
José Pancetti
Mostra no Afro Brasil exibe início do modernismo na Bahia
Na tela de José Pancetti, o escritor e colecionador Odorico Tavares aparece retratado com óculos de aros vermelhos e uma camisa dividida em campos de cor amarelos e alaranjados, demarcados com certa rigidez geométrica.
Num claro contraste, Tavares, que morreu em 1980, descreveu o artista como "romântico inveterado", de "alma chapliniana de desajustado e de amoroso, latino nos exacerbamentos, muitas vezes violento nos amores".
Violentas ou não, as relações de Tavares com artistas que conheceu --e aos quais chegou a dedicar um livro de poemas-- estão por trás da coleção que ele construiu.
Um grande recorte de obras de Pancetti, Candido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti e estrangeiros como Pablo Picasso e Joan Miró, todos na coleção de Tavares, está agora no Museu Afro Brasil.
Num claro contraste, Tavares, que morreu em 1980, descreveu o artista como "romântico inveterado", de "alma chapliniana de desajustado e de amoroso, latino nos exacerbamentos, muitas vezes violento nos amores".
Violentas ou não, as relações de Tavares com artistas que conheceu --e aos quais chegou a dedicar um livro de poemas-- estão por trás da coleção que ele construiu.
Um grande recorte de obras de Pancetti, Candido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti e estrangeiros como Pablo Picasso e Joan Miró, todos na coleção de Tavares, está agora no Museu Afro Brasil.

Entre os anos 1940 e 1960, Tavares, pernambucano que foi a Salvador dirigir os Diários Associados a convite de Assis Chateaubriand, colecionou os maiores nomes da arte moderna que se firmava no Brasil, além de fomentar uma revolução plástica na Bahia.
Di Cavalcanti
Cais - Antônio Bandeira - 1959 - obra que está na mostra
Também na escultura há certa ressonância entre as obras em ferro forjado de Mário Cravo Júnior e Francisco Stockinger, que junta metal e madeira na figura de uma mulher híbrida, seu corpo feito de texturas contrastantes.

Miró
Sobre a coleção
A qualidade da coleção de Odorico Tavares e a paixão a que a ela devotava fez com que ele encomendasse ao arquiteto Diógenes Rebouças o projeto de uma casa para abrigá-la. Esse belo projeto, implantado na escarpa do morro Ipiranga, num bairro litorâneo de Salvador, possuía uma galeria ao rés-do-chão da rua de entrada e um grande salão que se desenvolvia em um plano inferior, acompanhando a topografia do terreno. “Dessa forma, esses planos diferenciados criavam um cenário magnífico para abrigar a coleção de arte barroca, a imaginária brasileira e o mobiliário dos séculos XVIII e XIX, bem como a galeria do mezanino e a do salão de baixo, com a coleção de arte moderna, de onde se tinha uma visão panorâmica da casa", descreve Emanoel Araujo.
Serviço
Exposição "Modernidade - Coleção de Arte Brasileira Odorico Tavares".
Onde:
Museu Afro Brasil - Av. Pedro Álvares Cabral, s/n - Parque Ibirapuera - Portão 10
Tel. 3320-8900
Quando: de terça a domingo, das 10h às 17h
Quanto: Gratis

Di Cavalcanti
Ele esteve por trás da formação do Museu de Arte Moderna em Salvador e lançou figuras como Pierre Verger, que fotografou suas reportagens na revista O Cruzeiro.
"Seu olhar sempre foi a modernidade", diz Emanoel Araújo, diretor do Afro Brasil e curador da mostra. "A arte na Bahia ainda era acadêmica, e ele criou essa ruptura" figurativo e abstrato.
Telas como Endomingada e Menina com Flores, de Portinari, dividem espaço com paisagens de Alfredo Volpi e retratos de Pancetti. Mas também estão lá, marcando a travessia do figurativo para a abstração, trabalhos de Antônio Bandeira, Manabu Mabe e Flávio Shiró.
Telas como Endomingada e Menina com Flores, de Portinari, dividem espaço com paisagens de Alfredo Volpi e retratos de Pancetti. Mas também estão lá, marcando a travessia do figurativo para a abstração, trabalhos de Antônio Bandeira, Manabu Mabe e Flávio Shiró.
Lado a lado, Cais, de Bandeira, em que Tavares enxergou as cores do Ceará misturadas às de Paris, e Tropical, de Shiró, causam certa reverberação no espaço, com traços e gestos que parecem ecoar de uma para a outra.

Cais - Antônio Bandeira - 1959 - obra que está na mostra
Também na escultura há certa ressonância entre as obras em ferro forjado de Mário Cravo Júnior e Francisco Stockinger, que junta metal e madeira na figura de uma mulher híbrida, seu corpo feito de texturas contrastantes.

