Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

2 de agosto de 2013

Grupo Santa Helena e Alfredo Volpi



Nascido em Lucca, na Itália, Alfredo Volpi chega ao Brasil em 1897, com apenas 2 anos, e passa a viver com a família no bairro do Cambuci, em São Paulo.

Na infância, estudou na Escola Profissional Masculina do Brás, e trabalhou como marceneiro, entalhador e encadernador.

Aos 16 anos, tornou-se aprendiz de decorador de paredes. Pintou frisos, florões e painéis comuns nos palacetes da época e ao mesmo tempo começou a pintar sobre telas e madeira.

Em 1917, Volpi visitou a exposição de Anita Malfatti, marco do modernismo brasileiro. Porém, mesmo sendo da mesma geração dos modernistas, não participou do movimento modernista dos anos 20. Como imigrante humilde, simples operário, pintor e decorador de paredes, Volpi diferenciava-se da maioria dos modernistas, oriundos da elite paulistana.



Feira do Cambuci - década de 40

Em 1925, expos numa coletiva, no Palácio das Indústrias de São Paulo, retratos e paisagens com composições românticas e características de luz e cor impressionistas. Apesar destas características, seu acesso aos mestres europeus era ainda muito restrito.

Ao contrário da arte de Tarsila, Di Cavalcanti e Portinari, claramente influenciada pelos europeus Léger e Picasso, a arte de Volpi seguiu, desde o início, trajetória independente de movimentos, tendências ou ideologias.

Nos anos 30, Volpi participou de reuniões promovidas pelo pintor Rebolo Gonçalves na sala 231 do Palacete Santa Helena, na Praça da Sé. Onde surgiu o Grupo Santa Helena, formado por pintores que começaram como artesãos, decoradores e operários da arte, e ganharam reconhecimento crítico a partir do final dos anos 30.



Rua de Ouro Preto - 1935

Em 1936, Volpi participou da formação do Sindicato dos Artistas Plásticos de S.P. e, em 1937, integrou a Família Artística Paulista.

De sua produção inicial, destacam-se as chamadas marinhas de Itanhaém. Cidade onde conheceu o pintor Emídio de Souza, artista primitivo de quem adquiriu telas, tornou-se amigo, e que o influenciou no uso das cores, no abandono da perspectiva tradicional e no início do processo de simplificação da realidade em formas geométricas.

Em 1940, enquanto mantinha a atividade de artesão trabalhando para a azulejaria Osirarte, de seu colega italiano Rossi Osir, Volpi avançou a passos lentos para o reconhecimento artístico. Voltando-se para temas populares e religiosos, ganhou o concurso do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.



Vista de Itanhaém, Marinha de Itanhaém - década 40

Em 1942, casou-se com Benedita da Conceição, apelidada Judith, e em 1944 fez a primeira individual, na Galeria Itá, em São Paulo.

A partir de 45, em intenso contato com os artistas italianos Rossi Osir e Ernesto de Fiore, familiarizou-se com a tradição pictórica italiana e evoluiu tecnicamente. Seu desenho ganhou mais importância, e sua pintura, cores mais claras e vibrantes, transparências brancas, amplitude de atmosfera, riqueza temática, liberdade gestual, dinâmica e expressividade.

 

Cidade de Criança, Brinquedo de Armar - década de 50

Em 1950, viajou à Europa com Rossi Osir e Mario Zanini, e pela primeira vez teve acesso ao trabalho de mestres europeus, impressionando-se especialmente com obras pré-renascentistas italianas.



Capela Cristo Operário - Escola Dominicana de Teologia, Alto do Ipiranga - década de 50

Nessa mesma época, surgiu na pintura de Volpi o motivo das bandeirinhas de festas juninas, inserido em fachadas e paisagens. Posteriormente, enquanto sua arte caminhava gradualmente rumo à abstração, as bandeirinhas se destacaram de seu contexto original e tornaram-se sua marca registrada.

Ganhando admiração de artistas e poetas concretistas, em 1956 e 1957, Volpi participou das exposições nacionais de Arte Concreta.



Barca com Bandeirinhas - 1955 - Alfredo Volpi

Em 1958, recebe o Prêmio Guggenheim. Em 1962 e 1966, o de melhor pintor brasileiro pela crítica de arte do Rio de Janeiro.

A partir dos anos 60, a arte de Volpi abandonou as temáticas narrativas e figurativas, e as bandeirinhas foram adotadas como signo componente de imagens abstratas, com ritmo e cores iluminadas. Sua arte chegou à abstração por caminhos próprios, como conseqüência de sua própria evolução.


Fachada - década de 60

Mesmo nascido na Itália, é um dos maiores artistas brasileiros. Sua obra funde cores e formas geométricas, ingênuas e essenciais, ao imaginário popular nacional.



Bandeirinhas - 1970

Volpi morreu em São Paulo, em 1988, aos 92 anos de idade.


Curiosidades

Além de autodidata, Volpi construía as próprias telas, e fazia as próprias tintas.

Os quadros de Volpi são perfumados, porque ele fazia suas tintas usando uma fórmula especialmente elaborada com este objetivo.

Em 1953, durante a II Bienal de São Paulo, Volpi ganhou papel central numa polêmica entre defensores das artes abstrata e figurativa. Na ocasião, a instituição dividiu o prêmio de melhor Pintor Nacional entre Volpi e Di Cavalcanti, oficializando a abertura do meio artístico brasileiro para a arte abstrata, ou de caráter abstrato.

Na época, Volpi já era razoavelmente conhecido, mas não tinha a consagração do pintor carioca, que a alguns anos vinha usando seu prestígio para combater o abstracionismo em artigos, como o transcrito a seguir:

“O que acho vital, porém, é fugir do Abstracionismo. A obra de arte dos abstracionistas, tipo Kandinsky, Klee, Mondrian, Arp, Calder é uma especialização estéril. Esses artistas constroem um mundozinho ampliado, perdido em cada fragmento das coisas reais: são visões monstruosas de resíduos amebianos ou atômicos revelados por microscópios de cérebros doentios”.

Os figurativos acusavam os abstratos de praticarem uma arte alienada de questões sociais, que deveriam ser seu motivo principal, enquanto os abstratos defendiam seu projeto e politizavam o caráter renovador de suas idéias, alimentadas pelas conquistas da Arte Abstrata internacional.

Em depoimento Volpi explicou: "(…) A questão é que sempre pintei as minhas pinturas que 'saem', nunca fui atrás de corrente alguma. Os concretistas me convidaram, fui expor com eles… mas nunca pensei em seguir alguém ou qualquer corrente… (…) Sempre pintei o que senti, a minha pintura aos poucos foi se transformando, começa com a natureza, depois aos poucos vai saindo fora, às vezes, continua, eu nunca penso no que estou fazendo. Penso só no problema da linha, da forma, da cor. Nada mais… Meus quadros têm uma construção, o problema é só de pintura, não representam nada. Isso vem aos poucos, é uma coisa lenta, é um problema, toda a vida foi assim".


3 comentários:


  1. As bandeirinhas de Volpi são sua marca registrada, assim como o Gerônimo nos teus quadros. Onde anda ele???

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  2. FABULOSO ARTISTA

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  3. Fui a uma exposição das obras dele outro dia e fiquei admirado da beleza de sua pintura!

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