A artista japonesa Yayoi Kusama em 2011
São Paulo recebe mostra da celebrada artista japonesa Yayoi Kusama
Depois de seu colapso nervoso na década de 1970 e da decisão de se internar em um hospital psiquiátrico no Japão, Yayoi Kusama "reencontrou sua voz" com a criação da instalação imersiva "I’m Here, But Nothing", de 2000, uma sala mobiliada que remete a um cômodo banal de uma casa que é tomado, sob luz negra, por bolinhas coloridas. "Ela demorou para retomar sua autoconfiança, a fazer arte", diz Frances Morris, curadora, ao lado de Philip Larratt-Smith, da mostra Yayoi Kusama - "Obsessão Infinita", que será inaugurada no Instituto Tomie Ohtake. De caráter retrospectivo, trata-se da maior exibição de obras da celebrada artista japonesa já realizada na América Latina.
No Rio, quando foi apresentada, ano passado, no Centro Cultural Banco do Brasil, a exposição atraiu 700 mil visitantes e depois seguiu para Brasília. Chega a São Paulo agora com expectativa de público e a presença de peças atraentes - e convidativas para "selfies" e fotos - como I’m Here, But Nothing e a instalação Infinity Mirrored Room (2011), feita de espelhos e lampadazinhas que vão mudando de cor. "São criações de uma canção similar, mas numa chave diferente, mais alegre", comenta Philip Larratt-Smith sobre esses trabalhos recentes de Yayoi Kusama, mas fazendo também menção ao universo poético - e complexo - da "princesa das bolinhas" (ou do "polka dot", como fala a curadora inglesa).
A artista Yayoi Kusama em uma das recriações originais de 'Infinity Mirror Room Phalli's Field' de 1965.
Entretanto, neste primeiro segmento de trabalhos pictóricos e gráficos reunidos ao lado desta tela, já aparecem as formas orgânicas que de um "olhar microscópico" se expandem para a escala macroscópica, fazendo, assim, com que as bolinhas se tornassem elemento identificável de obsessão ou uma marca de Kusama. Outra característica de suas criações são a presença de protuberâncias fálicas em suas peças dos anos 1960 (entre os destaques da mostra estão os sapatos fálicos da artista e o barco da instalação Caminhando no Mar da Morte) e das questões de repetição e acumulação.
Medos: "Artistas não costumam expressar seus complexos psicológicos diretamente, mas eu adoto meus complexos e medos como temas", já afirmou Yayoi Kusama e a frase está estampada no começo do catálogo da mostra "Obsessão Infinita". "A arte precisa de traumas", diz Frances Morris, curadora da Tate Modern e responsável também pela retrospectiva da artista apresentada entre 2011 e 2012 não apenas no museu londrino, como também no Reina Sofia, de Madri, no Centro Pompidou, de Paris, e no Whitney Museum, de Nova York, onde tive o prazer, de em 2012, visitar e apreciar suas grandiosas obras.
Yayoi Kusama, nascida na cidade de Matsumoto, Japão, em 1929, sentia-se sufocada pela tradição, pela situação de pobreza local no período pós-guerra e pela oposição de sua família à sua arte. "As cordas de suas primeiras pinturas são parte de sua resposta à destruição e desolação", define a curadora. Decidida a se tornar uma artista famosa, Yayoi Kusama se mudou em 1957 para a América - retornando a seu país natal apenas em 1973, por causa de sua doença mental.
Antes de chegar a Nova York, conta Frances Morris, a artista correspondeu-se com amigos da América. Entre eles, a pintora Georgia O’Keeffe, que lhe aconselhou "ser muito forte, pegar seus desenhos e levá-los, ela própria, aos marchands". Na década de 1960, ao trazer de uma maneira mais explícita suas neuroses e seus traumas para suas obras, Yayoi Kusama não apenas utilizou a arte como terapia como também realizou ações vanguardistas.
SERVIÇO
YAYOI KUSAMA
ONDE: Instituto Tomie Ohtake - Av. Faria Lima, 201, 2245-1900.
QUANDO: Até 27/07 - de terça a domingo - das 11h às 20h.
QUANTO: Entrada gratuita. Até 27/7.
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