S/T - mista - sd - Mário Cravo Júnior
Essa mesma aspereza metálica ressurge nas vistas baianas de Poty Lazarotto, que gravou em metal as paisagens de Salvador, como os veleiros atracados na enseada e a topografia acidentada dos telhados do casario.
Mais exuberantes, as gravuras de Miró renunciam à realidade e se ancoram numa iconografia única, a imaginação do artista a serviço da criação de um novo mundo mergulhado em azul e povoado por criaturas insólitas.

Miró
Sobre Odorico Tavares
Nascido em Timbaúba (PE), Odorico passou a juventude em Recife e, em 1942, mudou-se para Salvador por motivos políticos, quando atuava como secretário do jornal Diário de Pernambuco. Na trincheira jornalística, afinou-se com a oposição aos representantes locais da ditadura do Estado Novo, integrado à militância de esquerda e às ideias de Gilberto Freyre. Seu universo de amigos incluía Álvaro Lins, Aníbal Fernandes, Freyre, Joaquim Cardozo, Mauro Mota, Odilon Ribeiro Coutinho e João Cabral de Melo Neto, entre outros.
Em 1934, editou a revista literária Momento, aproximando-se de escritores como: Manuel Bandeira, Mario de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Gilberto Amado, José Lins do Rego, Jorge Amado e Lúcio Cardoso. Escrito em parceria com Jurema, 26 poemas marcou sua estreia na poesia. Em 1939, lançou A sombra do mundo, mas, a partir da segunda metade da década de 40, deu ênfase ao trabalho de jornalista, realizando históricas reportagens para a revista O Cruzeiro. À frente do Diário de Notícias, em Salvador, manteve a coluna Rosa dos Ventos e criou um suplemento cultural de vanguarda, no qual os jovens Glauber Rocha, Paulo Gil Soares e Caetano Veloso publicaram críticas.
Cúmplice das aventuras culturais de Assis Chateaubriand, o magnata dos Associados, Odorico Tavares assumiu um relevante papel na divulgação dos artistas nordestinos. Como estimulador e colaborador, contribuiu para a criação do Museu de Arte Moderna (MAM) da Bahia e dos museus regionais de Feira de Santana (BA) e Olinda (PE). Em artigos e reportagens deu respaldo aos artistas do Modernismo e das gerações dos anos 40, 50 e 60, realçando, em especial, o valor estético dos quadros de Pancetti. Fez históricos perfis do amigo Dorival Caymmi, do cordelista Cuíca de Santo Amaro e de outros personagens míticos da Bahia, sem se esquecer do maracatu, do frevo e da religiosidade de sua terra de origem.
Em 1934, editou a revista literária Momento, aproximando-se de escritores como: Manuel Bandeira, Mario de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Gilberto Amado, José Lins do Rego, Jorge Amado e Lúcio Cardoso. Escrito em parceria com Jurema, 26 poemas marcou sua estreia na poesia. Em 1939, lançou A sombra do mundo, mas, a partir da segunda metade da década de 40, deu ênfase ao trabalho de jornalista, realizando históricas reportagens para a revista O Cruzeiro. À frente do Diário de Notícias, em Salvador, manteve a coluna Rosa dos Ventos e criou um suplemento cultural de vanguarda, no qual os jovens Glauber Rocha, Paulo Gil Soares e Caetano Veloso publicaram críticas.
Cúmplice das aventuras culturais de Assis Chateaubriand, o magnata dos Associados, Odorico Tavares assumiu um relevante papel na divulgação dos artistas nordestinos. Como estimulador e colaborador, contribuiu para a criação do Museu de Arte Moderna (MAM) da Bahia e dos museus regionais de Feira de Santana (BA) e Olinda (PE). Em artigos e reportagens deu respaldo aos artistas do Modernismo e das gerações dos anos 40, 50 e 60, realçando, em especial, o valor estético dos quadros de Pancetti. Fez históricos perfis do amigo Dorival Caymmi, do cordelista Cuíca de Santo Amaro e de outros personagens míticos da Bahia, sem se esquecer do maracatu, do frevo e da religiosidade de sua terra de origem.
Sobre a coleção
A qualidade da coleção de Odorico Tavares e a paixão a que a ela devotava fez com que ele encomendasse ao arquiteto Diógenes Rebouças o projeto de uma casa para abrigá-la. Esse belo projeto, implantado na escarpa do morro Ipiranga, num bairro litorâneo de Salvador, possuía uma galeria ao rés-do-chão da rua de entrada e um grande salão que se desenvolvia em um plano inferior, acompanhando a topografia do terreno. “Dessa forma, esses planos diferenciados criavam um cenário magnífico para abrigar a coleção de arte barroca, a imaginária brasileira e o mobiliário dos séculos XVIII e XIX, bem como a galeria do mezanino e a do salão de baixo, com a coleção de arte moderna, de onde se tinha uma visão panorâmica da casa", descreve Emanoel Araujo.
Serviço
Exposição "Modernidade - Coleção de Arte Brasileira Odorico Tavares".
Onde:
Tel. 3320-8900
Quando: de terça a domingo, das 10h às 17h
Quanto: Gratis
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