto.
"Viena nunca foi a terra dele e nunca poderia ser a terra dele", disse o curador Jasper Sharp. "Não quero ir tão longe a ponto de dizer que [a mostra] era uma cura ou o fechamento de um ciclo para ele, mas de alguma maneira um fantasma foi enterrado."
Depois de recusar inúmeros convites de galerias alemãs e austríacas por décadas, o artista figurativo germano-britânico concordou com a exposição e ajudou a selecionar 43 trabalhos para a mostra por causa do seu amor pelo local no qual eles seriam exibidos.
"Em primeiro lugar, e acima de tudo, ele fez esta exposição pelas coleções do Kunsthistorisches Museum", afirmou Sharp, amigo e vizinho de infância do artista judaico, que morreu em 2011 aos 88 anos.
O museu abriga a enorme coleção de artistas da família real Habsburgo, incluindo quadros de Ticiano, Velázque e Rembrandt que inspiraram Freud, um visitante contumaz de museus. Ele dizia que a visita a galerias de arte era para ele um curativo igual a ir ao médico.
A mostra abrange 70 anos de carreira, indo de um autorretrato de 1943, período da guerra, à sua última obra, o inacabado "Retrato do Galgo", no qual aparecem seu assistente David Dawson e seu cão Eli, da raça whippet, quadro no qual ele trabalhou até duas semanas antes de morrer.
A única exceção no intenso método de trabalho de Freud --seus modelos algumas vezes ficavam sentados por milhares de horas, já que o pintor produzia nos sete dias da semana, 13 horas por dia-- foi a rainha britânica, Elizabeth, cujo retrato ele pintou em 2001.
A monarca pôde posar por duas horas de cada vez. "Ela disse: 'bem, eu realmente tenho outras coisas para fazer'", contou Dawson em entrevista.
A mostra inclui alguns nus de tamanho fora do padrão, pelos quais Freud ganhou renome.
Freud evitava chamá-los de "nus", dizendo que isso poderia evocar uma ideia de perfeição à qual ele não aspirava. "Não quero pintar as pessoas do jeito que elas parecem. Quero pintar as pessoas do jeito que elas são", dizia o artista, segundo recorda Sharp.
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