Sobre as Sombras na Aquarela

Tudo começou com as nuvens.

A ideia surgiu da necessidade de mostrar a evolução de uma pesquisa feita sobre monocromia através da técnica da aquarela e colagem.

Foi à partir do meu olhar nas nuvens que surgiu o "momento sombras na aquarela". Após a escolha do suporte, as imagens começaram a brotar em minha mente de forma aleatória, de modo claro e objetivo, facilitando o desenvolvimento do trabalho. O fundo branco do papel, muitas vezes em destaque, realça as nuances e sobreposições das camadas, contrastando tons claros e escuros, assim como a luminosidade, algumas vezes oscilante, mais ou menos intensa, que brinca, sugerindo formas, movimentos e até mesmo sensações, destacando as características da aquarela aliada à colagem.

As inúmeras possibilidades que o tema oferece, associadas à técnica, tráz como resultado a simplicidade da proposta que, destacando a cor pura, em contraste com o papel, evidencia um grande prazer em criar.

Aline Hannun

12 de agosto de 2015

Guignard - A memória plástica do Brasil moderno




O Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM - abre nesta terça-feira a mostra “Guignard – A Memória Plástica do Brasil Moderno”.
 
Dedicada a Alberto da Veiga Guignard, um dos maiores artistas brasileiros do século XX, a mostra instalada na Grande Sala do MAM, conta com 70 obras divididas em três gêneros, retrato, paisagem e natureza morta.
 
 
"Sabará" - 1961 - Guignard
 
Com curadoria de Paulo Sergio Duarte, a exposição visa a revelar, de forma didática para todos os públicos, quem foi o pintor e desenhista conhecido pelas pinturas de paisagens e mostrar seu legado para a arte moderna brasileira.

Reconhecido por ser um artista completo por atuar em todos os gêneros da pintura (retrato, autorretrato, paisagem, natureza-morta, de gênero e temática religiosa) e, ainda, por tratar de dois ou mais gêneros na mesma tela, Guignard alcançou a fama por retratar paisagens mineiras, estado que viveu a partir da década de 1940. O curador Paulo Sérgio Duarte elege a originalidade como o principal aspecto da produção do artista, que utilizou o decorativo nas telas que deram formas às obras, além dos tetos, painéis, móveis e objetos que pintou.
 

 
"Dança de Roda" - 1959 - Guignard

Guignard provoca interesse especial em colecionadores e alcança altas cifras no mercado, comparado aos prestigiados Alfredo Volpi e Di Cavalcanti. Um exemplo que está presente na mostra à disposição dos visitantes do MAM, mas foi pouco visto pelo grande púbico, é o painel "Paisagem Imaginante", de 1959, um óleo sobre madeira de 160 x 186 cm, de coleção particular. “Os retratos de Guignard, junto com as paisagens, são capítulos privilegiados da obra do artista, que tem um lirismo único em nossa modernidade, ” afirma o curador.
 
 
"Paisagem Imaginante" - óleo s. madeira - 1959 - Alberto da Veiga Guignard

Para criar um diálogo com a produção de Guignard, Felipe Chaimovich, curador do MAM, selecionou 26 obras do acervo do museu, de diferentes artistas e variados suportes, para a mostra "Paisagem Opaca", que são exibidas na Sala Paulo Figueiredo, pelo mesmo período.


Sobre Alberto da Veiga Guignard


O artista nasceu na cidade de Nova Friburgo (RJ), em 1896, com lábio leporino, uma má formação congênita que o atormentou por toda a vida. Aos 10 anos, ficou órfão de pai e, com o novo casamento da mãe com o barão Friendrich von Schilgen, mudou-se para a Alemanha, o que permitiu formação artística nas academias de Belas Artes de Munique, na Alemanha, e de Florença, na Itália, onde se libertou da rigidez acadêmica e marcou a passagem para o modernismo.

