Um quadro atribuído a Caravaggio e estimado em 100 milhões de euros foi encontrado em um sótão no sul da França. A pintura, que ainda não teve autenticidade comprovada, ficou mais de 150 anos em uma casa em Toulouse.
"Judite e Holofernes" de aproximadamente 400 anos, mostra o momento da decapitação de Holofernes, feita por Judite, a grande heroína bíblica, viúva, da cidade de Betúliao.
Segundo vários especialistas, trata-se de uma obra autêntica, apesar da dúvida expressada por alguns estudiosos.
"Esta iluminação especial, esta energia típica de Caravaggio, sem correções, com a mão segura, e as matérias pictóricas, fazem com que este quadro seja autêntico", declarou o especialista Eric Turquin, admitindo, no entanto, que ainda haverá controvérsia das análises.
Nicola Spinoza, ex-diretor do museu de Nápoles e um dos grandes especialistas mundiais em Caravaggio, concorda com Turquin.
"É preciso ver nesta tela um verdadeiro original do mestre lombardo, identificável quase com certeza, apesar de não termos prova tangível e irrefutável", assinala Spinoza.
Detalhe da obra no momento da decapitação.
A pintura foi descoberta no sótão de uma casa no sudoeste da França, devido a uma goteira no teto e está proibida de sair do país por parte das autoridades, à espera de uma análise mais precisa.
Se confirmada a autoria, o governo da França teria a primeira opção de compra.
Sobre a obra
A obra "Judite e Holofernes", é uma pintura a óleo sobre tela, produzida entre o ano de 1604 e 1605. Acredita-se que a pintura foi feita em Roma por Michelangelo Merisi (conhecido como Caravaggio), e está em um estado de conservação excepcionalmente bom, apesar de ter ficado esquecida no sótão durante, provavelmente, mais de 150 anos, provavelmente.
O quadro é de inspiração bíblica. A pintura amostra o general Holofernes decapitado por Judite, a mulher que o seduziu por uma noite. A obra provocava reações de horror e surpresa entre os visitantes, pois Caravaggio conseguiu dotar a obra de grande realismo e crueza. Judite mostra-se de pé, majestosa e impertérrita, enquanto a sua criada, que proporciona a espada, está nervosa e à espreita do que pudesse acontecer.
Judite, no detalhe da obra.
"Recebi encomenda de um quadro sobre o tema de Judite e Holofernes. Os meus predecessores representaram-no após, quando Judite apresenta a cabeça cortada num prato. Eu queria bem mostrar o ato em si. Uma prostituta minha conhecida posou para a Judite. Um ferreiro fez Holophernes. Para trabalhar na expressão da face fui ver muitas execuções públicas e observei muito bem as cabeças cortadas tombadas e guardei as expressões de terror". (Caravaggio)
Caravaggio, ao pintar a cena, não seguiu fielmente a versão bíblica. Dela diverge, quando traz a serva para perto de Judite, no momento exato do crime. Ao colocar as duas mulheres juntas, contrasta a força da juventude com as cicatrizes da velhice. Enquanto a pele da heroína é sedosa e brilhante, a da serva é enrugada e opaca.
Criada e Judite, detalhe da obra.
Acredita-se que a obra tenha desaparecido 100 anos depois de ter sido pintada e, pode valer 120 milhões de euros (137 milhões de dólares), afirmou o agente especializado em arte Eric Turquin, em comunicado à imprensa.
Sobre o artista
Caravaggio, cujo nome real era Michelangelo Merisi, teve uma vida caótica e violenta. Faleceu em circunstâncias estranhas aos 38 anos. Acredita-se que o artista estava a caminho de Roma para buscar perdão após ter passado os últimos anos de sua vida fugindo da Justiça no sul da Itália.
Italiano, foi pioneiro da técnica da pintura barroca conhecida como chiaroscuro (claro-escuro), caracterizada pelo forte contraste de luz e sombras.
O artista era conhecido por se envolver em brigas que frequentemente resultaram em sua prisão. Chegou, inclusive, a matar um homem.
A existência da obra era conhecida por uma cópia atribuída a Louis Finson, pintor flamengo contemporâneo de Caravaggio.
"Judite e Holofernes" - Caravaggio
Sabe-se através de uma carta do pintor Frans Pourbus (o Jovem), escrita em 1607, em Nápoles, que uma segunda versão existia, aparentemente datada de 1604-1605 e pintada em Roma ou Nápoles. Pourbus foi enviado pelo primeiro duque de Mantoue, Vicente de Gonzaga, para encontrar algumas pinturas para a sua coleção. Ele contou ao duque que dois quadros de Caravaggio estavam disponíveis no estúdio do pintor e comerciante flamengo Louis Finson, que vivia em Nápoles: "Eu vi aqui duas pinturas de Michelangelo de Caravaggio: a primeira representa um rosário, destinada a um retábulo ... a outra é uma pintura de tamanho médio, apropriada para uma câmara de leito, representando Judith e Holopherne. Eles não vão vendê-la a você por menos de 300 ducados " (Original no Archivio del Stato di Mantova; Archivi Gonzaga Esterni).
Essa outra versão de "Judite e Holofernes", também havia desaparecido até ser reencontrada na década de 1950. Atualmente, encontra-se exposta na Galeria Nacional de Arte Antiga de Roma, na Itália.
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