Matisse no Hotel Regina, em Nice - 1952
The Cut-Outs - Os recortes
Os recortes foram criados em fases distintas. Com a ajuda de seus assistentes, Matisse pintou o papel com a guache para depois cortar formas e fazer uma composição. Nas composições menores o artista trabalhou diretamente em uma placa com pinos e para as composições maiores Matisse orientou seus assistentes de estúdio para organizá-las na parede de seu ateliê. Posteriormente, os cut-outs foram montados de forma permanente, tanto no estúdio como em Paris por montadores profissionais.
As cores nos recortes de Matisse foram produzidas usando a guache opaca, de secagem rápida e à base de água, composta de pigmentos, aglutinantes, e muitas vezes um pigmento branco para aumentar a opacidade. Dessa forma Matisse adquiriu uma ampla gama de cores. Seus assistentes cortavam folhas retangulares de papel de grandes rolos. A guache, diluída com água, era aplicada no papel e depois penderados para secar. Alguns pedaços tiveram uma aplicação mais densa onde as pinceladas se tornam mais visíveis.
Periquito e a Sereia - Matisse no Hotel Regina, em Nice.
O Corte
Quando Matisse estava trabalhando em um projeto específico, primeiro espalhava os papéis coloridos no chão do seu estúdio para depois fazer a composição da obra. Ele cortava as folhas fazendo formas e deixando o restante jogado no chão, na maioria das vezes seus cortes eram suaves e contínuos. Embora Matisse tenha sido filmado usando tesoura grande, um exame aprofundado dos seus recortes mostram que ele usava uma grande variedade de tamanhos. As estrelas que aparecem em muitas de suas obras, foram cortadas a partir de muitas formas menores, que foram montadas para criar a forma final desejada. Em alguns casos, as formas se sobrepõem, em outras, grandes formas foram cobertas por outras formas. O objetivo final do artista não era o contorno das formas e sim a estrutura em camadas.
Fixando
Matisse usou pinos, tachinhas e garras finas para garantir a fixação dos suportes das obras cut-outs, para os pequenos formatos o artista trabalhava sentado em uma cadeira ou na cama com a placa apoiada em suas pernas. Conforme as composições foram crescendo de tamanho, as paredes do estúdio se tornaram os suportes para os recortes fixados com martelo por sua assistente, seguindo as orientações do artista. Este método permitiu a fixação rápida e fácil e os recortes poderiam ser alterados e remodelados sem dificuldades. Os inúmeros furos que permanecem nos recortes atestam estas montagens iniciais e seus reposicionamentos.
Montagem
Até 1950-51 as obras de Matisse foram de dimensões modestas e montadas em seu próprio estúdio por seus assistente sob a sua orientação. As obras vendidas antes desta data foram montadas com uma técnica chamada "colagem por pontos", as formas de corte foram fixadas no papel com pequenas pinceladas de cola. A técnica permitiu que as obras fossem moldadas e transportadas mantendo a mesma vivacidade tridimensional que tinham quando fixada a uma placa ou na parede.
Em 1952 Matisse foi contratado pela empresa de artigos de arte e restauração parisiense de Lucien Lefebvre-Foinet através de Marc Chagall. Esta empresa adaptou um processo de pintura tradicional para as necessidades específicas de montagem das obras de Matisse. A maior preocupação do artista era com a preservação a longo prazo de seus recortes. A vantagem desta técnica, o cut-outs, era que, mesmo montadas em grandes dimensões, poderiam ser armazenadas com segurança, emolduradas, e transportadas. Como as pinturas a guache poderiam sofrer danos com qualquer contato físico, Matisse queria suas obras protegidas com vidro. O inconveniente deste processo foi que os recortes perderam a dimensionalidade que tinham quando preso às paredes do estúdio. A idéia de que obras em papel poderiam permanecer em perfeito estado durante um longo tempo não era concebível no momento da criação das cut-outs.
Estabilidade e Deterioração
Atualmente ,quando um espectador está à frente de um cut-out de Matisse, ele pode perceber que determinadas cores se mantiveram intactas enquanto outras sofreram agressões da luz devido às suas composições. Na cor de laranja, por exemplo, existe uma boa estabilidade. Matisse tinha consciencia de que algumas cores eram instáveis. Chegou a presenciar as cores rosa e violeta desaparecerem de alguns recortes em seu próprio estúdio.
Jinx de Poésies - 1930–32 - Água-forte - The Museum of Modern Art, New York.
O Colar - 1950 - Tinta sobre papel - Museu de Arte Moderna de Nova York.
Cor e Linha
Ao longo de sua carreira, Matisse procurou uma forma de unir os elementos, formas de cores e linhas. Por um lado, ele era conhecido como colorista mestre e sua paleta de cores lhe valeu o título de uma "fera" ou "fauve". Na primeira década do século XX ocorreu o chamado "período de Nice". Na década de 1920, o artista seguiu um curso que descreveu como "a construção por meio de cor". Por outro lado, ele era um desenhista mestre, célebre pelos desenhos e gravuras que descreviam figuras em arabescos fluindo linhas. "Meu desenho é a tradução mais pura e direta da minha emoção", disse ele certa vez. Através dos recortes, ele finalmente foi capaz de unir estes dois segmentos de sua prática. Matisse descreveu o seu processo como "corte na cor" e "desenho com tesoura".
A Dança - 1932–33 - Óleo sobre tela.
Anos antes de Matisse desenvolver o cut-outs como um meio independente, ele empregou a técnica para realizar trabalhos em outras mídias. Já em 1919, ele cortou papel na composição para a decoração para um ballet, Le Chant de Rossignol. Ao compor o mural A Dança, encomendado pelo Dr. Albert Barnes, no início dos anos 1930, ele descobriu que revestir grandes áreas com folhas de papel pintadas lhe permitiua fazer mudanças de forma mais rápidas e eficientes. Em 1937-38, ele cortou e colocou papel pintado para projetar uma segunda produção de dança, Rouge et noir. E em 1940-41, ele usou a mesma técnica para resolver a composição de mais duas pinturas. O cut-out foi desenvolvido em segredo.
Muito antes dos recortes espalhados por paredes, Matisse sonhava em criar obras em grande escala. Em 1942, comentou com o escritor Louis Aragon que ele tinha "uma crença inconsciente em uma vida futura ... algum paraíso onde iria pintar afrescos." Em 1947 reconheceu a influência da arte islâmica que, segundo ele, "sugere um maior espaço, um espaço verdadeiramente plástico". Inventou o cut-out que lhe permitiu cumprir essa ambição de fazer decorações monumentais que transcenderam os limites da pintura de cavalete.
gostaria de saber que tipo de papel ele usava / gramatura / tamanho etc e a tinta gouache era em pasta ou liquida???
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