Com a conclusão do aprendizado técnico, voltou para o Brasil em 1929 e deu início à série de trabalhos sobre o Jardim Botânico, onde montou um ateliê, no Rio de Janeiro. Guignard, tornou-se um importante nome da década, ao lado de
Cândido Portinari, Ismael Nery e Cícero Dias. Além de orientar um grupo em que participavam Iberê Camargo, Vera Mindlin e Alcides da Rocha Miranda; em 1944, recebeu um convite de Juscelino Kubitschek, então prefeito de Belo Horizonte, para instalar um curso de desenho e pintura no recém-criado Instituto de Belas Artes. Apaixonado pela cidade mineira mudou-se para lá e colaborou para a formação de importantes artistas que romperam com a linguagem acadêmica e consolidaram o modernismo nas artes visuais de Minas, onde viveu até a morte, em 1962.
 


"Jardim Botânico - 1937 - Guignard 

Sobre a Exposição "Memória Plástica do Brasil moderno"

Segundo o curador Paulo Sergio Duarte, a exposição no MAM é resultado de uma vasta pesquisa que resulta numa retrospectiva de conjunto de pinturas, desenhos e retratos de Guignard, feitos em diversos suportes como óleo sobre tela, madeira, cartão ou papelão; ponta-seca; carvão sobre papel; bico de pena; grafite sobre papel ou madeira; tinta bistre sobre papel; nanquim e aquarela sobre cartão; além de três fotomontagens.
 

 
"A Lagoa dos Cinquenta" -  1955 - Guignard

Os retratos, considerados por críticos como o gênero mais fértil do artista, formam a maior parte da produção e caracterizam-se pela simplificação das fisionomias já que Guignard não se prendia ao realismo fotográfico. As pinturas são de familiares, amigos, intelectuais, artistas e muitos autorretratos, em que ilustra o defeito congênito também em representações de Jesus Cristo.
 
 
"Auto-retrato" - 1952 - Guignard
 

 
"Cristo e Maria" - 1961 - Guignard

Outra característica desta área é o fundo das telas que não corresponde ao original e sim a uma invenção do artista como em "As Gêmeas" (1940), tela que retrata irmãs sentadas num sofá, tendo ao fundo a paisagem do bairro carioca de Laranjeiras. “Há muitos trabalhos do gênero que poderíamos abordar, mas os autorretratos, realizados repetidamente, apontam para o lábio leporino que, segundo biógrafos, interferiu decisivamente na existência do artista, particularmente, na vida amorosa”, explica o curador.
 
 
"As Gêmeas" - 1940 - Guignard

No gênero Paisagem, um dos mais reconhecidos do artista, estão em exibição obras famosas como os balões de gás no ar que remetem à infância do pintor. Encantado pela beleza das cidades históricas de Minas Gerais, como Ouro Preto, Sabará e Mariana, o artista realizou diversos quadros com as paisagens mineiras. “Nesta vertente percebe-se a ligação e a contribuição da pintura oriental, embora ele nunca tenha afirmado esta influência da pintura chinesa. É possível afirmar devido à falta de chão nas telas, pois o solo sempre desaparece e faz objetos como igrejas, casas, edificações e paisagens voarem como se fossem balões”, comenta Paulo Sérgio.
 
 
"Balões" - 1947 - Guignard

Na parte da natureza-morta, de número reduzido e com caráter fantástico, o artista tornou-se célebre ao pintar alegorias distantes do realismo e com uma paleta mais limpa do que costumava utilizar. Além das telas, nesta parte encontram-se as fotomontagens, os grafites, os trabalhos em ponta seca e em tinta bistre sobre papel. A especificidade do gênero fica por conta da representação de paisagens ao fundo, mistura que Guignard ousava a fazer: Os variados vasos de flores são pintados sempre à frente de montanhas, vales, rios e demais ambientações resultando numa obra que alcançou o respeito ao unir dois gêneros: natureza-morta e paisagem.
 
 
"Natureza morta" - 1933 - Guignard


Serviço


Exposição: "Guignard - a memória plástica do Brasil moderno"
 
Quando: Até 11/09 - de terça a domingo, das 10h às 18h.

Onde: Grande Sala do MAM - Parque do Ibirapuera, Portão 3 - Ibirapuera.

Quanto: R$ 6,00 - entrada gratuita aos domingos

 
 
 
 
 


 

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